Moro critica STF, compara Lula e Bolsonaro e retoma discurso anticorrupção
O ex-ministro e ex-juiz Sergio Moro (União Brasil) disse que decisões recentes do Supremo Tribunal Federal (STF) enfraqueceram o combate à corrupção no Brasil e deixaram o país em uma situação de vulnerabilidade. Ele também comparou falas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) às de Jair Bolsonaro (PL) e retomou o discurso anticorrupção.
Afirmou ainda que quer ser um "soldado da democracia", buscando um candidato de centro-direita. Em seu partido, o atual pré-candidato é o presidente do União Brasil, Luciano Bivar. Mas descartou concorrer a deputado federal.
As declarações foram feitas durante entrevista conduzida pela apresentadora Fabíola Cidral, com participação dos colunistas do UOL Josias de Souza e Alberto Bombig.
Em crítica às decisões de ministros do STF, Moro disse que não compreende alguns dos votos proferidos nos últimos dois anos e afirmou que certas ações "praticamente desmantelaram" o combate à corrupção no Brasil.
"Essa decisão de revogar a prisão após condenação em segunda instância, essas anulações de condenações do ex-presidente Lula por motivos que, sinceramente não consigo compreender com facilidade, tudo isso levou a um enfraquecimento do combate à corrupção e deixou o país vulnerável", declarou o ex-juiz.
Apesar disso, Moro afirmou que não defende ataques aos ministros do Supremo e que é preciso fortalecer as instituições. O ex-ministro apontou ainda risco à democracia com a polarização da disputa eleitoral para a Presidência da República neste ano. "Corremos o risco de caminharmos para uma direção errada", disse o político.
Se em decorrência da guerra entre Rússia e Ucrânia o mundo se dividir entre democracias liberais e regimes mais fechados, há grandes chances de o Brasil caminhar para o lado das autocracias, ou seja, um regime autoritário, avaliou.
"É por isso a importância de termos uma alternativa nas eleições de 2022, com alguém com credenciais democráticas, em que não há sombra de dúvidas sobre o que quer fazer [respeitar as instituições democráticas liberais ou não]", afirmou Moro.
Ele retomou o discurso anticorrupção e afirmou que, se ações como a da Operação Lava Jato continuassem em curso, o país não viveria a polarização atual. "Se tivéssemos combate à corrupção como na época da [operação] Lava Jato, não teríamos o cenário atual. Nem com Lula, nem com Bolsonaro."
Moro disse que Lula e Bolsonaro são "muito semelhantes" e comparou as atitudes dos dois políticos em temas como a guerra na Ucrânia.
"O Brasil adota uma posição dúbia em relação a essa invasão, com o presidente da República fazendo aquela visita controversa [a Vladimir Putin], não fazendo nenhuma declaração assertiva, enquanto temos uma clara violação. E Lula também não fez nenhuma declaração robusta, o que vimos foram apenas declarações robustas contra guerra", comentou o ex-ministro.
O ex-juiz disse que não faz falsa simetria ao comparar os dois mandatários, já que Lula "é alguém que elogia ditaduras" e ambos são "representantes de espectros políticos que flertam com o populismo e o autoritarismo".
Moro afirmou que o Brasil relativizou declarações de Bolsonaro nas eleições passadas e pode enfrentar "o risco de fazer a mesma minimização" elegendo Lula. "Eu era juiz da Lava Jato, fomos severamente atacados pelo Lula e pelo PT", declarou.
"Em 2018, o presidente atual deu uma série de declarações que foram relativizadas, inclusive faço aqui meu mea culpa, que colocavam em dúvidas as credenciais democráticas dele. E hoje vemos uma situação bastante complexa", disse Moro. "Por isso precisamos de um centro moderado que seja firme em princípios e valores. A população precisa ser estimulada a escolher e a votar em alternativas."
Questionado sobre a decisão de Bolsonaro de conceder graça ao deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ), Moro disse que a pena estabelecida pelo STF foi excessiva e gerou "uma vulnerabilidade", mas que o presidente poderia ter dado um "indulto parcial". Ele considerou que o deputado se "excedeu nas palavras" e que o caso vem de uma "sucessão de erros que não fazem bem para a nossa democracia".
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