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Quem é o deputado que fez ligação entre Bolsonaro e irmãos de petista morto

O deputado bolsonarista Otoni de Paula (ao centro) posa com Fabrício Queiroz (à esquerda) em manifestação - Reprodução/Instagram
O deputado bolsonarista Otoni de Paula (ao centro) posa com Fabrício Queiroz (à esquerda) em manifestação Imagem: Reprodução/Instagram

Igor Mello e Ruben Berta

Do UOL, no Rio

13/07/2022 12h58

Enviado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) para tentar conter os danos à sua imagem após um militante bolsonarista assassinar o petista Marcelo Arruda no Paraná, o deputado federal Otoni de Paula (MDB-RJ) é membro da tropa de choque do governo na Câmara e acumula um longo histórico de controvérsias em sua carreira política.

Ontem (12), Otoni foi até Foz do Iguaçu, cidade em que Arruda foi assassinado pelo policial penal federal Jorge José da Rocha Guaranho, que invadiu atirando a festa de aniversário do petista —cuja temática era o ex-presidente Lula. Ele se reuniu com dois irmãos da vítima —ambos simpatizantes de Bolsonaro— e intermediou uma chamada de vídeo com Bolsonaro, na qual o presidente acusou a imprensa de estar colocando o assassinato "no seu colo". Bolsonaro ainda convidou os familiares de Arruda para participarem de uma coletiva ao seu lado em Brasília. Os dois irmãos não estavam presentes no momento do crime.

Além disso, o deputado ainda foi até o local da morte, onde entrevistou durante transmissão ao vivo nas redes sociais os dois irmãos bolsonaristas de Marcelo Arruda. Otoni instigou um deles, José Arruda, a acusar a esquerda de estar usando a morte de Marcelo "para fazer a campanha eleitoral deles".

As polêmicas serviram de trampolim para o pastor da igreja Assembleia de Deus Missão Vida, que entrou na política em 2016, ao se eleger vereador no Rio pelo PSC, com apenas 7.801 votos. Surfando em controvérsias que viralizaram nas redes sociais, ele se elegeu deputado federal em 2018, 120.498 votos, sendo o 7º mais votado do estado à Câmara dos Deputados.

Entre as polêmicas em sua passagem pela Câmara do Rio, o pastor afirmou que "o Carnaval se tornou um verdadeiro culto aos orixás com dinheiro público". Já no Congresso, ameaçou receber "à bala" petistas que fossem protestar na frente de sua casa, como havia sido sugerido pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Ofensa à cantora Anitta

Otoni de Paula fez um post no Facebook em 2017, no qual fez diversas ofensas à Anitta. Na publicação com uma foto sensual da artista, sob o título "Cantora ou garota de programa?", o político bolsonarista escreveu: "É lamentável vê (sic) uma cantora talentosa como Anitta se passar como uma vagabunda de quinta".

Anitta rebateu o então vereador. A cantora ironizou a postagem, dizendo que não trabalha como prostituta: "Sou cantora, empresária, compositora, coreógrafa e outros negócios (que não são da indústria pornográfica) mas que são tantos que teria que ficar algumas horas aqui escrevendo. Dou emprego pra aproximadamente 50 famílias diretamente".

Anitta ainda acusou o político de estar usando seu nome como plataforma para ser eleito na eleição de 2018 —o que de fato viria a acontecer.

"Sei como é importante e estratégico usar um nome de notoriedade na mídia para ganhar e espaço e assim começar a divulgar seu trabalho próximo ao ano eleitoral"

Constrangido, Otoni se viu obrigado a pedir desculpas à cantora após a réplica nas redes sociais: "Gostaria de me desculpar com o termo 'vagabunda de quinta', que minha equipe acrescentou ao texto. Nem você ou qualquer mulher do mundo merece receber esse adjetivo pejorativo", alegou, antes de negar que tivesse chamado Anitta de garota de programa. "Fiz uma pergunta mediante a foto que vi - querendo ressaltar que esse tipo de foto está mais para uma garota de programa do que para uma profissional como você."

Alvo de operação

Em agosto de 2021, Otoni de Paula foi alvo de mandado de busca e apreensão juntamente com o cantor Sérgio Reis por determinação do STF (Supremo Tribunal Federal).

A operação foi autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes. Otoni, Sergio Reis e os demais alvos da ação foram acusados de estarem insuflando seus seguidores nas redes sociais a participar de atos antidemocráticos no feriado de 7 de setembro —quando houve grandes manifestações bolsonaristas em Brasília e em São Paulo. O cantor Sergio Reis chegou a ameaçar o Senado com a realização de uma greve de caminhoneiros se a casa não adotasse medidas contra o STF, como abrir processos de impeachment contra ministros considerados adversários pelo presidente Jair Bolsonaro.

O parlamentar já havia sido denunciado pelo STF pelos crimes de difamação, injúria e coação no curso do processo por conta de ataques contra o ministro Alexandre de Moraes.

Somente em sua página no Facebook, o parlamentar possui 536 mil seguidores. Apesar disso, já teve postagens bloqueadas, como em 2017, quando publicou um vídeo discursando no plenário da Câmara de Vereadores em que associava a exposição de arte Queermuseu à pedofilia.

Dança homofóbica

Otoni começou a ganhar mais projeção em julho de 2018. Durante uma sessão de votação do impeachment do então prefeito Marcelo Crivella (Republicanos), fez uma dança mexendo o pulso e os ombros para o então vereador David Miranda (PSOL). O gesto foi classificado como homofóbico.

Miranda havia chamado Otoni de "hipócrita" no meio de uma discussão em que o pastor tinha feito um gesto de "banana" para pessoas que estavam nas galerias pedindo o afastamento de Crivella. Nas redes, o então vereador ironizou e adotou a expressão "dancinha do Otoni".

Se nos últimos tempos concentrou os ataques no STF (Supremo Tribunal Federal), no início de sua trajetória política, seus principais alvos eram políticos do PSOL.

Também como vereador, Otoni de Paula foi o único a votar contra a proposta que deu à tribuna da Casa o nome de Marielle Franco, vereadora do PSOL assassinada em março de 2018. À época da votação, afirmou que "era temerário votar o projeto com as investigações ainda em aberto".

Na campanha eleitoral de 2020, o parlamentar esteve ao lado de Crivella quando o então prefeito gravou um vídeo afirmando que seu adversário Eduardo Paes colocaria na Secretaria de Educação um integrante do PSOL —partido que sempre fez oposição a Paes. Crivella então perguntou: "Nós vamos aceitar pedofilia na escola no ensino infantil?". A Justiça Eleitoral obrigou o então prefeito a conceder direito de resposta ao PSOL.

Em abril daquele ano, Otoni e outras dez pessoas, incluindo o deputado federal Daniel Silveira (PSL), foram alvo de uma ação civil do Ministério Público do Rio por anunciarem uma carreata contra medidas restritivas de circulação que auxiliassem na contenção de casos de covid-19.

Trocas de lado

Na sua curta trajetória política, Otoni também não se importou de mudar rapidamente de aliados políticos. Antes de apoiar Crivella na campanha de 2020, o parlamentar chegou a romper com o ex-prefeito e o acusou de ser um "péssimo administrador".

"A incompetência do prefeito Crivella é o que mata a sua gestão", disse em um vídeo, publicado em setembro de 2020, em que ainda afirmou que o ex-prefeito não era "um homem de palavra".

Em 2018, Otoni de Paula chegou a gravar vídeos rasgando elogios ao candidato ao governo do Rio e ex-juiz federal Wilson Witzel, seu colega no PSC.

Em 2019, após o rompimento de Witzel com a família Bolsonaro, o parlamentar passou a se posicionar como um dos principais adversários do então governador no estado, ainda no primeiro ano de gestão.

No ano passado, Witzel entrou com uma queixa-crime contra Otoni por calúnia, difamação e injúria, que não foi aceita pelo STF.