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Moraes amplia prazo para PF dizer se Bolsonaro vazou dados sigilosos do TSE

Moraes deu mais 10 dias para a PF elaborar relatório do suposto vazamento de dados sigilosos pelo presidente Bolsonaro - STF
Moraes deu mais 10 dias para a PF elaborar relatório do suposto vazamento de dados sigilosos pelo presidente Bolsonaro Imagem: STF

Weudson Ribeiro

Colaboração para o UOL, em Brasília

18/05/2022 18h53

O ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), deu mais 10 dias para que a PF (Polícia Federal) elabore relatório sobre material reunido a partir da quebra de sigilo telemático em processo que apura se o presidente Jair Bolsonaro (PL) vazou dados de um inquérito da PF sobre um ataque hacker ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral). As informações foram compartilhadas pelo mandatário em live realizada em agosto de 2021.

Moraes havia determinado, no início de maio, que a corporação realizasse o procedimento em 15 dias. A PF, no entanto, pediu mais tempo "para integral cumprimento" da ordem inicial. Segundo Moraes, o material da quebra de sigilo é fundamental para a análise da PGR (Procuradoria-Geral da República), que pediu o arquivamento da investigação apesar de a PF ter afirmado que viu indícios de que Bolsonaro cometeu crime ao divulgar os dados sigilosos.

"A Polícia Federal, ao concluir a investigação encaminhou as mídias que contém o material obtido da quebra de sigilo telemático, não elaborando, entretanto, relatório específico da referida diligência, essencial para a completa análise dos elementos de prova pela Procuradoria-Geral da República", escreveu Moraes na decisão.

Filipe Barros e Bolsonaro vazaram inquérito sigiloso, diz PF - Reprodução - Reprodução
Filipe Barros e Bolsonaro vazaram inquérito sigiloso, diz PF
Imagem: Reprodução

Em um relatório encaminhado pela PF ao STF, em janeiro, a delegada Denisse Ribeiro afirmou que a corporação havia reunido elementos sobre a "atuação direta, voluntária e consciente" de Bolsonaro ao divulgar informações sobre a investigação. A delegada também apontou o envolvimento do deputado federal Filipe Barros (PL-PR) que participou da live com Bolsonaro.

"A materialidade está configurada por meio da realização da própria live e dos links de disponibilização do material. Quanto às circunstâncias, vislumbra-se a ocorrência de dano à credibilidade do sistema eleitoral brasileiro, com prejuízo à imagem do TSE e à administração pública", afirmou a delegada.

A PF enviou à Corte mídia com todo o material organizado a partir das quebras de sigilo, mas não anexou análise detalhada sobre possíveis provas contra Bolsonaro. Na avaliação de Moraes, o relatório é "essencial para a completa análise" da PGR sobre o caso.

Defesa de Bolsonaro minimiza teor da live

A nova decisão do STF se dá depois de Bolsonaro ter apresentado hoje representação na PGR em que pede a investigação de Moraes por suposto crime de abuso de poder. A base do texto enviada para apreciação do procurador-geral Augusto Aras é a mesma protocolada ontem no STF, pelo advogado Eduardo Magalhães, que representa o presidente no caso.

Texto contestado por Aras fazia críticas à sua suposta submissão ao presidente Bolsonaro - Isac Nóbrega/PR - Isac Nóbrega/PR
Texto contestado por Aras fazia críticas à sua suposta submissão ao presidente Bolsonaro
Imagem: Isac Nóbrega/PR

O presidente foi incluído como investigado no inquérito das fake news a pedido do TSE depois de usar a sua live semanal para levantar suspeitas, já refutadas pela Corte Eleitoral, sobre o sistema de votação eletrônico. À PGR, o advogado afirma que a live realizada por Bolsonaro evento rotineiro, em que o presidente escolheu comentar sobre a urna eletrônica.

"Semanalmente, o presidente da República realiza uma 'live' em seu canal no YouTube. Os temas comentados envolvem o seu trabalho como mandatário nacional, além de diversos assuntos que possam interessar aos seus eleitores e cidadãos brasileiros. Ou seja, trata-se de uma atividade inerente ao cargo político que o ora peticionário [Bolsonaro] ocupa e que é desempenhada dentro do exercício de uma legítima atribuição profissional", disse a defesa.

Na avaliação do advogado, "o intuito do presidente da República, por óbvio, não era o de divulgar informações inconsistente ou algo que o valha, mas sim o de promover um debate sobre o tema, propondo, inclusive, uma visão crítica sobre ele".

A expectativa entre auxiliares de Aras ouvidos pelo UOL é que ele não peça abertura de inquérito contra Moraes. A ação representa um impasse para o PGR que, ao mesmo tempo em que é aliado do presidente Bolsonaro, também busca uma política de "boa vizinhança" com o STF e com o Congresso Nacional.