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Sem decolar em pesquisas, Doria acelera entregas em SP e vai rodar Nordeste

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), visita o canteiro de obras da Estação Anália Franco - Linha 02 - Verde do Metrô, em São Paulo - Governo do Estado de São Paulo
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), visita o canteiro de obras da Estação Anália Franco - Linha 02 - Verde do Metrô, em São Paulo Imagem: Governo do Estado de São Paulo

Lucas Borges Teixeira

Do UOL, em São Paulo

26/03/2022 04h00

João Doria (PSDB) vai deixar o governo de São Paulo no fim próximo final de semana para concorrer à presidência da República. Sem decolar nas pesquisas de intenção de voto, o governador têm aproveitado os últimos dias de mandato para entregar projetos e deve começar a viajar pelo país para tentar diminuir sua rejeição.

Oficialmente, Doria deverá passar o cargo ao vice, Rodrigo Garcia (PSDB), na sexta-feira (1º). Em seguida, planeja participar de evento partidário no sábado (2) e viajar para a Bahia, com rápida parada em Brasília, onde fará reuniões de articulação política.

No último DataFolha, divulgado quinta (24), Doria marcou apenas 2% das intenções de votos —situação semelhante às pesquisas de outros institutos, em que o paulista chega, no máximo, a 3% —enquanto a rejeição segue na faixa dos 30%, terceira maior entre pré-candidatos, atrás de Jair Bolsonaro (PL) e Lula (PT).

Publicamente, Doria não se diz preocupado, embora aliados e membros do governo não mostrem a mesma tranquilidade. Nas últimas semanas, ele tem argumentado que os eleitores ainda não estão preocupados com eleição, mas nas dificuldades do dia a dia —e que até junho seu nome deverá crescer.

O governador cita com frequência a eleição à Prefeitura de São Paulo, em 2016, quando sua chapa com o ex-prefeito Bruno Covas, morto em maio de 2021, tinha 7% das intenções de votos a três meses do pleito e acabou derrotando o então prefeito Fernando Haddad (PT) no primeiro turno, com 53% dos votos.

A começar pelo Nordeste

O grupo do governador, então, se fia nas possibilidades de crescimento do seu nome. Segundo a mesma pesquisa, 20% dos brasileiros não o conhecem e 31% o conhecem "só de ouvir falar". O plano da campanha tucana é viajar o máximo possível para apresentá-lo.

O primeiro local será o Nordeste. No primeiro fim de semana de abril, deverá voar para Brasília para reuniões com diretórios nacionais do MDB e da União Brasil e, de lá, seguirá para a Bahia.

Se o objetivo das viagens é que o eleitor conheça melhor o pré-candidato, é preciso garantir, também, que os encontros tenham efeito positivo.

Marco Vinholi, presidente do PSDB-SP e secretário de Desenvolvimento Regional de Doria, costuma dizer que pessoalmente Doria consegue convencer mais do que sua imagem "quadrada" de paulistano, mas apoiadores não deixam de se preocupar com possíveis gafes e a língua afiada do governador.

Doria durante o lançamento de parte do Parque Bruno Covas, à beira do Rio Pinheiros, em São Paulo - Governo do Estado de São Paulo - Governo do Estado de São Paulo
Doria recebe um cocar durante o lançamento de parte do Parque Bruno Covas, à beira do Rio Pinheiros, em São Paulo
Imagem: Governo do Estado de São Paulo

Em outubro de 2021, em visita a Guarabira, cidade paraibana de 59 mil habitantes a 110 km de João Pessoa, ele provocou risos após questionar, na Câmara Municipal, "quem aqui já foi a Dubai?".

Interlocutores defendem que momentos como este, ou nos discursos mais exaltados e exagerados —dos quais é adepto—, mostram espontaneidade de Doria, mas sabem que isso nem sempre é visto dessa forma.

Para os mais próximos ao governador, ao viajar pelo país, Doria poderia alinhar melhor o discurso entre as lideranças nacionais, com as quais larga atrasado se comparado os apoios locais prometidos ao ex-presidente Lula e o presidente Bolsonaro.

Aliança nacional

Se localmente ainda faltam líderes nas fotografias, em relação aos partidos os tucanos conseguiram fazer o dever de casa. Guiados pelos respectivos diretórios paulistas, o PSDB conseguiu fechar aliança com o União Brasil —embora ainda enfrente grande resistência— e o MDB, além da federação com o Cidadania.

Os três, prometem as siglas, deverão lançar apenas um candidato à presidência da República —e Doria luta para que seja ele. No contexto atual, ele esbarra na pré-campanha da senadora Simone Tebet (MDB-MS), o sonho de Doria para composição de chapa.

Desde as prévias, o paulista tem repetido que quer uma mulher como vice. Tebet, de perfil conservador e ligada ao agronegócio, ganhou projeção nacional no ano passado por sua atuação na CPI da Covid e passou a ser cobiçada por várias campanhas.

Recentemente, a senadora tem negado que se tornaria vice e chegou a ameaçar deixar seu partido. O círculo mais próximo de Doria, embora não trate do assunto abertamente, acha que ainda é possível convencê-la, dada sua proximidade com o presidente nacional do MDB, o deputado Baleia Rossi (MDB-SP).

O presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, Doria, Tebet e Rossi; o sonho de união - Divulgação - Divulgação
O presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, Doria, Tebet e Rossi; o sonho de união
Imagem: Divulgação

Na próxima semana, a aliança, que lançou José Luiz Datena (União Brasil) como pré-candidato ao Senado, promete fazer novos anúncios. As reuniões de Brasília deverão tratar desse assunto.

Aceleração de projetos e foco na economia

Entre reuniões políticas e eventos de entrega de projetos e obras, as últimas semanas de Doria no Palácio dos Bandeirantes têm sido corridas. Apesar de, oficialmente, ele falar que está preso ao cargo, muitos compromissos já têm, por si, tom eleitoral —como usar um cocar durante uma inauguração no meio da capital paulista uma semana após Bolsonaro aparecer com o adorno.

Na última terça (22) anunciou a expansão do ensino integral —mesmo durante o ano letivo— em um auditório lotado com crianças e servidores da Educação.

Na quinta-feira (24), lançou o projeto de reconstrução da Usina São Paulo, que se tornará uma espécie de shopping moderno sobre o Rio Pinheiros, zona oeste.

Na sexta (25), entregou a nova fábrica de vacinas do Instituto Butantan, previsto inicialmente para setembro de 2021.

As inaugurações marcam os carros-chefe da futura campanha de Doria no Planalto. Responsável por trazer a primeira vacina contra a covid-19 para o Brasil, a CoronaVac, em janeiro de 2021, o grupo do governador já entende que o momento de furor em relação ao combate à covid-19 passou.

Se, antes, era chamado por apoiadores de "pai da vacina" (com direito a musiquinha em eventos), agora, com a melhoria da pandemia, o assunto tem ficado para trás. Doria tem, então, focado na economia.

Enquanto o país enfrenta recesso econômico e o real está desvalorizado, ele busca mostrar a crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) de São Paulo e o seu perfil de governo-empreendedor.