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Morre general da ditadura militar Newton Cruz, ex-chefe do SNI

Leonardo Martins

Do UOL, em São Paulo

16/04/2022 15h07

Morreu ontem, aos 97 anos, o general Newton Araújo de Oliveira e Cruz, ex-chefe do SNI (Serviço Nacional de Informações) e militar conhecido pelas acusações de envolvimento em crimes de repressão durante a ditadura militar brasileira (1964 - 1985). A informação foi confirmada pelo Comando Militar do Leste.

Newton Cruz estava internado no Hospital Central do Exército, na zona norte do Rio de Janeiro, e não teve a causa da morte divulgada. Entre 1977 e 1983, o general chefiou o SNI, órgão que foi usado durante a ditadura como um instrumento de espionagem de opositores ao governo militar.

"Neste momento de consternação, os integrantes do CML [Comando Militar do Leste] solidarizam-se e rogam a Deus pelo conforto de familiares e amigos do General Newton Cruz. O CML informa que, em respeito à família, não serão divulgadas as informações relativas ao sepultamento", escreveu o comando em nota à imprensa.

Segundo a Comissão Nacional da Verdade, Newton Cruz foi um dos militares que cometeu graves violações aos direitos humanos durante a ditadura.

Cruz é acusado de ter envolvimento no atentado do Riocentro, em 1981, quando militares planejaram explodir bombas no Centro de Convenções do Riocentro durante um show de Música Popular Brasileira. O plano deu errado: uma bomba explodiu distante do lugar planejado e, outra, detonou dentro do carro de oficiais, matando um sargento e deixando a outra autoridade ferida.

Em 2014, o MPF (Ministério Público Federal) pediu a prisão de Newton Cruz e outros militares por terem participado ou terem conhecimento dos crimes na ditadura. Cruz não chegou a ser condenado. Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, ele afirmou ter sido avisado com duas horas de antecedência sobre o atentado.

Em 1983, o general também foi acusado de envolvimento no assassinato do jornalista da revista 'O Cruzeiro' Alexandre von Baumgarten. Ele e sua esposa foram sequestrados e executados no Rio de Janeiro.

Naquele ano, Baumgarten havia preparado um dossiê a ser publicado no qual acusava militares, entre eles Newton Cruz, de estarem planejando sua morte. Em julho de 1992, após 30 horas de julgamento, Newton Cruz foi absolvido da acusação de ter matado o jornalista e sua esposa.

Quando chefe do SNI, o general foi um dos militares que assinou autorizações para destruição de milhares de documentos secretos. À Folha de S. Paulo, ele disse ter seguido a legislação da época: "Foi tudo de acordo com a lei".

Outro emblemático episódio protagonizado por Cruz entrou para história em 1983. Em entrevista ao repórter de rádio Honório Dantas, Cruz se irritou com as perguntas do jornalista e, em certo ponto, o atacou: "Deixa eu falar? Então cala a boca". E ordenou o repórter a desligar o gravador. O profissional relatou ter sido empurrado pelo general, que ouviu o comentário, chamou-o de "moleque" e o obrigou a pedir desculpas.

Em abril de 1984, no período de votação da emenda Dante de Oliveira, o general se irritou por estar sendo fotografado, sacou o revólver e teria o encostado na barriga de um fotógrafo. No ano seguinte, Cruz entrou para reserva do Exército e tentou seguir carreira política, filiando-se ao PDS (Partido Democrático Social), mas não conseguiu ser eleito aos cargos que disputou.

Em 1986, lançou-se a deputado federal e, em 1994, também tentou ser governador do Rio, com apoio do ex-presidente da ditadura militar João Figueiredo (1979 - 1985), mas não foi eleito. Ele foi casado com Leni da Costa Raimundo e teve quatro filhos.