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Comunismo virar crime seria admitir que fui criminoso, diz Roberto Freire

Colaboração para o UOL, em São Paulo

10/02/2022 12h52Atualizada em 10/02/2022 13h42

Presidente nacional do Cidadania e ex-militante do PCB (Partido Comunista Brasileiro), Roberto Freire afirmou que uma eventual criminalização do comunismo faria com que ele próprio admitisse que foi um criminoso. A fala aconteceu em repercussão ao caso do podcaster Monark e do ex-BBB e comentarista político Adrilles Jorge, ambos envolvidos em polêmicas relacionadas ao nazismo nesta semana.

"[Comunismo virar crime] seria eu admitir que fui criminoso. Até porque tenho muita honra em ter sido militante do Partido Comunista Brasileiro, que inclusive lutou contra Bolsonaro, defensor de torturador e que também atenta contra a dignidade humana", disse Freire, durante participação no UOL Entrevista, atração conduzida pela apresentadora Fabíola Cidral e os colunistas do UOL Tales Faria e Josias de Souza.

Em nota de repúdio ao nazismo, o presidente Jair Bolsonaro (PL) citou o comunismo ao afirmar que "outras organizações que dizimaram milhões de inocentes ao redor do mundo" também precisam ser combatidas.

A manifestação do presidente aconteceu um dia depois de o procurador-geral da República, Augusto Aras, determinar a abertura de inquérito para apurar suposta prática de crime de apologia ao nazismo pelo deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP) e pelo influenciador digital Monark, ex-integrante do Flow Podcast.

Roberto Freire rechaçou o posicionamento do presidente da República, que equiparou nazismo e comunismo.

Não temos que discutir na História quem matou mais ou menos. Temos que condenar todos aqueles que foram déspotas, promoveram morticínio e foram para a guerra.
Roberto Freire, presidente nacional do Cidadania

"A discussão é equivocada, porque o nazismo surge com a ideia de barbárie, de se contrapor às etnias, a determinados grupos minoritários, à humanidade", argumentou. "Esse é o crime. O comunismo derrotou o fascismo, junto com os Aliados. Derrotou-o por causa dos campos de concentração, do Holocausto."

"Comunismo cometeu crimes, assim como a Igreja"

Ontem, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) publicou no Twitter um projeto de lei de sua autoria que propõe, entre outras providências, criminalizar a apologia ao comunismo, equiparando-a à apologia ao nazismo.

Para Freire, a ideologia comunista prega uma sociedade fraterna e mais igual e, em sua doutrina, não é contra a humanidade —e essa é a sua principal diferença com o nazismo.

[O comunismo] pode ter cometido e cometeu crimes, assim como a Igreja cometeu... E vai se punir a Igreja por isso? É a mesma coisa de uma ideologia que não prega mortes, que não é contra a humanidade. Não pode ser condenado.

Por esse motivo, o presidente do Cidadania defende que Kim Kataguiri não seja punido pela Câmara por suas falas no Flow Podcast.

[Kim Kataguiri] quis bancar, o que acontece muito hoje, o 'liberaloide', de achar que uma ideologia que é fundamentada na ideia contra a humanidade [pode ser defendida]. Nesse sentido, ele cometeu um grave erro.

"Mas não acredito que ele seja e tenha qualquer visão [nazista], não demonstrou pelo menos no seu mandato, ser defensor de uma ideologia dessas. Não deve ser condenado, mas não deve ser permitido que faça proselitismo", completou.

Apesar de ser favorável à ideologia comunista, Roberto Freire disse que não apoia mais o sistema e nunca defendeu os crimes cometidos nesses regimes.

"Ao contrário, condenei e o Partido Comunista também. A minha diferença básica com Bolsonaro é que eu defendo a democracia, coisa que ele não sabe o que é e sempre foi contra."

"Federação é discutida com partidos, não pré-candidatos"

Com a decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) que permite a formação e o registro das federações partidárias até 31 de maio, o Cidadania adiou as conversas com os partidos interessados. No momento, Roberto Freire disse que o PSDB é quem está mais avançado nas negociações.

"Isso ainda vai ser decidido pelo diretório nacional. Nós estávamos em uma marcha acelerada para cumprir o prazo que havia sido determinado, mas agora foi concedido um prazo maior e vai haver uma diminuição da caminhada sobre isso", afirmou, acrescentando que a prorrogação deve aprofundar discussões e incluir até "novos atores".

Além do PSDB, o Podemos e o PDT também estão sendo sondados para a construção de uma federação com o Cidadania, afirmou Freire.

"O partido iria decidir isso no dia 15 agora, mas com esse tempo prorrogado vamos, talvez, suspender qualquer decisão e caminhar um pouco mais na discussão para que a decisão possa ser mais bem instrumentada", disse.

E frisou: "Nós não estamos discutindo federação em torno de candidatos porque todos os partidos envolvidos têm pré-candidatos. Estamos discutindo com partidos. Esse dado é interessante porque isso é mais significativo do que a escolha de candidatos."

Cidadania não descarta apoio a Lula

Questionado sobre a possibilidade de apoiar Lula num eventual segundo turno, Roberto Freire respondeu contrariado que essa discussão só favorece o petista. Porém, se for para derrotar Bolsonaro, o Cidadania não descarta a opção.

"É uma discussão que Lula acha ótimo porque é como se todo mundo tivesse reconhecendo que ele vai ganhar a eleição ou vai pro segundo turno, e não acho que isso seja verdadeiro. É muito mais fácil derrotar Bolsonaro com um candidato de centro ou centro-esquerda que tenha a capacidade de agregar toda a oposição a Bolsonaro", avaliou.

"Alguém falou 'Bolsonaro é inaceitável, Lula é indesejado'. Se eu disser isso, estou dizendo que, se por ventura tivermos um desenlace, que não acho positivo para o país, mas se tivermos que derrotarmos o fascismo, nós vamos derrotá-lo. Só isso."