Bolsonaro no JN: entrevista em 2018 teve crítica à Globo e reação de Renata
O presidente Jair Bolsonaro (PL) confirmou ontem à TV Globo que vai participar de entrevista ao Jornal Nacional antes do primeiro turno das eleições. Após dizer que havia recusado a solicitação do mandatário para que a entrevista fosse realizada em Brasília, a emissora divulgou novo comunicado afirmando que a assessoria do presidente explicou que essa era uma "preferência" de Bolsonaro, mas que ele poderia ir até o Rio de Janeiro, onde ficam os estúdios da Globo, para a entrevista.
Em agosto de 2018, quando ainda estava na condição de candidato à Presidência da República, Bolsonaro participou de entrevista no mesmo formato. Durante 27 minutos, o então deputado federal respondeu perguntas de William Bonner e Renata Vasconcellos em uma conversa que foi marcada por momentos de debate, desrespeito às regras acordadas previamente e críticas de Bolsonaro à Globo.
Bolsonaro questionou o salário de Renata Vasconcellos em um dos momentos mais marcantes da entrevista. O então candidato respondia uma pergunta sobre o que faria para reduzir a desigualdade salarial entre homens e mulher no Brasil.
"Eu estou vendo aqui uma senhora e um senhor, eu não sei ao certo, mas com toda certeza há uma diferença salarial aqui, parece que é muito maior para ele do que para a senhora. São cargos semelhantes, semelhantes, são iguais...", disse o então candidato.
Bolsonaro foi interrompido por Renata, que rebateu: "(...) O meu salário não diz respeito a ninguém. E eu posso garantir ao senhor, como mulher, que eu jamais aceitaria receber um salário menor de um homem que exercesse as mesmas funções e atribuições que eu."
Homofobia e 'kit gay' estiveram no discurso do então deputado federal, que usou a alegação falsa de que os supostos "kit gay" estavam sendo distribuídos nas escolas. Neste momento, Bolsonaro tentou mostrar um livro, mas foi interrompido por Bonner.
"Nós temos uma regra, candidato, que eu estou relembrando, com os seus assessores, os candidatos não mostram documentos, eles não mostram papéis...", disse o jornalista.
"Não, mas está aqui no livro, uma prova, isso daqui...", insistiu Bolsonaro.
"Não é, candidato, posso lhe dizer, não é respeitoso", concluiu Bonner.
"Minha família é limpa". Logo no início da entrevista, Bolsonaro foi questionado por Bonner a respeito das críticas que o então deputado federal fazia à "velha política". À época, Bolsonaro usava a expressão "toma lá, da cá" para atacar políticos que cediam cargos em troca de favores. Cabe lembrar que ele foi deputado federal por 28 anos e passou boa parte deste tempo em partidos que integram o chamado Centrão.
O então candidato respondeu que sua família era "limpa" na política. "Sempre integrei o baixo clero em Brasília. Se tivesse, na forma de fazer política, ocupado altos postos, com toda certeza eu estaria envolvido na Lava Jato hoje em dia", afirmou.
Já durante o mandato, Bolsonaro se reaproximou do Centrão e tornou o bloco político seu principal aliado para garantir governabilidade. Em novembro passado, o presidente se filiou ao PL, um dos principais partidos do Centrão.
Roberto Marinho e a ditadura militar. Outro momento de polêmica foi a última pergunta da entrevista, quando William Bonner questionou Bolsonaro por uma declaração de seu vice, Hamilton Mourão, que aludia a um possível golpe militar. Bolsonaro considerou que a fala foi um "alerta" e se referiu a um editorial de 1984 em que Roberto Marinho defendia o regime militar.
"Eu fico com Roberto Marinho, o que ele declarou no dia 7 de outubro de 1984. (...) Repito a pergunta aqui: Roberto Marinho foi um ditador ou um democrata?", falou o então candidato à presidência.
Em 2013, o grupo globo publicou um editorial se retratando pelo apoio dado à ditadura militar. Ele foi lembrado por Bonner: "Candidato, nós aqui, trouxemos para a mesa o candidato à Presidência da República, já houve editorial sobre isso, o senhor certamente está informado, mas nós vamos encerrar agora, por causa do tempo."
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