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Reale Jr. e Cardozo: Bolsonaro incendiou sociedade com fala a embaixadores

29/07/2022 10h00

Miguel Reale Jr. e José Eduardo Cardozo estiveram em lados opostos da política recentemente. Reale foi autor do processo que causou o impeachment de Dilma Rousseff (PT), enquanto Cardozo defendeu a presidente na época. Agora os juristas articulam juntos a nova "carta aos brasileiros" e criticam Jair Bolsonaro (PL). Em participação no UOL News, nesta sexta-feira (29), eles explicaram que o recente discurso do presidente diante de embaixadores foi um "estopim" para movimentos de defesa da democracia.

Reale explicou que criou um "comitê de defesa da democracia" no ano passado, depois que Bolsonaro participou de atos que pediam intervenção no STF (Supremo Tribunal Federal), no dia 7 de setembro. Esse comitê fez reuniões com o STF, segundo ele. "Estávamos preparados para enfrentar o ataque contumaz que Bolsonaro faz a urnas, TSE e STF".

Neste ano esse comitê se aliou com outros setores, como a USP (Universidade de São Paulo) e a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), porque todos entendem que o presidente faz ataques contra a democracia, ao contrário do que ele disse nesta quinta (28).

"O presidente faz contínuas ameaças à democracia. Dizer que não fez ameaças não é verdade. Ele foi a atos de fechamento de Congresso, do Supremo, em que tinha faixas de 'intervenção já'. Isso incentivou fogos de artifício sobre prédio do Supremo. E agora ele reúne embaixadores para dizer no Palácio do Planalto que o Brasil é o país da fraude eleitoral. Esse foi o estopim. A sociedade civil acordou, cansou, estamos exaustos desse ataques à democracia, que foi conquistada com tanta dificuldade. Sei da luta que ocorreu. Foi um processo difícil", afirmou Reale, que participou da "carta aos brasileiros" de 1977, que repudiava a ditadura militar.

Reale defendeu a força de movimentos como este e até usou o exemplo dos Estados Unidos, dizendo que instituições se reuniram e por isso evitaram que a invasão do Capitólio tivesse consequências maiores.

O jurista, que já tinha participado de um pedido de impeachment de Bolsonaro, disse que a reação da sociedade civil demorou para "acordar", mas não chegou tarde. "Estamos com tempo de evitar o pior. Eu tenho muito medo do pior".

Cardozo reforçou que o encontro de Bolsonaro com embaixadores fez a sociedade brasileira acordar. "Essa fagulha ocorreu com um erro de Bolsonaro, com aquela situação em que ele, de forma tresloucada, chama embaixadores para um ato circense. Isso espantou o mundo e nos colocou em situação ridícula. E acho que não tem mais parada. Agora conseguimos a sinergia em defesa da democracia que precisávamos. Jair Bolsonaro riscou o fósforo que incendiou a sociedade brasileira".

O petista também comentou a reação de Bolsonaro, que publicou tweets ironizando a "carta aos brasileiros". Segundo Cardozo, isso mostra que o presidente está incomodado por ver a sociedade acordar.

"Eu estava preocupado porque via a sociedade civil adormecida, mas ela acordou e acho que Bolsonaro está sentindo isso. Por isso ele tem que ironizar, dizer que é democrata, quando todos nós lembramos que, desde quando era deputado, ele defendia ditadura, fechamento de instituições democráticas e torturadores. Agora a sociedade acordou e temos um conjunto de forças unidas em defesa do ataque maior à democracia", comemorou Cardozo.