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Anarquista, Jô defendeu Dilma, atacou Bolsonaro e viu Deltan ficar no vácuo

Jô Soares defendeu a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) em meio ao processo de impeachment e escreveu cartas abertas contra o presidente Jair Bolsonaro (PL) - Reprodução/Youtube
Jô Soares defendeu a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) em meio ao processo de impeachment e escreveu cartas abertas contra o presidente Jair Bolsonaro (PL) Imagem: Reprodução/Youtube

Do UOL, em São Paulo

05/08/2022 12h15

Jô Soares, que morreu hoje aos 84 anos, teve uma vida marcada também por seus posicionamentos em questões políticas. O artista, por exemplo, entrevistou a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) em meio ao processo de impeachment e escreveu cartas abertas contra o presidente Jair Bolsonaro (PL).

Jô entrevistou Dilma duas vezes no fim do mandato. Em 2015, Jô entrevistou Dilma no Palácio da Alvorada e foi criticado pelo tom da conversa. Após a exibição do programa, ele afirmou que considerou as críticas impertinentes e a entrevista "um sucesso".

Na época, a popularidade da então presidente já estava em baixa, mas Jô também aproveitou o momento para reforçar sua posição política: "Tem que ser anarquista. Intelectualmente, sou anarquista".

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Dilma e Jô em entrevista no Palácio da Alvorada em 2015
Imagem: Roberto Stuckert Filho/PR

Menos de um ano depois, ele recebeu Dilma em seu programa. Nesta ocasião, já em meio ao processo de impeachment, uma pessoa da plateia gritou "Fora Dilma!" e Jô rebateu: "Fala bobagem, fala". O apresentador defendeu que a plateia permanecesse imparcial.

A ex-presidente divulgou uma nota de pesar hoje e relembrou a passagem: "Quando eu estava sob intenso ataque da mídia e dos adversários políticos, ele abriu seu programa para me entrevistar. Foi uma conversa respeitosa e muito importante. Jô foi a única voz dentro da Globo disposta a me ouvir naquele momento."

Jô sempre criticou Jair Bolsonaro. Jô Soares era um crítico do governo Bolsonaro e, desde o início do mandato, publicou uma série de cartas abertas endereçadas ao presidente. Nos textos publicados entre abril de 2019 e março de 2021, Jô rebateu falsas alegações feitas por Bolsonaro sobre nazismo, atacou a escolha de Eduardo Bolsonaro para a Embaixada dos Estados Unidos - que acabou não se confirmando - e criticou a defesa do kit covid, entre outros.

Antes de chegar a presidência, Bolsonaro já era repreendido por Jô. Quando o então deputado disse à colega Maria do Rosário (PT-RS) que "não a estupraria porque ela não merecia", Jô se manifestou em apoio à deputada. Ao abordar o tema em seu programa, uma pessoa da plateia gritou palavras de apoio a Bolsonaro e Jô o repreendeu.

"Viva Bolsonaro", disse o homem. "Quem foi que gritou esse absurdo? Maluf está na plateia? Quem que gritou? É só para eu saber", questionou o apresentador. O espectador se apresentou e explicou seu posicionamento, ao que Jô respondeu: "Eu já ouvi muita bobagem na minha vida, mas essa supera a do Bolsonaro".

Hoje, Bolsonaro lamentou a morte do artista: "Independentemente de preferências ideológicas, Jô Soares foi uma grande personalidade brasileira que conquistou a todos com seu modo cômico de discutir assuntos profundos."

Deltan Dallagnol ficou no vácuo em entrevista. Entrevistado por Jô Soares enquanto ainda estava à frente da Operação Lava Jato, o procurador Deltan Dallagnol defendeu a investigação.

Deltan pediu autorização de Jô para perguntar à plateia quem acreditava que a Lava Jato iria mudar o país. O apresentador prontamente concordou com a enquete, mas viu a plateia discordar do procurador. Enquanto apenas uma ou outra pessoa disse acreditar no impacto da Lava Jato, a maioria esmagadora mostrou ceticismo.

Desavenças com João Doria. Em entrevista à Jovem Pan em 2017, Jô Soares relatou que nas eleições de 1989 encontrou com Doria na seção eleitoral e foi abraçado pelo empresário. Jô disse que estranhou, porque não tinha proximidade com Doria e "não tinha simpatia" por ele. Segundo Jô, Doria aproveitou o momento e colou um adesivo a favor de Fernando Collor em sua roupa, mas Jô defendia o voto em Mário Covas.

Hoje, João Doria lamentou a morte de Jô em suas redes sociais. "Um talento na TV, no teatro, na literatura e na arte. Jô sempre brilhou. Vai deixar saudade", escreveu o ex-governador de São Paulo no Twitter.

Lula também foi entrevistado. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também participou algumas vezes do Programa do Jô. Em uma das ocasiões, ele falou sobre a fome no Brasil e o programa desenvolvido por seu governo para atacar esse problema, o Fome Zero.

Em tom bem-humorado, Jô falou que ficava com sentimento de culpa, porque era perceptível que ele não passava fome. O comentário também foi recebido com bom humor pelo ex-presidente.

Hoje, Lula também homenageou Jô Soares: "Uma pessoa generosa que por anos conduziu entrevistas que foram um importante espaço de debate para o país. O Brasil hoje, nesse momento tão difícil, perde uma parte do seu humor, talento e inteligência. Mas nunca esquecerá da obra que nos deixou Jô Soares."