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PRF cortou um terço do efetivo entre 2º turno e início dos bloqueios

Do UOL, em São Paulo

03/11/2022 20h00

Na última segunda-feira (31), a PRF (Polícia Rodoviária Federal) cortou em mais de um terço o número de agentes que haviam trabalhado no dia anterior (30), durante o segundo turno das eleições.

  • Segundo dados obtidos pelo UOL Notícias, o efetivo que fiscalizou ônibus no domingo da votação foi de 3.664 agentes em todo o país.
  • No dia seguinte, quando mais de 200 trechos de rodovia já estavam bloqueados em reação ao resultado das urnas, o número de policiais em serviço operacional caiu para 2.310, uma queda de 36,95% em relação ao dia anterior.

'Omissão e inércia'. Iniciados já no domingo, horas após o anúncio da derrota do presidente Jair Bolsonaro (PL), os atos de contestação à vitória do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), se espalharam pelo país na segunda-feira.

No último balanço daquele dia, divulgado às 23h01 de 31 de outubro, a PRF afirmava que havia desfeito 84 manifestações, mas ainda havia 328 interrupções nas vias, entre interdições (fechamentos parciais) e bloqueios.

Horas antes, o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), havia ordenado a liberação imediata das rodovias, sob pena de multa de R$ 100 mil por dia, afastamento e até prisão do diretor-geral da PRF, Silvinei Vasques. Na decisião, Moraes viu "omissão e inércia" da PRF no combate aos bloqueios.

Naquela mesma noite, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres, afirmou, por meio do Twitter, que havia acabado de "determinar um reforço de efetivo, e de meios de apoio, a todas as ações possíveis para normalização do fluxo nas rodovias".

Na terça-feira (1), após a medida, o efetivo subiu para 3.327 agentes em serviço nas estradas. Apesar do aumento, o número ainda foi 9,2% inferior ao que havia participado das operações no domingo.

Reforço nas eleições. No final da noite de sábado (29), um dia antes do segundo turno, Moraes publicou um despacho proibindo a PRF de fazer qualquer operação relacionada ao transporte público de eleitores aos locais de votação.

No dia seguinte, mesmo com essa decisão, a PRF abordou 619 ônibus nas rodovias até as 17h, horário de fechamento das urnas. O número de veículos parados pelos agentes foi mais que o dobro do primeiro turno, em 2 de outubro, quando 297 coletivos haviam sido parados.

Dos 619 ônibus abordados no domingo, 295 estavam na região Nordeste, principal reduto eleitoral de Lula. A região, que tem 27% da população nacional, concentrou 47,6% das fiscalizações a ônibus no último domingo.

Após se reunir com Vasques, ainda no domingo, para questionar o descumprimento da ordem, Moraes assegurou que as ações da PRF não impediram o voto dos passageiros, porque os ônibus abordados pela PRF puderam seguir viagem.

No dia das eleições, a PRF reforçou o efetivo convocando policiais que estariam de folga, mas foram chamados a trabalhar com remuneração adicional. Apenas uma delegacia da PRF, em Colombo (PR), convocou 18 policiais de folga para o dia das eleições, segundo um documento a que o UOL Notícias teve acesso.

"A PRF claramente priorizou alocar seu efetivo operacional apenas no dia da eleição. E deixou o efetivo do dia seguinte próximo ao patamar normal, apesar dos bloqueios", avalia um agente da corporação que preferiu não se identificar. "Ou seja, no primeiro dia da crise, o mais sensível, a PRF estava despreparada, sem reforço", completa o policial.

O UOL Notícias procurou a PRF para comentar a redução no efetivo, mas não teve resposta até a publicação dessa reportagem. Se houver manifestação da corporação, o texto será atualizado.