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Sakamoto: Nise ter tido ideia de trazer coração de D. Pedro 1º é coerente

Colaboração para o UOL, em São Paulo

25/08/2022 14h12

A médica oncologista e imunologista Nise Yamaguchi assumiu a autoria da ideia de trazer o coração de Dom Pedro 1º para as comemorações do Bicentenário da Independência do Brasil. Yamaguchi ficou conhecida nacionalmente por sua controversa participação na CPI da Covid e por defender o uso da hidroxicloroquina como tratamento para a doença, sem apresentar qualquer comprovação científica. Para o colunista do UOL Leonardo Sakamoto, há coerência no fato de uma pessoa que foi cúmplice das mortes provocadas pela covid-19 ter uma ideia que foi classificada como "mórbida".

Durante participação no UOL News, Sakamoto também fez questão de destacar a atuação do Governo Federal nesse processo, dizendo ser coerente com a atitude de quem "abraçou a morte como amiga". "É bastante coerente que alguém que foi cúmplice na mortandade da covid, cúmplice em quase 700 mil mortes através do que ela pregou durante a pandemia, tenha uma ideia mórbida dessa. É totalmente coerente, da mesma forma que é coerente um Governo Federal que abraçou a morte como amiga, não apenas na pandemia, mas também através de uma série de atos que liberou armas para as pessoas, tenha visto nessa ideia uma excelente forma de homenagear alguém. Então é tudo coerente nessa ideia".

O colunista do UOL também chamou a atenção para a repercussão internacional dessa situação. O coração de Dom Pedro 1º foi recebido com honraria por autoridades e está exposto para visitação do público no Palácio do Planalto. "O Governo Federal passou vergonha internacionalmente porque expôs um pedaço de carne, um pedaço do corpo de Dom Pedro 1º tratando esse pedaço de corpo como chefe de estado. Ele fez uma cerimônia no Itamaraty, avisou em nota pública que chamaria representantes diplomáticos de vários países para prestar suas homenagens àquele corpo. Isso lembra muito a Idade Média, na época que tinha pedacinhos de relíquias, de corpo, de osso, de tudo que as pessoas iam prestar sua homenagem aqui e ali".

Por fim, Sakamoto ainda afirmou que apesar de o Brasil não ser uma monarquia, o objetivo real é trazer holofotes para o presidente Jair Bolsonaro (PL). "O Brasil não é uma monarquia, apesar de que uma parte pequena da população gostaria que fosse e a gente ficar prestando homenagens a uma época de Império, sendo uma República", disse. "Tudo isso tem o objetivo de ajudar o Bolsonaro em evidência e a gente ficar discutindo isso. É muito triste, mas é esse tipo de coisa que a gente tem que aguentar na nossa democracia, e ainda bem que a gente tem democracia", finalizou.

Veja mais da repercussão da vinda do coração de Dom Pedro 1º ao Brasil:

Coração de Dom Pedro 1°: Nise Yamaguchi diz ter dado ideia de trazer órgão ao Brasil

"Eu dei o primeiro passo para tornar isto possível, inspirada pelo advogado Dr. Raul Canal [advogado especialista em direito médico], que mencionou que D. Pedro 1º tinha criado os Dragões da Independência e que tinha esta história do coração estar no Porto, em Portugal, e o corpo aqui no Brasil, no Museu do Ipiranga".

Em entrevista ao jornal O Globo, na semana passada, a médica oncologista e imunologista Nise Yamaguchi disse que sugeriu ao presidente Jair Bolsonaro (PL) que trouxesse o coração de Dom Pedro 1º ao Brasil para as comemorações do Bicentenário da Independência do Brasil. Ela ainda afirmou que a partir da sugestão, Luiz Phillippe de Orleans e Bragança, tetraneto de D. Pedro I, teria ido a Porto começar as negociações.

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"Esse coração vir ao Brasil é uma situação problemática. O que ninguém comenta é o quanto isso vai custar para o bolso dos brasileiros e brasileiras, porque o coração não só vem como volta. (...) vai ser uma palhaçada na minha opinião Jair Bolsonaro aguardar pelo coração como se fosse um dignitário que vem visitar o Brasil e nós precisamos nos perguntar sobre que noção de história é essa. Uma noção de história parada no tempo, morta e detida em órgãos falidos do corpo de um imperador".

A historiadora e antropóloga Lilia Schwarcz ainda chamou a atenção para uma cultura mórbida ao trazer o coração de Dom Pedro 1º ao Brasil. "Isso faz parte de uma certa cultura mórbida pelos corpos, essa batalha pelos corpos. Agora nós trazemos emprestado o coração de Dom Pedro. Toda essa história é uma história que esbarra na lenda, porque dizem também que o coração de Dom Pedro seria depositado como um testamento, a última vontade do imperador e na verdade esse documento também é falacioso".

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