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Governador afastado do Tocantins renuncia durante processo de impeachment

Mauro Carlesse por seis meses do Governo do Tocantins - Reprodução/Facebook Mauro Carlesse
Mauro Carlesse por seis meses do Governo do Tocantins Imagem: Reprodução/Facebook Mauro Carlesse

Do UOL, em São Paulo

11/03/2022 17h36

O governador afastado do Tocantins, Mauro Carlesse (PSL-TO), anunciou hoje a sua renúncia ao cargo, poucas horas antes do segundo turno de votação realizada por deputados estaduais para prosseguimento ao processo de impeachment. O pedido foi protocolado na Assembleia Legislativa de Tocantins. Carlesse é suspeito de cometer atos de corrupção.

Em vídeo, publicado em seu perfil nas redes sociais, o agora ex-governador criticou adversários políticos, negou atos ilícitos e disse que está se retirando por ter chegado ao seu limite. (Assista ao vídeo abaixo)

Eu quero dizer aos senhores: quando eu fui eleito em 2018, eu enfrentei todos esses adversários, todos eles, essa 'velha guarda', ganhei nas fotos, mas eles não se contentaram com o trabalho que eu fiz dentro do estado. Melhoramos a saúde, educação, segurança pública, melhoramos a credibilidade do estado, mas, mesmo assim, para eles, isso era ruim, porque quanto 'pior o estado, melhor'. Mauro Carlesse, nas redes sociais

"De qualquer forma, para mim, eu cheguei ao meu limite... é insuportável o ser humano aguentar tanta mentira, tanta bagunça como eles estão fazendo na minha vida. Eu estou me retirando do governo para que eles continuem esse governo e o estado não se prejudique", acrescentou, em seguida.

Em outubro, o STJ (Superior Tribunal de Justiça) já havia determinado o afastado do governador por um período de seis meses em razão de uma suposta obstrução de investigações sobre um suposto caso de corrupção no Plansaúde (Plano de Saúde dos Servidores do Estado do Tocantins).

O governador afastado também foi alvo de cumprimentos de mandados de busca e apreensão de duas operações deflagradas hoje pela PF (Polícia Federal). De acordo com o STJ e a PF, as ações visam desarticular o grupo suspeito de obstruir as investigações.

Carlesse nasceu em Terra Boa, município a cerca de 75 km de Maringá (PR) e a 465 km de Curitiba, mas se firmou como empresário e político em Gurupi, no interior do Tocantins e a cerca de 210 km de Palmas.

No início da década, ele assumiu o comando da presidência do Sindicato Rural de Gurupi, posto que o impulsionou a, um ano depois, buscar a eleição como prefeito do município.

Filiado ao PV, Carlesse foi derrotado no pleito municipal de 2012 para o adversário Laurez Moreira, integrante, na época, do PSB, por 57% votos válidos a 43%.

Prisão na Assembleia

Em 2014, já no PTB, Carlesse alcançou o posto de deputado estadual, o seu primeiro cargo político, que o ajudou a se projetar pelos quatro anos seguintes.

Em julho de 2015, no primeiro ano como parlamentar, Carlesse ficou detido em uma sala da própria Assembleia Legislativa por não pagar pensão alimentícia a sua ex-esposa Rosângela Catarina Kiriliuk.

O então deputado estadual foi solto quase um mês depois. Posteriormente, as defesas de Carlesse e Rosângela chegaram a um acordo — o então deputado pagaria R$ 400 mil à ex-mulher, além de transferir algumas propriedades a ela.

Após o episódio, Carlesse seguiu o mandato na Assembleia Legislativa até que, em 2017, já integrando o quadro de filiados do PHS, ele se tornou presidente da Casa, posto que o levaria, um ano depois, ao comando interino do estado do Tocantins.

Governo interino

Em março de 2018, enquanto presidente da Assembleia Legislativa, o empresário viu o TSE cassar o mandato do então governador e da então vice-governadora do TO, respectivamente Marcelo Miranda e Cláudia Lélis.

No entendimento do TSE, a chapa encabeçada por Miranda praticou arrecadação ilegal de recursos — leia-se: caixa 2 —, inclusive com uso de contas laranjas, uma delas de um estagiário do governo estadual.

Seguindo a linha de sucessão, Carlesse assumiu interinamente o Executivo do Tocantins em 27 de março, mas deixou o posto pouco tempo depois, em 6 de abril, após uma decisão provisória da Justiça reconduzir Miranda e Lélis ao governo estadual.

Posteriormente, porém, o TSE negou o recurso, e a Miranda e Lélis foram, novamente, cassados. Carlesse, então, voltou ao cargo de governador interino do TO, que ele ocuparia até a eleição convocada fora do tradicional período eleitoral e agendada para junho daquele ano.

Duas eleições em um só ano

Carlesse se candidatou a governador no pleito fora de época e venceu, em segundo turno, o candidato Vicentinho Alves, por 75% votos válidos a 25%, para um mandato de menos de um ano, até o fim de 2018.

Antes do segundo turno, porém, Carlesse chegou a ser alvo de uma operação da PF (Polícia Federal). Investigações do órgão apontavam suspeitas de que o hoje governador teria liberado verbas a parlamentares com o intuito de angariar apoio político no primeiro turno.

Em outubro de 2018, Carlesse buscou a reeleição nas eleições gerais e venceu o pleito ainda em primeiro turno, ao alcançar 58% dos votos válidos e deixar para trás o adversário Carlos Amastha (PSB), com 31%.

Nas eleições de outubro, ele se manteve neutro e não declarou apoio a nenhum candidato na eleição presidencial, seja no primeiro ou no segundo turno.

Político de milhões

Nas eleições de 2018, Carlesse declarou R$ 1,8 milhão em bens ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), valor consideravelmente menor do que o que havia declarado em 2012 (R$ 32,3 milhões) e em 2014 (R$ 35,3 milhões).

Em 2018, o UOL revelou que Carlesse havia entregado à ex-esposa propriedades que não constavam na declaração de bens que ele havia dado à Justiça Eleitoral para concorrer na eleição suplementar de junho daquele ano.

No processo de divórcio, Rosângela Catarina Kiriliuk disse que o hoje governador afastado usava laranjas para esconder o próprio patrimônio, que, na verdade, teria um valor de aproximadamente R$ 100 milhões.