Quem é coronel Hudson, que admitiu ter prevaricado em bloqueio no Paraná
O comandante-geral da Polícia Militar do Paraná, coronel Hudson Leôncio Teixeira, que aparece em um vídeo admitindo ter prevaricado ao permitir o bloqueio de uma rodovia no estado, já se envolveu em outra polêmica há sete anos, quando comandou a repressão de um ato de servidores públicos que deixou 200 feridos nos arredores da Alep (Assembleia Legislativa do Paraná) em 2015.
Vídeo que circula nas redes sociais mostra o momento em o comandante admite a um grupo de bolsonaristas pró-golpe que está "prevaricando" ao permitir o bloqueio parcial da PR-151 em Ponta Grossa, nos Campos Gerais.
O crime de prevaricação acontece quando funcionários públicos atuam de forma ilegal para atender a interesses particulares. Nos protestos ilegais, os manifestantes pedem por "intervenção militar", o que seria um golpe, e novas eleições.
Ao UOL, a assessoria de imprensa da PM afirmou pelo WhatsApp que o coronel "não vai falar a respeito" porque "está empenhado nos desbloqueios". Em nota, afirmou que "a liberação das estradas tem sido feita com negociação e uso progressivo e escalonado da força quando necessário".
O objetivo é cumprir integralmente a determinação judicial."
Assessoria de Imprensa da PM do Paraná
Quem é o coronel Hudson? Prestes a completar 51 anos em 20 de novembro, o curitibano Hudson ingressou na PM como soldado em maio de 1990, quando ainda tinha 18 anos e cursava a Academia Policial Militar. Ao final do curso, dois anos depois, já era aspirante a oficial.
Enquanto passava por cursos de aperfeiçoamento, como um estágio na Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), em São Paulo, e uma pós-graduação em Gestão de Pessoas, Hudson foi sendo promovido: em 1993, foi nomeado segundo-tenente, três anos depois chegou ao cargo de primeiro-tenente. Em 2006, era nomeado capitão.
Hudson recebeu o título de major em 2010, de tenente-coronel em 2014, para finalmente chegar ao cargo de coronel em 5 de setembro de 2019. Nesse período, foi comandante de quatro diferentes batalhões da PM, chefiou a divisão de Operações e Segurança e foi comandante da Rone —as Rondas Ostensivas de Natureza Especial, ligada ao Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais).
Foi quando se envolveu em outra polêmica: o chamado Massacre de 29 de Abril, ou Batalha do Centro Cívico.
Cachorro e gás de pimenta
Ao contrário da decisão de evitar confronto com os manifestantes bolsonaristas, em 2015, o coronel Hudson comandou uma ação do Bope que deixou 200 pessoas feridas. Ele autorizou seus comandados a reprimir um ato de servidores —principalmente professores— que, em 29 de abril de 2015, protestavam contra um projeto de lei que mudava as regras de aposentadoria.
Utilizando cachorros, bombas de efeito moral, balas de borracha e gás de pimenta, os policiais transformaram em cena de guerra o protesto que acontecia nas proximidades da Alep, em Curitiba. Hudson obedeceu às ordens do então governador Beto Richa (PSDB) e do então secretário de Segurança, Fernando Francischini (União Brasil), que recentemente perdeu o mandato de deputado estadual por disseminar informações falsas sobre as eleições de 2018.
Em junho daquele ano, o Ministério Público Estadual ingressou com uma ação civil pública por ato de improbidade administrativa contra seis autoridades, incluindo o coronel Hudson, descrito como "executor da ação policial, tendo parcial autonomia em relação a seus desdobramentos".
Em agosto de 2017, porém, a juíza Patricia de Almeida Gomes Bergonse rejeitou a ação alegando que os oficiais "encontravam-se amparados por ordem judicial de interdito proibitório, tendo se utilizado dos meios necessários e disponíveis para garantir a manutenção da ordem e impedir a invasão da Casa Legislativa e segurança de seus membros".
Nenhum agente do Estado foi responsabilizado pelo caso, incluindo Richa, Francischini, o então subcomandante-geral da PM, Nerino Mariano de Brito, o então comandante-geral da PM, Cesar Vinicius Kogut, e o então comandante da "Operação Centro Cívico", Arildo Luis Dias —todos incluídos na ação civil pública junto com o coronel Hudson.
Ratinho Júnior nomeia Hudson comandante-geral
Coronel Hudson foi nomeado o novo comandantge-geral da PM paranaense em 12 de fevereiro do ano passado em cerimônia na Academia Militar do Guatupê, em São José dos Pinhais, que contou com a presença do governador Ratinho Junior (PSD), reeleito este ano.
Hudson, que já ocupava o cargo de subcomandante-geral da PM, substituiu o coronel Péricles de Matos, que foi para a reserva remunerada.
Popular no Instagram. Seguido por quase 25 mil pessoas no Instagram, o comandante relembrou há uma semana dos "Bons tempos de Comando do BOPE": "Sempre será uma honra", escreveu.
Sem qualquer menção à vida pessoal, seu perfil na rede social é utilizado para exaltar a PM. A exceção ocorreu em um desabafo sobre a morte do pai, assassinado em 1975, aos 27 anos, quando Hudson tinha apenas quatro anos.
"A lembrança que tenho de você é a de uma placa pregada em um túmulo, com o seu nome e a data da sua morte", escreveu. Em outra postagem, escreve que "um tiro de 22 que atingiu e ceifou não apenas uma vida, mas a de toda uma família".
"Quem defende vagabundo, não sabe o que é ser privado da convivência de um pai pelas mãos de um", disse ele, antes de defender a retirada de armamento das ruas. "Pra mim é pessoal, cada arma que tiro da rua com minha equipe representa muito."
Eu só queria que alguém tivesse abordado aquele marginal e tivesse apreendido aquela arma. Se isso tivesse ocorrido talvez eu nem seria policial hoje."
Coronel Hudson Leôncio Teixeira, comandante-geral da PM do Paraná
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