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Bolsonaro faz passagem relâmpago em ato com ataque a STF e Lula em Brasília

Eduardo Militão

Do UOL, em Brasília

01/05/2022 12h16Atualizada em 01/05/2022 17h43

O presidente Jair Bolsonaro (PL) fez uma passagem relâmpago na manhã de hoje pela Esplanada dos Ministérios, em Brasília, onde ocorreu ato em sua defesa e com ataques ao STF e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), seu principal adversário nas eleições de outubro. Bolsonaro chegou ao local por volta das 11h30, acenou para apoiadores e foi embora após cerca de 5 minutos — não chegou a discursar no local ou a subir no carro de som.

Em vídeo divulgado nas redes sociais, Bolsonaro não fez menção ao Supremo Tribunal Federal, apenas agradeceu a participação dos manifestantes, que, logo após sua passagem, começaram a deixar o local. O locutor do evento após saber que Bolsonaro não iria discursar, disse ao microfone que o presidente não subiria no carro de som para "não ter a candidatura impugnada".

Vim cumprimentar o pessoal que está aqui em uma manifestação pacífica em defesa da constituição, democracia e liberdade. Parabéns a todos de Brasília e de todo o Brasil que hoje estarão nas ruas. Estamos juntos, o Brasil é nosso. Deus, pátria, família"
Jair Bolsonaro, presidente da República

A assessoria da Polícia Militar do DF disse que não possui estimativa de público, que começou a chegar ao local por volta das 9h. Já Secretaria de Segurança Pública de Brasília afirmou que não faz contagens como esta.

O organizador e locutor do evento, o empresário João Salas, disse ao UOL que estima que entre 10 mil e 15 mil pessoas estavam no evento — a reportagem observou que os manifestantes ocupavam o espaço equivalente a uma quadra na grama da Esplanada, mais próximo ao Congresso, na chamada Praça das Bandeiras. Também havia outros militantes, em número menor, em outra quadra de gramado.

A professora Adriana Silva, 49, moradora do Planto Piloto, disse que só conseguiu avistar de longe o presidente de onde estava. "Eu consegui ver de longe. Mas o pessoal enlouqueceu aí, né?", disse ela ao UOL, fazendo referência referência aos apoiadores que correram atrás do chefe do Executivo.

Aliados de Bolsonaro defendiam que ele não participasse dos atos em desagravo ao deputado federal Daniel Silveira hoje, que foi condenado pelo STF e teve a pena perdoada pelo presidente. O temor é que discursos radicalizados possam acentuar a crise entre os Poderes, como ocorreu após protestos de 7 de setembro do ano passado, quando Bolsonaro chegou a chamar o ministro Alexandre de Moraes de "canalha".

Ataques a Lula e STF

Hoje, antes de Bolsonaro passar pelo ato na Esplanada, políticos aliados de Bolsoanro atacaram o STF e Lula. O deputado federal Ubiratan Sanderson (PL) fez críticas aos ministros do Supremo.

Esses ministros têm envergonhado demais a Suprema Corte. Por isso, nós não aceitamos Alexandre de Moraes ou qualquer outro ministro atacando a liberdade de expressão. Não aceitaremos jamais ataques contra o Poder Legislativo, o Executivo, seja de quem for"
Ubiratan Sanderson (PL), deputado federal

O parlamentar salientou que as punições a Silveira podem atingir outras pessoas. "Ontem foi o deputado Daniel Silveira, amanhã será o deputado Sanderson, a deputada Bia Kicis e amanhã será com qualquer um de nós. É muito importante nós estarmos unidos", disse

A deputada Bia Kicis engrossou o coro contra o ex-presidente Lula da Silva, a quem chamou de "ladrão".

Já o ministro de Estado Chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) da Presidência, general Augusto Heleno, disse que o dia de hoje não é de "revanche, de fazer mal criação" e nem de "expressar raiva".

"É dia do trabalhador. E quem não é bandido em princípio é trabalhador. Então, é praticamente o Brasil inteiro que está festejando este primeiro de maio. O que eu tenho pregado é que nós não podemos desistir do Brasil, nós precisamos que o bem vença o mal. Aqueles que sabidamente que demonstraram que são do mal não tem o direito de tomar o lugar daqueles que trabalham pelo bem. E nós vamos conseguir isso, com dedicação, trabalho, probidade, com honestidade, e fazendo com que esse país se aproxima para destino glorioso."

Atos no RJ e em SP

Outros locais do país também registraram hoje manifestações a favor e contra o governo de Bolsonaro.

Em Niterói (RJ), pela manhã, Silveira foi chamado de "o homem que vai explodir o STF". Ele classificou como "inconstitucional" sua prisão após fazer ameaças a ministros da Corte e afirmou que o socialismo "vem avançando de forma camuflada".

Já em São Paulo, ocorre na praça Charles Miller, em frente ao estádio do Pacaembu, ato organizado pelas centrais sindicais, no qual Lula discursou, por volta das 16h — e pediu desculpa por uma fala dita ontem sobre policiais.

Na avenida Paulista, apoiadores de Bolsonaro se reúnem em protesto em que atacam especialmente os ministros do STF, que foram chamados de ditadores. O presidente não esteve no local, mas mandou uma mensagem transmitida em telão, na qual agradece os manifestantes e diz que "deve lealdade" a eles.

Apoiadores reclamam de não conseguir ver Bolsonaro

O vendedor Jalex Robson Almeida, 55, morador de Valparaíso (GO), no Entorno de Brasília, trouxe amigos da Bahia para ver a manifestação em favor de Bolsonaro. O grupo chegou por volta de 10h30. Ficaram dentro do bolsão cercado, perto do caminhão de som. Para chegar lá, era preciso passar por um detector de metais. No início, até as garrafinhas de água eram barradas — a proibição caiu depois de um pedido da deputada Bia Kicis e de Sara Heleno, esposa do ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno.

Em Brasília, professor David Landegraf, 60, reclamou do volume alto da música no caminhão de som - Eduardo Militão/UOL - Eduardo Militão/UOL
Em Brasília, professor David Landegraf, 60, reclamou do volume alto da música no caminhão de som
Imagem: Eduardo Militão/UOL

Jalex contou ao UOL que o grupo não conseguiu ver Bolsonaro quando ele se aproximou do público. Como o evento estava acabando, ele iria aproveitar para mostrar Brasília para os visitantes. "Na verdade, eles vieram de fora para prestigiar o evento", explicou. "Eu vou mostrar a cidade para eles."

David Landegraf, professor, 60 anos, de Taguatinga, e uma amiga chegaram à Esplanada por volta das 10h da manhã e também não conseguiu ver o presidente. Ele disse ao UOL que estava incomodado porque um dos carros de som estava com a música muito alta e atrapalhava ouvir o discurso em outro caminhão, em que um militante tratava do Supremo Tribunal Federal. "Ele está descendo a lenha no STF, que está atuando contra Constituição e mandando no Brasil", justificou Landegraf. "Nem eleitos eles foram pelo povo."