Bolsonaro quer reunião com representante do WhatsApp
O presidente Jair Bolsonaro (PL) quer marcar uma reunião com o representante do WhatsApp no Brasil a fim de discutir o acordo costurado entre o aplicativo de mensagens e o TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Ele revelou os seus planos em entrevista hoje à CNN Brasil.
"Já conversei com o Fábio Faria [ministro das Comunicações], vai conversar com representante do WhatsApp aqui no Brasil para explicar [o acordo]". "Se ele [WhatsApp] pode fazer um acordo com o TSE, pode fazer comigo também, por que não?", afirmou o presidente, que está passando o feriado de Páscoa no Guarujá, litoral de São Paulo.
O entendimento entre o aplicativo e o TSE se refere à implementação de uma nova funcionalidade da plataforma da empresa americana Meta, que pretende criar uma rede de "comunidades" —com potencial para reunir milhares de pessoas e ampliar o alcance do compartilhamento de mensagens.
Com receio de que a ferramenta ajude a impulsionar a produção e a disseminação de fake news, conteúdo de ódio, entre outros potenciais crimes durante as eleições desse ano —na qual Bolsonaro concorrerá à reeleição—, a Justiça eleitoral brasileira solicitou que a novidade fosse disponibilizada aos usuários no país somente após a conclusão do pleito, no fim de outubro.
O WhatsApp, que tem buscado colaborar com o TSE, concordou com a demanda.
O chefe do Executivo federal não gostou da notícia e, durante motociata realizada ontem (15), partiu para o ataque contra o WhatsApp e ministros do Tribunal Superior Eleitoral. O governante também afirmou que o acordo não será cumprido —embora ele não tenha poderes para tal.
"Adianto para vocês, o que eu tomei conhecimento nessa manhã. É simplesmente algo inaceitável, inadmissível e inconcebível. O WhatsApp passa a ter uma nova política para o mundo, mas uma especial restritiva para o Brasil. Isso após um acordo com três ministros do Tribunal Superior Eleitoral", disse o presidente.
Cerceamento, censura, discriminação... Isso não existe. Ninguém tira o direito de vocês."
Jair Bolsonaro
Durante a motociata —que teve início na capital paulista, com deslocamento até Americana em um percurso de cerca de 120km— Bolsonaro já havia feito críticas ao WhatsApp nas mesmas circunstâncias e pelo mesmo motivo.
"(...) Isso que o WhatsApp está fazendo no mundo todo... Sem problema. Agora, abrir uma excepcionalidade para o Brasil? Isso é inadmissível, inaceitável e não vai ser cumprido esse acordo que por ventura eles tenham feito com o Brasil, com informações que eu tenho até o presente momento."
No discurso, Bolsonaro também ponderou que é "obrigado a jogar dentro das quatro linhas" [da Constituição] e deu a entender que não estaria disposto a partir para uma ruptura institucional. "Se do lado de lá vale tudo, do lado de cá, não é assim."
Para especialista em direito eleitoral ouvido pelo UOL e partidos de oposição, a motociata, que contou com a presença do ex-ministro da Infraestrutura Tarcísio Gomes de Freitas, pré-candidato ao governo de São Paulo pelo Republicanos, pode ser considerada campanha eleitoral antecipada. Procurada, a Presidência da República não se manifestou.
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