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Moraes manda prender Jefferson, que atira contra PF; 2 ficam feridos

, Camila Turtelli e Mattheus Miranda

Do UOL e colaboração para o UOL

23/10/2022 13h41Atualizada em 23/10/2022 18h26

O ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB) reagiu hoje (23) com tiros contra agentes da Polícia Federal que cumpriam uma decisão do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes de prendê-lo em sua casa, em Comendador Levy Gasparian, a cerca de 140 km do Rio.

A PF informou que agentes foram à casa de Jefferson para cumprir a ordem de prisão e o alvo reagiu à abordagem, quando os agentes se preparavam para entrar na residência. Dois policiais, sendo uma mulher, foram atingidos por estilhaços. Segundo a corporação, eles foram levados a um pronto-socorro, passaram por atendimento médico e passam bem.

Durante a diligência, o alvo do mandado reagiu à ordem de prisão anunciada pelos policiais federais. Na ação, dois policiais foram feridos por estilhaços de granada arremessada pelo alvo e levados imediatamente ao pronto-socorro. Após o atendimento médico, ambos foram liberados e passam bem.
Nota da PF

Ainda de acordo com o texto, a equipe da PF no local foi reforçada.

Ofensas machistas. A ordem de prisão aponta o descumprimento de medidas cautelares por parte de Jefferson. Na decisão, Moraes pediu prisão, busca e apreensão e proibiu entrevistas.

A decisão ocorreu depois de Jefferson xingar a ministra Cármen Lúcia, do Supremo, e a comparar com "prostitutas", "vagabundas" e "arrombadas" em uma publicação na internet. Ele estava proibido de usar as redes sociais, justamente por outra ordem de Moraes.

A gravação foi publicada no perfil da filha de Jefferson, a ex-deputada federal Cristina Brasil (PTB), que teve a conta suspensa hoje.

Novos vídeos. O ex-deputado, que é aliado do presidente Jair Bolsonaro (PL), gravou vídeos em que confirma ter reagido à prisão contra agentes da PF, em sua casa.

"Chega de opressão, eles já me humilharam muito, a minha família. Mas eu não estou atirando em cima deles. Eu dei perto, eu não atirei neles. Eu não atirei em ninguém para pegar. Atirei no carro e perto deles. Eram quatro, eles correram, e eu falei: 'sai porque eu vou pegar vocês'. Isso que vocês têm que saber. Eles vão vir forte e eu não vou me entregar. Chega. É muita humilhação", disse Jefferson em um dos vídeos.

Informações preliminares dentro da PF indicavam que a policial fora alvejada de raspão na cabeça e na perna, porém isso não foi confirmado oficialmente.

Jefferson atualmente cumpre prisão domiciliar pelo inquérito das fake news. Uma das medidas que ele deveria cumprir no período é não publicar nas redes sociais.

No fim da tarde —mesmo após o vídeo do próprio ex-deputado—, a assessoria de Jefferson negou uso de granada e até mesmo de tiros.

Bolsonaro diz repudiar ação. O presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou nas redes sociais que repudia os ataques feitos pelo aliado contra a ministra Carmen Lúcia e a reação armada dele contra os agentes da PF.

No Twitter, Bolsonaro afirmou ainda que enviou o ministro da Justiça, Anderson Torres, para o Rio de Janeiro, onde Jefferson mora, para acompanhar a situação, classificada pelo chefe do Executivo como "lamentável episódio".

Em live, Bolsonaro tentou descolar sua imagem à de Jefferson. "Não tem uma foto dele comigo", disse. Nas redes sociais, internautas recuperaram situações em que os dois apareceram juntos.

Reação. Em um dos vídeos sobre ataque aos agentes da PF, Jefferson aparece irritado, afirmando que não iria se entregar e que decidiu abrir fogo contra a equipe de policiais. Na gravação é possível observar o para-brisas da viatura estilhaçado pelos disparos.

"Quem estiver perto corra pra lá. Bairro Golf, condomínio Marlene Novaes em Comendador Levy Gasparian. Aeroporto mais perto é o de Juíz de Fora", postou a deputada Cristiane Brasil (PTB), filha de Jefferson.

A assessoria de Roberto Jefferson afirmou que o ex-deputado só vai se entregar após falar com a imprensa. O ex-parlamentar convocou jornalistas para dar uma coletiva, mas não havia se pronunciado até por volta das 18h. Os ataques foram fortemente repudiados por políticos, inclusive bolsonaristas.

Em nota, 'injustiça'. Além dos vídeos, Roberto Jefferson divulgou uma nota. No texto, disse que a prisão domiciliar ocorreu por "decisão ilegal" e que "a injustiça todos os dias se renova sobre minha vida e da nossa família".

O ex-deputado afirmou ainda que os "superministros" não querem que seus atos como servidores públicos sejam criticados "ainda que promovam injustiças, gerando todo tipo de transtornos na vida dos brasileiros e nenhum sentimento de indignação à eles seja dirigido. É literalmente inaceitável", disse Jefferson.

O político criticou ainda a postura da OAB. "Nunca a Ordem dos Advogados saiu em minha defesa, para cumprimento da constituição ao qual jurou defendê-la", disse. Porém, salienta que em menos 24 horas dos xingamentos contra a ministra, a OAB acabou se movimentando a favor da magistrada.

"O palavreado chulo de indignação, de um indivíduo injustamente anulado civilmente é mais grave que a decisão, firme e deliberada, de conspirar contra cláusula pétrea da Constituição da República? Indignação seletiva é disfarce para guerra ideológica, manipulação das massas, conforme bemassentou a digníssima e competente Magistrada, Dra. Ludmila Lins Grilo."

O ex-deputado citou ainda os empresários que, em um grupo de Whatsapp, defenderam um golpe de Estado caso o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) seja eleito. Jefferson disse que a indignação dele se deve a ver outros brasileiros - como os empresários - passando por situações semelhantes a dele.

"Agora as vítimas são dignos jornalistas e veículos idôneos de nosso país. Tudo isso ocorre 'às barbas', do Senado Federal, OAB, Procuradoria-Geral da República", disse Jefferson.

O político entende que as palavras dele "não produzem efeitos devastadores na vida de nenhum magistrado", mas que "continuam realizando à mim, minha família e todos brasileiros supra citados, com suas malsinadas e ilegais decisões, comprometem toda a segurança jurídica Nacional". O ex-deputado classificou a situação como "tirania".