Olavo sustentou bolsonarismo e deixou debate político raso, dizem analistas
Importante para o bolsonarismo, mas não fundamental. A influência de Olavo de Carvalho era apenas um dos pontos de sustentação, o "braço ideológico" da base do presidente Jair Bolsonaro (PL), na análise de especialistas em política consultados pelo UOL. Mas esse era o ponto de sustentação mais forte para o bolsonarismo.
"A lógica do bolsonarismo é como se fosse uma ideologia guarda-chuva", diz Bhreno Vieira, cientista político da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco). "E o olavismo consegue adentrar nesse guarda-chuva como uma ala mais radical, que não tem interesse de pautar questões econômicas, de assuntos do cotidiano do governo. Mas tem interesse de pautar o foco cultural."
Carvalho morreu, nos Estados Unidos, aos 74 anos de idade, na segunda-feira (24). Sua morte foi lamentada por Bolsonaro e seus filhos. Para o presidente, ele era um "farol".
Desqualificando críticos
Agora sem um porta-voz direto do olavismo —que se baseava em teses sobre globalismo e comunismo —,a filosofia desse grupo deve permanecer por algum tempo, principalmente com a tática de desqualificar os críticos, sem entrar no debate a respeito da discordância.
"Ele tem uma característica de, em todo debate, não atacar as ideias, mas a pessoa que está falando delas", diz Vieira. "A gente não conseguia observar um debate mais profundo. Era raso. E é isso que ficou a tônica da política."
Contornos para o bolsonarismo
Carvalho é um dos representantes da "nova direita", mais radical, que surgiu "muito antes da ascensão do bolsonarismo como fenômeno político", diz a cientista política Camila Rocha, autora de "Menos Marx mais Mises - O liberalismo e a nova direita no Brasil". "Ele foi uma figura central justamente na popularização do Bolsonaro."
Para ela, antes da ligação entre Carvalho e a família Bolsonaro, no começo da década de 2010, os posicionamentos do presidente da República representavam mais o "senso comum da ala mais extremista do Exército". "A influência do Olavo foi em dar esses contornos ideológicos, numa reação ao progressismo."
Voz nas redes
Especialista em política e comunicação, Camilo Aggio diz que Carvalho ganhou "uma expressão relevante como ideólogo justamente pelo modo como ele compreendeu que as redes digitais poderiam servir aos seus propósitos".
"Dificilmente ele teria conseguido sucesso em construir esse movimento, e até alçado Bolsonaro à Presidência, sem o poder da própria militância digital", complementa o professor e pesquisador da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).
Existia uma demanda pelo discurso imoderado dentro da direita. Bolsonaro é uma expressão disso. Havia espaço para que o discurso radical pudesse ser explorado por articulistas, militantes"
Camilo Aggio, professor da UFMG
Conexão contra PT
Bolsonaro, em 2018, personificou o antipetismo, o que ajudou a incluir, em um mesmo guarda-chuva, olavistas, empresários, militares, liberais e pessoas descontentes com os governos do PT. "Eles acabam ficando todos unidos no mesmo projeto", diz Rocha.
E a influência de Carvalho em áreas como educação e relações exteriores, que foram comandadas por seus discípulos no governo Bolsonaro, não foi à toa, na opinião dos especialistas.
Rocha lembra que, com indicações como Abraham Weintraub e Ernesto Araújo, Carvalho contribuiu com quadros para o bolsonarismo, que sempre se centrou mais na família do presidente. "O olavismo era a intelectualidade do bolsonarismo."
Para Aggio, "o bolsonarismo até existiria sem Olavo de Carvalho". "Mas acho que ele não seria o que é hoje, que ele ganhasse a expressão ideológica e política que ganhou", em uma análise que fica principalmente no poder que Carvalho pôde construir por meio das plataformas digitais.
Olavo x Bolsonaro
Nos últimos tempos, Carvalho fazia mais críticas ao governo Bolsonaro, principalmente após seus discípulos perderem o comando de ministérios. "Ele tecia críticas e os seguidores mais fiéis desse círculo reforçavam", diz Vieira, que vê um "baque" agora para o grupo de Carvalho.
Sem o líder do olavismo, algumas tensões e disputas deixam de ter um porta-voz, como sobre as relações do Brasil com a China, importantes para o setor econômico, mas criticadas pela área ideológica.
"Você não vai ter mais uma figura da envergadura do Olavo falando contra. Bolsonaro agora tem muito menos dificuldade para se apropriar desse legado ideológico-intelectual do Olavo como ele bem entender", diz Rocha.
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