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Rui Falcão: 'Perfil para vice de Lula é diferente da trajetória de Alckmin'

Colaboração para o UOL, em Brasília

14/03/2022 11h19

Ao UOL Entrevista, o ex-presidente do PT e deputado federal Rui Falcão voltou hoje a dizer que é contra a escolha do ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin como vice na chapa presidencial com o possível pré-candidato do PT Luiz Inácio Lula da Silva.

"Essa escolha deve ser feita pelo partido. Lula acha que precisa ampliar os apoios e tem procurado alianças que no passado não estiveram conosco. Continuo acreditando que, com todo peso da opinião de Lula, a decisão será do encontro partidário. Aliás, o ex-governador Alckmin nem tem partido ainda".

Na segunda-feira (7), o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, disse que a filiação de Alckmin ao partido estava "praticamente selada" e que os detalhes haviam sido ajustados em um encontro entre os dois.

Rui sinalizou que, no momento, o diálogo sobre a escolha do vice de Lula não é uma prioridade dentro do partido.

"Temos um processo de escolha de nossos candidatos altamente democrático. Esse debate arrefeceu muito porque a situação do país se agravou terrivelmente. Tenho ido à periferia de São Paulo, e lá se discute hoje é o preço dos combustíveis, dos alimentos, a guerra, que produz grandes consequências no Brasil... Prefiro deixar a escolha do vice para o momento que o partido for decidir", disse.

Perda de apoio

O ex-presidente do PT descartou eventual debandada de apoiadores da sigla por causa de Alckmin: "Isso não existe. Todas as manifestações do PSOL vão na direção de apoiar Lula, embora preferissem outra alternativa que não o ex-governador Alckmin".

Ao citar o perfil ideal para concorrer à Presidência da República junto com Lula, Falcão reiterou o descontentamento com a possível escolha de Alckmin.

"Teria que ser um vice ou uma vice, que tenha compromissos com o programa; que tenha relação com movimentos sociais; uma concepção não neoliberal; e que não defenda privatização. Um perfil diferente do que é a trajetória de Alckmin", disse.

Com relação à escolha de Michel Temer, que tem perfil semelhante ao de Alckmin, para vice da ex-presidente Dilma Rousseff, Falcão disse que "era outra conjuntura, não tinha havido golpe no Brasil", em referência ao impeachment da petista, apoiado eventualmente pele emedebista.

"E houve uma tentativa frustrada de substituir Temer por outra candidatura", disse o ex-presidente do PT.

Sobre a relação do PT com militares, Falcão disse estar confiante de que, em caso da vitória de Lula, não haverá tentativa de interdição ou golpe. "Não tenho temor que possa haver tentativa de interdição ou golpe. As Forças Armadas, desde o golpe de 64, aprenderam que intervenção militar de forma institucional na política não dá bons resultados."

Corrupção de ex-petistas

Rui Falcão lembrou hoje que em decisão inesperada há um ano, o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Edson Fachin anulou as condenações do ex-presidente Lula na Lava Jato, devolvendo os direitos políticos ao petista, mas admitiu que houve corrupção dentro do partido.

"O ex-ministro [da Fazenda Antônio] Palocci não comprovou que tenha beneficiado alguém do PT", disse. "Houve corrupção de pessoas [no governo do PT], não o partido como um todo, nem o governo como um todo", afirmou. "Acho que nem Lula nem Dilma sabiam disso [à época]."

A questão da corrupção sempre foi utilizada, diz Falcão, "indevidamente e sem provas" para derrubar governos populares.

"Pessoas individualmente [envolvidas com corrupção]... Em todos os governos sempre aparece alguém. Quero lembrar o caso dos ex-presidentes Juscelino Kubitschek, Getúlio Vargas, João Goulart —todos acusados de corrupção, dando margem a um movimento de opinião pública que levou ao suicídio de Getúlio, tentativa de desmoralização de Juscelino depois que ele deixou o governo ou à derrubada por um golpe civil-militar do ex-presidente João Goulart."

Invasão na Ucrânia

O ex-presidente do PT repudiou a invasão russa na Ucrânia.

"O PT sempre defendeu a solução dos conflitos por meio do diálogo, a busca da paz, a autodeterminação dos povos e a não intervenção em assuntos de outros países. Não sou a favor de nenhuma guerra", disse Rui Falcão.

O comentário vem semanas após o perfil oficial da bancada do PT no Senado Federal ter recuado de uma nota em que fazia fazia defesa da Rússia que havia sido publicada nas redes sociais da sigla.