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Alvo da PF, Codevasf deixou obras de irrigação após virar feudo do centrão

Cassio Moreira/Codevasf - Sede da Codevasf, em Brasília
Cassio Moreira/Codevasf Imagem: Sede da Codevasf, em Brasília

Do UOL, em Brasília

20/07/2022 15h41

Alvo de operação da PF (Polícia Federal), a Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba) deixou de lado sua função histórica de entregar obras de irrigação no semiárido após virar feudo de caciques do centrão — grupo de partidos que dá suporte ao governo federal no Congresso.

O comando da estatal foi entregue a aliados do presidente Jair Bolsonaro (PL) em troca de apoio político e teve o orçamento turbinado com bilhões de emendas parlamentares, conhecidas como orçamento secreto. Desde então, a Codevasf passou a priorizar obras de pavimentação e a entregar máquinas a municípios.

Segundo o jornal Folha de S.Paulo, entre 2018 e 2021, o valor reservado no orçamento para a estatal aumentou de R$ 1,3 bilhão para R$ 3,4 bilhões.

Nesta manhã, a PF deflagrou a "Operação Odoacro" que investiga supostas fraudes em licitação e desvio de verbas públicas em um, segundo a corporação, "engenhoso esquema de lavagem de dinheiro, perpetrado a partir do desvio do dinheiro público proveniente de procedimentos licitatórios fraudados".

Foram expedidos, no total, 16 mandados de busca e apreensão e já foram apreendidos cerca de R$ 1,3 milhão em cédulas de dinheiro, além de itens de luxo, como relógios importados e moto aquática. A operação foi realizada nas cidades de São Luís, Dom Pedro, Codó, Santo Antônio dos Lopes e Barreirinhas.

O sócio oculto da empresa foi preso nesta manhã. Ele é apontado como líder de uma quadrilha que tem como um dos focos desviar recursos públicos.

De acordo com a investigação, o grupo criminoso tinha contas bancárias vinculadas a CPFs falsos para realizar as fraudes e dificultar a atuação de órgãos de controle.

Alterações legais

A Codevasf foi "vitaminada" pelo governo Bolsonaro por meio de alterações legais, passando a ter jurisdição sobre cerca de 36,5% do território nacional, com 2.600 municípios — no começo do atual mandato presidencial, a companhia cobria 27% do país. Quando foi criada, em 1974, ela respondia por 7% do território nacional.

No ano passado, a diretoria da estatal mandou liberar pagamentos que estavam retidos de dois consórcios de empresas responsáveis por manutenção da infraestrutura da transposição do rio São Francisco, contrariando decisões de servidores responsáveis pela fiscalização dos contratos.

Os fiscais da Codevasf tinham determinado a retenção — conhecida tecnicamente como "glosa" — de pagamentos solicitados pelas empreiteiras de 2020 a 2021. Esses servidores detectaram uma diferença entre os valores dos salários registrados pelas empresas na folha de pessoal e o que estava previsto nos contratos.