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Bolsonaro reclama de aliados: 'Vai pra trás, meu Deus', e vice de SC recua

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, em Brasília

26/06/2022 11h53Atualizada em 26/06/2022 20h13

O presidente Jair Bolsonaro (PL) expôs descontentamento com a presença de aliados muito próximos a ele durante agenda pública realizada ontem na praia de Balneário Camboriú. No momento em que saudava apoiadores, de mãos dadas com o empresário Luciano Hang, dono da rede varejista Havan, o governante ordenou que um dos presentes ficasse "para trás" —em um gesto com o objetivo de afastar a pessoa.

"Fica para trás, meu Deus do céu", disse o chefe do Executivo federal, visivelmente irritado.

Quem estava imediatamente ao seu lado era a vice-governadora de SC e colega de partido, Daniela Cristina Reinehr, que assimilou o recado e deu um passo em recuo —visivelmente constrangida. Também perto do mandatário do Palácio do Planalto estava o ex-secretário de Aquicultura e Pesca e pré-candidato ao senado Jorge Seif (PL), Jorge Seif Júnior.

O ângulo do primeiro vídeo que viralizou nas redes sociais sugere que o recado teria sido para Daniela —a reação dela se dá nesse sentido. No entanto, após a divulgação das imagens, apoiadores compartilharam cenas captadas por um outro ângulo e que indicam a presença de Seif no local, bem próximo ao governante, no momento em que Bolsonaro perde a paciência.

O ex-secretário chega a encostar no presidente, que rechaça o movimento e, logo na sequência, exclama: "Fica para trás, meu Deus do Céu".

De acordo com o entendimento de apoiadores nas redes, o gesto do presidente teria sido direcionado a Seif, e não a Daniela.

Em nota encaminhada à imprensa, a vice-governadora reafirmou que o pedido de Bolsonaro foi direcionado a Seif.

"(Ele) foi alertado que não era o momento de fazê-lo, pelo próprio presidente, prefiro deixar que este outro ângulo gravado na mesma situação, fale por mim. Ele demonstra de forma muito clara o que aconteceu."

Em seguida, Reinehr criticou a situação. "Editar vídeos com versões tendenciosas para distorcer fatos, não faz parte da agenda de trabalho. Estava ali participando da marcha e como apoiadora do movimento de transformação do Brasil e de Santa Catarina", destaca a vice-governadora Daniela Reinehr.

Assim como Seif e o senador Jorginho Mello (PL), Daniela é considerada apoiadora do presidente e costuma figurar em seu palanque durante as agendas no estado. Ela deve concorrer em outubro a uma vaga na Câmara dos Deputados pelo PL.

Já a relação com o governador Carlos Moisés (Republicanos), eleito em 2018 com a bandeira do bolsonarismo, é marcada por atritos. O político rompeu com o presidente logo depois de tomar posse do cargo, em 2019.

Ontem, quando Bolsonaro participava de agenda oficial em Balneário Camboriú, Moises foi ao Instagram para publicar um vídeo no qual ele vistoriava obras na BR-470 que, de acordo com a gestão local, estão progredindo com recursos do estado. A responsabilidade pela obra, no entanto, é federal.

"Nós poderíamos reclamar, tentar achar culpados, mas eu decidi colocar a mão na massa. A BR é federal, mas quem passa por ela são os catarinenses. Aqui tem governo", afirmou o governador.

'Exército de 200 milhões'

Pré-candidato à reeleição, Bolsonaro afirmou a apoiadores na praia de Balneário Camboriú que considera 'ter um exército que se aproxima de 200 milhões de pessoas'. O presidente foi à cidade catarinense para participar de um evento evangélico, a edição local da Marcha para Jesus.

Durante o discurso, o chefe do Executivo federal não fez qualquer menção à prisão do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro, investigado por indícios de tráfico de influência e corrupção na pasta.

Em tom golpista, mas sem esclarecer o seu raciocínio com detalhes, Bolsonaro voltou a dizer que 'tomará decisões' que, segundo ele, 'precisam ser tomadas'. De acordo com o seu entendimento, adversários jogam 'fora das quatro linhas da Constituição' e, 'cada vez mais', 'parece que será preciso' [em referência a potenciais medidas].

"Sempre tenho falado das quatro linhas da Constituição. Tenho certeza que, se preciso for, e cada vez mais parece que será preciso, nós tomaremos as decisões que devam ser tomadas [sic]. Porque cada vez mais eu tenho um exército que se aproxima dos 200 milhões de pessoas nos quatro cantos desse Brasil", declarou.

"Não podemos esperar chegar 2023 ou 2024 e olhar para trás, nós aqui, e perguntarmos a nós mesmos: o que não fizemos para que chegássemos a essa situação difícil de hoje em dia? Nós somos a maioria. A democracia é vocês [sic]. Você tem que dar o norte para todos nós."

A pesquisa mais recente do Datafolha, divulgada na quinta-feira (23), mostra que Bolsonaro tem 28% das intenções de voto e, se o cenário for confirmado nas urnas, perderia já no primeiro turno para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com 47%. No caso dos votos válidos, o petista tem 53% (mais do que a soma de todos os outros concorrentes), e Bolsonaro surge com 32%.

Em relação à pesquisa anterior, Lula oscilou para baixo dentro da margem de erro (de 48% para 47%). Já o pré-candidato à reeleição oscilou positivamente dentro da margem de erro em relação à última amostra, de 26 de maio deste ano (de 27% para 28%). O terceiro lugar é de Ciro Gomes (PDT), que passou de 7% para 8% no estudo mais recente. Outros dez candidatos estão empatados tecnicamente.

Em solo catarinense, Bolsonaro disse ainda que 'sabemos o que nos espera' e que pede a Deus 'que demovam essas pessoas dos seus objetivos'. Tais objetivos, segundo ele, 'não seriam os mesmos dos mais de 200 milhões de brasileiros'.