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Eduardo Bolsonaro diz duvidar de tortura a Miriam: 'Sem vídeo e testemunha'

Eduardo Bolsonaro debochou de tortura sofrida por Míriam Leitão na ditadura militar brasileira - Reprodução
Eduardo Bolsonaro debochou de tortura sofrida por Míriam Leitão na ditadura militar brasileira Imagem: Reprodução

Do UOL, em São Paulo

05/04/2022 14h38Atualizada em 05/04/2022 17h35

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) afirmou que a jornalista Miriam Leitão "certamente não se sentiu ofendida" com o deboche dele sobre a tortura sofrida por ela durante a ditadura militar no Brasil. O parlamentar ainda disse ser a vítima da situação.

"A Miriam Leitão certamente não se sentiu ofendida, ela só tem a palavra dela, dizendo que foi vítima de uma tortura psicológica quando foi jogada dentro de uma cela junto com uma cobra. Eu já fico com a pulga atrás da orelha, porque você não tem um vídeo, não tem outras testemunhas, não tem uma prova documental, não tem absolutamente nada", falou hoje em entrevista ao canal do YouTube Expressão Brasil.

Eduardo disse que está "sendo vítima do patrulhamento do politicamente correto. E o politicamente correto não é sobre o que se fala, mas sim sobre quem fala", argumentando que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não é alvo de "notas de repúdio de movimentos sociais".

Segundo o deputado, há uma tentativa da esquerda de silenciar os adversários políticos, porque "se tivermos espaço para falar ,vamos simplesmente ganhar todos os debates".

No domingo (3), o parlamentar disse, pelo Twitter, sentir "pena da cobra" que torturou a jornalista. Miriam foi presa durante a ditadura militar e torturada com tapas, chutes e golpes que abriram sua cabeça. Além disso, teve de ficar nua em frente a 10 soldados e três agentes de repressão e passar horas trancada em uma sala com uma jiboia —a cobra citada por Eduardo.

Na época, a jornalista estava grávida de um mês e era militante do PCdoB.

Não foi a primeira vez que a família Bolsonaro exaltou abusos cometidos durante o período da ditadura militar (1964-1985). Quando deputado e também enquanto presidente da República, Jair Bolsonaro (PL) fez elogios a Carlos Alberto Brilhante Ustra, ex-chefe do DOI-CODI do II Exército, condenado em 2008 por tortura.

Deputados acionaram Conselho de Ética

Ontem, deputados acionaram o Conselho de Ética contra Eduardo por suas falas sobre Miriam Leitão. A representação será apresentada por parlamentares do PSOL, PCdoB e PT.

A bancada do PSOL na Câmara pedirá a cassação de Eduardo, informou o presidente nacional do partido, Juliano Medeiros. "Não é possível ficar inerte diante da agressão de Eduardo Bolsonaro à jornalista Miriam Leitão".

Dilma rebate Eduardo

A ex-presidente Dilma Rousseff (PT) comentou o ataque feito pelo deputado federal contra Miriam. "Os Bolsonaro têm compromisso com a tortura", disse.

Também vítima de tortura durante a ditadura, Dilma lembrou que Bolsonaro fez uma homenagem a Ustra durante sessão sobre a abertura de processo de impeachment contra ela.

A ex-presidente também ressaltou que o presidente "desrespeitou o pai do ex-presidente da OAB [Ordem dos Advogados do Brasil]", morto pela ditadura. "Agora, o filho segue a tradição, num desprezível ataque a Miriam Leitão", escreveu.

Presidenciáveis repudiam fala

Sobre o caso, Lula disse ontem que "comemorar o sofrimento alheio é perder de vez a humanidade [...] Minha solidariedade à jornalista Miriam Leitão, vítima de ataques daqueles que defendem o indefensável: as torturas e os assassinatos praticados pela ditadura".

Outro presidenciável que se manifestou sobre o assunto foi o ex-ministro Ciro Gomes (PDT), que chamou Eduardo de "verme". "Difícil saber quem é o pior dos torturadores. O que fere primeiro ou o que reacende a chaga da memória sempre aberta de um torturado", escreveu.

Ciro disse que Eduardo Bolsonaro e sua família ainda serão julgados no Tribunal Penal Internacional de Haia: "Este verme não vai sentar ali sozinho, mas com outros membros de sua nefasta família. Este dia, canalhas, chegará mais rápido do que vocês pensam."

O ex-juiz da Lava Jato e ex-ministro da Justiça Sergio Moro (União Brasil) classificou o episódio como "inaceitável" e disse que "a vergonha está no ofensor. Covarde é quem ofende mulher".

O pré-candidato à Presidência pelo Avante, André Janones, também comentou o assunto. Segundo ele, o ataque a Miriam Leitão foi covarde e inescrupuloso. "É impossível de explicar que tipo de ser humano debocha do fato de uma mulher grávida ter sido torturada?".