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Ricardo Salles posta fake news sobre Bolsonaro e 3ª Guerra; CNN rebate

A CNN Brasil classificou a postagem de Salles como "fake news" - Reprodução/CNN Brasil
A CNN Brasil classificou a postagem de Salles como 'fake news' Imagem: Reprodução/CNN Brasil

Do UOL, em São Paulo*

15/02/2022 12h32Atualizada em 15/02/2022 14h37

O ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles postou uma fake news na manhã de hoje em seu perfil do Instagram. A postagem afirmava que o presidente, Jair Bolsonaro (PL), que desembarcou hoje na Rússia, teria "evitado a terceira Guerra Mundial" ao ter supostamente exercido influência na retirada de soldados russos da fronteira com a Ucrânia, movimento que atenuou a tensão entre os dois países.

A CNN Brasil, que teve sua logomarca exposta na publicação de Salles, divulgou um texto negando que tenha publicado uma reportagem de que o "presidente Bolsonaro evitou guerra" e declarou que a publicação do ex-ministro é "fake" e com "frase mentirosa".

A imagem compartilhada pelo ex-ministro mostra Bolsonaro cumprimentando Putin, e exibe o símbolo da rede de televisão CNN. A foto é um registro de junho de 2019, quando o presidente brasileiro se encontrou com o líder russo durante um evento da cúpula do G20 em Osaka, no Japão.

"Putin sinaliza recuo na Ucrânia, presidente Bolsonaro evita a 3ª guerra mundial", afirma o texto falso na publicação.

Após a repercussão da notícia falsa, a CNN Brasil se pronunciou em seu site sobre a afirmação enganosa e classificou a publicação como "frase mentirosa".

Na postagem fake, a frase mentirosa entra como suposta causa do recuo do presidente da Rússia, Vladimir Putin, para invasão da Ucrânia. A sinalização de Putin tem sido veiculada pela CNN desde ontem.

A imagem publicada por Salles foi compartilhada por grupos bolsonaristas. Mais cedo, o presidente Bolsonaro publicou uma imagem em que a CNN Brasil informa o recuo de Putin. Na mesma postagem, o presidente informou que já estava no espaço aéreo russo, mas não fez qualquer menção à frase mentirosa publicada por Salles", explicou a emissora.
CNN Brasil sobre a publicação enganosa de Ricardo Salles

Depois da resposta da CNN Brasil, o ex-ministro de Bolsonaro foi até as redes sociais novamente e escreveu no Twitter: "Kkk vcs são ridículos", dando a entender que a postagem teria sido uma "brincadeira". Com a mensagem, Salles compartilhou um tuíte da emissora negando a publicação postada por ele anteriormente.

No Instagram, Salles também riu da postagem da emissora e escreveu: "Kkkk #nobelnaro".

O ex-ministro também compartilhou uma montagem que simula o presidente na capa da revista americana "Time". A manchete da edição falsa atribui a Bolsonaro o "Prêmio Nobel da Paz de 2022" por seu "papel fundamental na crise entre Rússia e Ucrânia", além de descrever o mandatário como "o homem que poderá definir o futuro do planeta".

Na postagem, Salles não sinalizou que se trata de uma montagem. "Parabéns, presidente", ele se limitou a escrever.

Repercussão

Muitos internautas, ministros e apoiadores do governo Bolsonaro estão repercutindo a publicação de Salles e a hashtag "#BolsonaroEvitouAGuerra" alcançou o 1º lugar entre os trends do Twitter às 11h55 (horário de Brasília).

O ministro do Turismo, Gilson Machado, também compartilhou imagens que sugerem um "papel fundamental" de Bolsonaro na crise entre a Rússia e a Ucrânia. "O maior líder conservador do planeta", escreveu ele no Twitter.

Mesmo com parte das postagens feitas em tom de brincadeira, elas exploram uma publicação do próprio presidente. Mais cedo, ao adentrar o espaço aéreo russo, Bolsonaro deu destaque à notícia da retirada das tropas, mesmo tendo sido aconselhado pelo Itamaraty a não tocar nesse assunto durante a viagem, como mostrou o jornal O Estado de S.Paulo.

Entre as pessoas que se manifestaram sobre a fake news estão o senador Humberto Costa (PT-PE). Ele afirmou que é "muita falta de caráter fazer piada sobre um tema tão delicado".

Enquanto alguns internautas fizeram piadas com a suposta ajuda de Bolsonaro para diminuir a tensão sobre os países, seus apoiadores seguiram compartilhando a postagem enganosa como se fosse verdadeira.

"Acabei de receber essa imagem no zap. Parece real", diz um perfil que usou uma imagem de Bolsonaro comendo farofa em um vídeo que circulou nos últimos dias.

"Nosso presidente é o cara, destemido, viajou para o local onde uma guerra poderia se iniciar a qualquer momento e o que ele faz?"

'Delírio como método', diz pesquisadora

A pesquisadora Michele Prado, autora do livro "Tempestade Ideológica: a alt-right e o populismo iliberal no Brasil", avalia que os bolsonaristas com influência nas redes aproveitam a situação para fortalecer a mobilização do público em torno do mandatário. Ela ressalta que a imagem do presidente entre seus apoiadores é envolta de "mitificação e messianismo", elementos que esse tipo de publicação tenta reforçar.

"Vão tentar usar a viagem para elevar Bolsonaro a uma espécie de salvador, algo que é recorrente", afirma a escritora.

Michele classifica as postagens como uma tentativa de emplacar o que ela chama de contranarrativa — uma disposição dos fatos alheia à realidade. "O bolsonarismo tem muitas redes alternativas de influência. Eles se valem de um fato importante para forjar as narrativas que mais vão mobilizar o seu público, muitas vezes de forma extremista".

A estudiosa acrescenta que essa situação pode resultar na ampliação do "limite de aceitação do absurdo" dos bolsonaristas, levando à perda do senso crítico individual. "É o delírio como método. Quando recebem essas publicações (no Telegram, WhatsApp e outras redes sociais), acham que é verdadeiro. No futuro, vão acreditar em algo ainda mais absurdo e fora da realidade", diz a pesquisadora.

O próprio ministro Walter Braga Netto, que acompanha o chefe do Executivo na viagem, afirmou nesta terça-feira que a Ucrânia não está na pauta da reunião do presidente com o ministro da Defesa da Rússia. Segundo ele, serão tratados temas que envolvem transferência de tecnologia.

*Com Estadão Conteúdo