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Melhor do que desculpas é ser responsabilizado, diz vereadora sobre Camilo

Do UOL, em São Paulo

04/05/2022 13h52Atualizada em 04/05/2022 13h57

A vereadora Elaine Mineiro (PSOL) afirmou hoje que mais importante do que pedir desculpas é que o vereador Camilo Cristófaro (sem partido) seja responsabilizado pela fala racista. Ontem, sem saber que o áudio estava aberto durante sessão na Câmara de São Paulo, o parlamentar comentou: "Eles arrumaram e não lavaram a calçada. É coisa de preto, né?".

Acho importante ele pedir desculpas, fundamental. Mais importante é ele reconhecer que foi racista e mais importante ainda é ser responsabilizado pela atitude racista.
Vereadora Elaine Mineiro em entrevista ao UOL News

Durante o UOL News, Elaine explicou a frase do vereador. "Ele quis dizer que quando uma coisa é mal feita, sem qualidade, foi feita por uma pessoa negra, incapaz de fazer o trabalho de forma adequada".

Ela acrescentou que, no momento da fala, Camilo Cristófaro estava "super confortável" porque não sabia que o áudio estava aberto. Após a fala, o vereador deu duas versões antes de admitir que foi racista.

Primeiro, ele justificou a colegas que se referia a "carros pretos que são f* e não é fácil para cuidar da pintura". Depois, Cristófaro afirmou que a declaração foi uma "brincadeira' com o colega negro Anderson Chuchu, que considera um irmão.

Para Elaine Mineiro, o pedido de desculpas não apaga o fato de que Cristófaro teve uma atitude racista numa atividade pública. "Quando ele não tem mais condições de negar o que fez, ele quer um perdão e diz que não teve a intenção".

Desfiliado do PSB

Após a repercussão do caso, o diretório estadual do PSB desfiliou o vereador da legenda. A decisão foi tomada pelo presidente estadual da sigla, Jonas Donizette, e será informada ao TRE-SP (Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo).

Donizette classificou a fala como "grave" e disse que racismo é uma prática condenável pelo PSB, que, segundo ele, tem uma "negritude" muito forte. "Como o processo de expulsão exige um determinado trâmite legal, às vezes demorado, optei por despachar o ofício apresentado pelo próprio vereador no qual ele cita o artigo que trata de desfiliação", afirmou.

O ofício em questão foi enviado por Camilo Cristófaro ao PSB no dia 28 de abril. Nele, o vereador pede seu "imediato desligamento do diretório municipal de estadual do PSB" e cita o artigo 17, inciso sexto da Constituição Federal, o mesmo que trata de desfiliação partidária. "Diante desse pedido anterior ao fato, resolvi despachar e resolver assim de forma mais rápida", afirmou.

Ao Estadão, Camilo Cristófaro afirmou que a desfiliação tem a sua "anuência". "Fiz o pedido em 28 de abril", confirma.

Bancada de vereadores do PSOL vai entregar representação

Além de ir à delegacia pedir um inquérito contra o vereador, a bancada do PSOL também informou que entregará uma representação na Corregedoria da Câmara solicitando abertura do processo interno.

Paula Nunes, covereadora negra do mandato coletivo Bancada Feminista do PSOL, defendeu a cassação do mandato de Camilo."Não podemos mais aceitar o racismo na sociedade e nem na Câmara Municipal. Ou punimos aqueles que cometem racismo ou estaremos sendo coniventes com estas atitudes violentas contra a maioria da população brasileira", diz.

O partido também irá realizar um ato político durante a sessão de hoje na Câmara.

Em nota, o presidente da Câmara, vereador Milton Leite (União Brasil) repudiou o fato e afirmou que vê com "indignação imensa mais uma denúncia de episódio racista dentro da Câmara de Vereadores de São Paulo, local democrático, livre e que acolhe a todos".

Leite, que é negro, disse ainda "lutar com todas as forças contra o racismo, crime que insiste em ser cometido dentro de uma Casa de Leis e fora dela também". Do plenário, afirmou ainda que o ocorrido está sendo apurado e será encaminhado para a Corregedoria do Parlamento paulistano. "Que o corregedor dê celeridade ao processo. O desfecho cabe aos seus membros da Corregedoria. Não dá para aceitar mais isso", disse.