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SC: mulher é presa e manifestantes agredidos pela PM em ato pela democracia

Abinoan Santiago

Colaboração para o UOL, em Florianópolis

12/08/2022 13h20Atualizada em 12/08/2022 15h30

Uma estudante de 23 anos foi presa na noite de ontem (11) pela PM (Polícia Militar) durante o ato pela democracia, em Florianópolis. Um vídeo que circula nas redes sociais mostra quando ela foi detida e também registra agressões contra outros manifestantes, no Centro da cidade. A corporação afirma que um militar se feriu durante a ocorrência e que a ação será alvo de inquérito.

A estudante de Filosofia da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) foi levada à penitenciária feminina do bairro Trindade, onde aguardou audiência de custódia e foi liberada pelo judiciário para responder em liberdade. Estudantes e movimentos sociais fizeram uma vigília desde ontem em frente ao complexo em solidariedade à universitária.

A confusão no ato começou após a estudante ser flagrada pichando um prédio público. De acordo com a professora universitária Elenira Vilela, que estava no ato e que permanece do lado de fora do presídio, o estopim foi quando um manifestante —ainda não identificado— tentou puxar a jovem das mãos dos militares.

"Ela estava pichando o muro. Quando viu a PM, acabou correndo, mas foram super truculentos, e ela foi encurralada em um canto. Ela ficou encurralada por três policiais e mantiveram-na ali. Nisso, os demais manifestantes, por solidariedade, tentaram mediar a situação, mas outro grupo policial foi chamado. Quando ele chega, um jovem, ainda não conseguimos identificar, tenta pegar a estudante, o que desencadeia agressão pela PM em todo mundo", relatou a professora ao UOL.

Nos registros que circulam pelas redes sociais é possível ver os policiais encurralando a jovem em uma parede e troca de empurrões.

Segundo Elenira, ao todo, 12 policiais participaram das agressões com uso de cassetete, spray de pimenta e balas de borracha. Os manifestantes ainda não conseguiram mensurar quantos participantes do ato sofreram ferimentos, pois teve quem procurou atendimento médico por conta própria.

O UOL tenta localizar a defesa da estudante.

'Algemada por duas horas'

Os manifestantes dizem que a universitária —não identificada a pedido do movimento estudantil— portava apenas spray de tintas e não representava perigo. Para eles, nada justifica a conduta da PM.

Em nota, a Polícia Civil de Santa Catarina informou que "diante de situação flagrancial respaldada por prova testemunhal, imagens e laudo de uma forte mordida no braço do policial militar", a estudante "foi autuada em flagrante delito pelos crimes de pichação e dano ao patrimônio público, desacato, resistência e lesão corporal ao policial militar".

"Eles trazem para a delegacia e não deixam ninguém acompanhar. Ela fica detida e mesmo assim demoram muito para registrar a ocorrência, mesmo sem outro atendimento na delegacia. Ao todo, ficou algemada por duas horas. Um policial diz que ela o mordeu, mas não sei como uma menina de um metro e meio e de 50 kg consegue ter força para mordê-lo", argumentou Elenira, que acredita que os crimes foram elencados pelos policiais para impedir o pagamento de fiança.

Manifestantes fazem vigília em solidariedade à estudante presa em Florianópolis - Elenira Vilela/Arquivo Pessoal - Elenira Vilela/Arquivo Pessoal
Manifestantes fazem vigília em solidariedade à estudante presa em Florianópolis
Imagem: Elenira Vilela/Arquivo Pessoal

PM diz que estava em menor número

A PM afirmou em nota que a ocorrência foi atendida pelo 4º Batalhão de Policia Militar da Capital e que "está instaurando" um inquérito policial militar para apurar o caso, pois um agente foi ferido.

A corporação ressalta que, "no momento da prisão, os policiais foram cercados e os manifestantes tentaram libertar a detida". "Desta forma, foi necessário o uso progressivo da força para o devido afastamento dos policiais que estavam em menor número."

"Além das várias ofensas verbais, um policial foi ferido no braço", continua o texto. "A feminina presa em flagrante foi encaminhada para a Polícia Civil. Desta forma, a Polícia Militar de Santa Catarina ressalta que também foram registradas outras diversas depredações em prédios e bens de uso comum da comunidade."

PM diz que prédio foi pichado e militar agredido - Divulgação/PMSC - Divulgação/PMSC
PM diz que prédio foi pichado e militar agredido
Imagem: Divulgação/PMSC

UFSC e OAB citam 'truculência' e 'uso excessivo de força'

A UFSC, instituição onde a estudante cursa Filosofia, se manifestou dizendo que "apresenta veemente protesto contra o uso da força excessiva, truculência e abusos cometidos pela Polícia Militar".

"No momento da prisão fica evidente a atitude injustificável dos policiais, que deveriam estar no ato para garantir a segurança dos manifestantes. É simbólico que isso tenha ocorrido no mesmo dia em que a UFSC abriu suas portas para acolher um evento pró-democracia. Inadmissível, também, é convivermos com atitudes autoritárias em repressão a manifestações pacíficas e legítimas em favor da liberdade e dos direitos sociais e fundamentais", completou.

Já a OAB classificou a prisão e as agressões como "uso excessivo da força física pelas autoridades policiais contra os manifestantes". A entidade disponibilizou auxílio jurídico.

"Tendo em vista que a liberdade de manifestação pacífica é um direito previsto na Constituição da República, e que deve ser garantido pelas autoridades públicas, a OAB/SC repudia o ocorrido e informa que, por intermédio da Comissão de Direitos Humanos, está acompanhando o caso para garantir auxílio jurídico à estudante presa", concluiu.