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Coração de D. Pedro 1º: por que um órgão recebeu honras de chefe de Estado?

O presidente Jair Bolsonaro e a primeira-dama durante recepção ao coração de Dom Pedro 1º - Marcello Casal Jr./Agência Brasil
O presidente Jair Bolsonaro e a primeira-dama durante recepção ao coração de Dom Pedro 1º Imagem: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

Franceli Stefani

Colaboração para o UOL

26/08/2022 04h00

Considerado por algumas pessoas o símbolo dos afetos históricos entre Brasil e Portugal —como foi dito pelo embaixador George Monteiro Prata, do Itamaraty—, o coração de D. Pedro 1° foi recebido na segunda-feira (22), em Brasília, com honras de chefe de Estado.

Significa que uma solenidade com honrarias foi prestada para receber o coração como representação da presença de D. Pedro 1º —isto é, como se o próprio imperador se fizesse presente como autoridade suprema do ato.

Assim foi.

Embalsamado e dentro de uma urna dourada, chegou ao país a bordo da aeronave VC-99 Legacy, escoltado por dois caças F-5M da Força Aérea Brasileira (FAB).

A primeira vez, em 187 anos, que ele deixou a Igreja Irmandade de Nossa Senhora da Lapa, na cidade de Porto, em Portugal, foi para integrar as comemorações do Bicentenário da Independência.

Vale salientar que os demais restos mortais foram trazidos ao país em 1972 e estão depositados na Cripta Imperial no Parque da Independência, no bairro do Ipiranga, em São Paulo (SP).

O órgão foi recebido pelo presidente Jair Bolsonaro e pela primeira-dama, Michelle Bolsonaro, na rampa presidencial do Piratini, após desembarcar do Rolls-Royce presidencial.

Houve 21 disparos de canhão, honraria destinada aos chefes de Estado, entoação dos hinos e exibição da Esquadrilha da Fumaça da Força Aérea Brasileira, que chegou a desenhar um coração no céu azul de Brasília.

Mais tarde, escoltado pelos Dragões da Independência —responsáveis pela guarda das instalações presidenciais, além de executar o cerimonial militar da Presidência da República—, foi levado até o Palácio do Itamaraty, sede do Ministério das Relações Exteriores do Brasil.

Na cerimônia, com a presença do corpo diplomático estrangeiro, houve discurso do ministro das Relações Exteriores e uma apresentação da Orquestra Sinfônica da Força Aérea Brasileira.

Depois, o coração foi levado à sala de exposição, onde permanecerá exposto à visitação pública a partir de hoje (25), com visitação de escolas da rede pública do Distrito Federal, nos dias de semana, e do público geral, nos finais de semana.

Ele permanecerá para visitação até o dia 5 de setembro. No dia 8, retorna a Portugal, onde ficará exposto por mais dois dias na cidade do Porto, antes de ser guardado novamente no cofre.

O coração foi recebido por uma comitiva de muitas autoridades civis e militares, incluindo:

  • o presidente Jair Bolsonaro
  • a primeira-dama Michelle
  • o chanceler Carlos Alberto França
  • o ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira
  • o comandante da Força Aérea Brasileira, tenente-brigadeiro do ar Carlos de Almeida Baptista Junior
  • o embaixador de Portugal no Brasil, Luís Filipe Melo e Faro Ramos

O valor gasto pelo governo para trazer o coração para o Brasil não foi informado.

D. Pedro 1º foi o imperador do Brasil durante o período de 1822 e 1831, e é apontado como o responsável por declarar a Independência do Brasil em 7 de setembro de 1822, além de outorgar a primeira Constituição em 1824.

"Dois países unidos pela História, ligados pelo coração. 200 anos de Independência. Pela frente, uma eternidade em liberdade. Viva Portugal e viva o Brasil", disse Bolsonaro ao final da cerimônia.

O traslado da relíquia, no entanto, é controverso. Para os críticos, o governo Bolsonaro instrumentaliza a ação com fins políticos a poucos dias do 7 de Setembro, enquanto o entusiasmo português com o envio da relíquia ao Brasil parece reafirmar a perspectiva de que a independência brasileira é devedora do país colonizador.