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Cunha acusa Moro de 'prender inocentes' e montar 'organização criminosa'

Eduardo Cunha criticou o ex-juiz Sergio Moro - Reprodução
Eduardo Cunha criticou o ex-juiz Sergio Moro Imagem: Reprodução

Colaboração para o UOL, em Maceió

25/04/2022 11h29

O ex-deputado federal Eduardo Cunha acusou o ex-juiz e ex-ministro da Justiça Sergio Moro (União Brasil) de ser o "líder de uma organização criminosa" criada com o intuito de atingir objetivos políticos e pessoais, além de "prender inocentes" no curso da Operação Lava Jato. A investigação sobre corrupção na administração pública o levou à prisão, em outubro de 2016, por determinação de Moro, bem como à perda dos direitos políticos até 2027.

Em artigo publicado no site Poder 360, Cunha compara o ex-magistrado ao personagem Arthuro (Enrique Arce), da série "La Casa de Papel" (Netflix), que se tornou uma pessoa "odiada" e caiu no "esquecimento". No paralelo traçado, o ex-deputado admite que, embora Moro tenha sido "relevante" em determinado momento da história recente do Brasil, ele "foi deixado de lado".

Segundo o ex-parlamentar, Sergio Moro "morreu quando resolveu entrar na cena do seu próprio crime", ou seja, ao abraçar e fazer parte do mundo político, que outrora ele disse não ter qualquer interesse. Ainda, Cunha responsabiliza o ex-juiz pela "falência" de empresas brasileiras e afirma que ele montou uma organização criminosa e criou uma "indústria" de delações, mecanismo que foi bastante usado pela Lava Jato.

"Moro foi o responsável pela criminalização da política. Fraudou a sua competência, quebrou empresas, prendeu inocentes, montou uma organização criminosa com interesse político, criou uma indústria das delações para que só saísse da prisão quem aderisse ao procedimento", escreveu.

Eduardo Cunha também criticou Moro por ter "tirado" o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) do pleito presidencial de 2018, ao ordenar a prisão do petista em abril de 2018. Para o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Lula deveria ter sido derrotada nas urnas, "como prevê a democracia", e não por um "juiz ladrão" que não apenas "expulsou" o petista das eleições, como "afastou adversários do PT", citando a si mesmo como exemplo.

"Ainda bem que o STF (Supremo Tribunal Federal) corrigiu muitas das fraudes praticadas por Moro, inclusive contra mim, nos dando a oportunidade de assistir ao enfrentamento político das urnas, o que representa a verdadeira democracia", disse.

Eduardo Cunha afirma que os planos políticos de Moro foram massacrados primeiro quando o ex-juiz "pretendeu" sair como vice-presidente na chapa com Jair Bolsonaro (PL) e, posteriormente, ao pleitear ocupar uma cadeira no STF e, da Corte, "se cacifar como candidato" ao Planalto.

Diante da impossibilidade desses dois caminhos, afirmou Cunha, Moro teria recorrido aos métodos políticos tradicionais para a concretização de "seu sonho megalomaníaco": optou por "trair" o Podemos, primeiro partido ao qual ele se filiou, mas ficou "chupando o dedo" ao ser deixado para trás pelo União Brasil, que optou por lançar Luciano Bívar à Presidência.

"A ingenuidade de Moro chega a ser risível. Ficou agora com a opção de ser candidato a deputado estadual ou federal em São Paulo. Ou até mendigando uma candidatura ao Senado — em que será certamente derrotado", completou, ressaltando que "a vaidade" não permitirá ao ex-juiz se lançar como "um simples deputado" nas eleições de outubro.

Ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha comandou a sessão parlamentar realizada em 17 de abril de 2016, que autorizou a instauração do processo de impeachment contra a ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Em fevereiro, ele afirmou ter orgulho de ter participado da iniciativa, em outra mensagem publicada no Twitter.

Em 14 de junho do mesmo ano, o Conselho de Ética da Câmara recomendou a cassação do mandato de Cunha por 11 votos contra nove. A decisão se deveu a declarações falsas do então deputado sobre a existência de contas no exterior.

Em outubro daquele ano, ele foi preso preventivamente por conta da Operação Lava-Jato. A prisão preventiva foi transformada em domiciliar apenas em março de 2020, devido à pandemia de covid-19 e, só em abril do ano passado, o TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região) revogou a prisão decretada em 2016.

Ainda assim, Cunha segue impedido de sair do país. Em fevereiro, o TRF-4 rejeitou o pedido de sua defesa para transferir à Justiça Eleitoral a ação penal aberta contra ele na extinta Operação Lava Jato, por supostas propinas na compra de navios-sonda pela Petrobras.

Ex-juiz responsável pela Operação Lava Jato, Sergio Moro deixou a magistratura em 2018 para se tornar ministro da Justiça da gestão Jair Bolsonaro (PL), posto ocupado até abril de 2020, após o presidente ter exonerado o então diretor-geral da PF Maurício Leite Valeixo. Ao anunciar sua saída da pasta, o ex-juiz acusou o chefe do Executivo Federal de interferir na PF para ter acesso a investigações e relatórios da entidade, o que é proibido pela legislação.

As ações tomadas por Sergio Moro na Lava Jato se tornaram alvo de polêmicas após mensagens trocadas entre os responsáveis pelas investigações serem vazadas pelo site The Intercept Brasil, colocando em xeque a atuação do ex-magistrado no curso da operação. De acordo com a publicação, ele teria ultrapassado suas funções como juiz ao, supostamente, ter atuado como procurador e orientador da equipe liderada pelo ex-procurador da República Deltan Dallagnol.

Em junho de 2021, a maioria dos ministros do STF consideraram Sergio Moro suspeito no processo que prendeu Lula, ao reconhecer a parcialidade do ex-juiz.