Topo

Quem é coronel Hudson, que admitiu ter prevaricado em bloqueio no Paraná

Do UOL, em São Paulo

03/11/2022 14h54

O comandante-geral da Polícia Militar do Paraná, coronel Hudson Leôncio Teixeira, que aparece em um vídeo admitindo ter prevaricado ao permitir o bloqueio de uma rodovia no estado, já se envolveu em outra polêmica há sete anos, quando comandou a repressão de um ato de servidores públicos que deixou 200 feridos nos arredores da Alep (Assembleia Legislativa do Paraná) em 2015.

Vídeo que circula nas redes sociais mostra o momento em o comandante admite a um grupo de bolsonaristas pró-golpe que está "prevaricando" ao permitir o bloqueio parcial da PR-151 em Ponta Grossa, nos Campos Gerais.

O crime de prevaricação acontece quando funcionários públicos atuam de forma ilegal para atender a interesses particulares. Nos protestos ilegais, os manifestantes pedem por "intervenção militar", o que seria um golpe, e novas eleições.

Ao UOL, a assessoria de imprensa da PM afirmou pelo WhatsApp que o coronel "não vai falar a respeito" porque "está empenhado nos desbloqueios". Em nota, afirmou que "a liberação das estradas tem sido feita com negociação e uso progressivo e escalonado da força quando necessário".

O objetivo é cumprir integralmente a determinação judicial."
Assessoria de Imprensa da PM do Paraná

Quem é o coronel Hudson? Prestes a completar 51 anos em 20 de novembro, o curitibano Hudson ingressou na PM como soldado em maio de 1990, quando ainda tinha 18 anos e cursava a Academia Policial Militar. Ao final do curso, dois anos depois, já era aspirante a oficial.

Enquanto passava por cursos de aperfeiçoamento, como um estágio na Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), em São Paulo, e uma pós-graduação em Gestão de Pessoas, Hudson foi sendo promovido: em 1993, foi nomeado segundo-tenente, três anos depois chegou ao cargo de primeiro-tenente. Em 2006, era nomeado capitão.

Hudson recebeu o título de major em 2010, de tenente-coronel em 2014, para finalmente chegar ao cargo de coronel em 5 de setembro de 2019. Nesse período, foi comandante de quatro diferentes batalhões da PM, chefiou a divisão de Operações e Segurança e foi comandante da Rone —as Rondas Ostensivas de Natureza Especial, ligada ao Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais).

Foi quando se envolveu em outra polêmica: o chamado Massacre de 29 de Abril, ou Batalha do Centro Cívico.

Cachorro e gás de pimenta

Ao contrário da decisão de evitar confronto com os manifestantes bolsonaristas, em 2015, o coronel Hudson comandou uma ação do Bope que deixou 200 pessoas feridas. Ele autorizou seus comandados a reprimir um ato de servidores —principalmente professores— que, em 29 de abril de 2015, protestavam contra um projeto de lei que mudava as regras de aposentadoria.

coronel hudson - Divulgação - Divulgação
Coronel Hudson é o comandante-geral da PM do Paraná
Imagem: Divulgação

Utilizando cachorros, bombas de efeito moral, balas de borracha e gás de pimenta, os policiais transformaram em cena de guerra o protesto que acontecia nas proximidades da Alep, em Curitiba. Hudson obedeceu às ordens do então governador Beto Richa (PSDB) e do então secretário de Segurança, Fernando Francischini (União Brasil), que recentemente perdeu o mandato de deputado estadual por disseminar informações falsas sobre as eleições de 2018.

Em junho daquele ano, o Ministério Público Estadual ingressou com uma ação civil pública por ato de improbidade administrativa contra seis autoridades, incluindo o coronel Hudson, descrito como "executor da ação policial, tendo parcial autonomia em relação a seus desdobramentos".

Em agosto de 2017, porém, a juíza Patricia de Almeida Gomes Bergonse rejeitou a ação alegando que os oficiais "encontravam-se amparados por ordem judicial de interdito proibitório, tendo se utilizado dos meios necessários e disponíveis para garantir a manutenção da ordem e impedir a invasão da Casa Legislativa e segurança de seus membros".

protesto - Reprodução/Daniel Castellano - Reprodução/Daniel Castellano
Servidora foge da PM em ato de servidores reprimido pelo Bope em 2015
Imagem: Reprodução/Daniel Castellano

Nenhum agente do Estado foi responsabilizado pelo caso, incluindo Richa, Francischini, o então subcomandante-geral da PM, Nerino Mariano de Brito, o então comandante-geral da PM, Cesar Vinicius Kogut, e o então comandante da "Operação Centro Cívico", Arildo Luis Dias —todos incluídos na ação civil pública junto com o coronel Hudson.

Ratinho Júnior nomeia Hudson comandante-geral

Coronel Hudson foi nomeado o novo comandantge-geral da PM paranaense em 12 de fevereiro do ano passado em cerimônia na Academia Militar do Guatupê, em São José dos Pinhais, que contou com a presença do governador Ratinho Junior (PSD), reeleito este ano.

coronel hudson - Divulgação - Divulgação
O coronel Hudson se envolveu em outra polêmica, quando 200 servidores saíram feridos em ação do Bope
Imagem: Divulgação

Hudson, que já ocupava o cargo de subcomandante-geral da PM, substituiu o coronel Péricles de Matos, que foi para a reserva remunerada.

Popular no Instagram. Seguido por quase 25 mil pessoas no Instagram, o comandante relembrou há uma semana dos "Bons tempos de Comando do BOPE": "Sempre será uma honra", escreveu.

Sem qualquer menção à vida pessoal, seu perfil na rede social é utilizado para exaltar a PM. A exceção ocorreu em um desabafo sobre a morte do pai, assassinado em 1975, aos 27 anos, quando Hudson tinha apenas quatro anos.

"A lembrança que tenho de você é a de uma placa pregada em um túmulo, com o seu nome e a data da sua morte", escreveu. Em outra postagem, escreve que "um tiro de 22 que atingiu e ceifou não apenas uma vida, mas a de toda uma família".

"Quem defende vagabundo, não sabe o que é ser privado da convivência de um pai pelas mãos de um", disse ele, antes de defender a retirada de armamento das ruas. "Pra mim é pessoal, cada arma que tiro da rua com minha equipe representa muito."

Eu só queria que alguém tivesse abordado aquele marginal e tivesse apreendido aquela arma. Se isso tivesse ocorrido talvez eu nem seria policial hoje."
Coronel Hudson Leôncio Teixeira, comandante-geral da PM do Paraná