Quem é Nise da Silveira, psiquiatra que teve homenagem vetada por Bolsonaro
O presidente Jair Bolsonaro (PL) vetou hoje a homenagem aprovada pelo Congresso Nacional à psiquiatra Nise da Silveira (1905-1999). A médica, reconhecida mundialmente pela abordagem humanizada às pessoas com transtornos mentais, teria o nome inscrito no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria.
Para Bolsonaro, não é possível avaliar o impacto do trabalho de Nise no desenvolvimento da nação. Ele escreveu ainda que "prioriza-se que personalidades da história do país sejam homenageadas em âmbito nacional, desde que a homenagem não seja inspirada por ideais dissonantes das projeções do Estado Democrático".
Nise foi integrante do Partido Comunista Brasileiro e ficou presa por 18 meses por ter livros marxistas nos anos 1930.
O legado dela, porém, se expande muito além de sua atuação política. Expoente da luta antimanicomial, Nise é pioneira da terapia ocupacional e ajudou a mudar os rumos dos tratamentos psiquiátricos no Brasil, ao se rebelar contra os métodos agressivos aplicados em pacientes com transtornos mentais, como eletrochoque, camisa de força e confinamento.
Até hoje a alagoana é reconhecida pela defesa de atividades expressivas, especialmente pintura e modelagem, como forma de tratamento em saúde mental. Além da arte, o contato com cães e gatos também foi um dos tratamentos introduzidos por ela no Brasil. Os pacientes podiam cuidar dos animais que estavam nos espaços abertos do centro, estabelecendo vínculos afetivos.
O trabalho de Nise é tema de diversas teses, livros e documentários. Em 2016, a médica foi interpretada por Glória Pires em "Nise - O Coração da Loucura", longa-metragem que ganhou o prêmio da audiência de Melhor Filme no Festival de Cinema do Rio.
A psiquiatra dá o nome de várias instituições ligadas ao estudo da mente, como o Instituto Municipal Nise da Silveira, no Rio de Janeiro, e a Associação Nise da Silveira - Imagens do Inconsciente em Paris, na França.
Nise morreu em 1999, aos 94 anos, de insuficiência respiratória.
A inscrição do nome dela no Livro de Heróis e Heroínas da Pátria foi proposta pela deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) em 2017. Na justificativa, ela relembra a trajetória da médica, e diz que a homenagem é "mais que justificada". Em abril deste ano, a matéria foi aprovada pelo Senado e enviada à sanção presidencial.
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