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Bolsonaro escolhe líder do centrão para transição; ministro já elogiou Lula

Jair Bolsonaro se diverte com o ministro Ciro Nogueira (Casa Civil) - Isac Nóbrega/PR
Jair Bolsonaro se diverte com o ministro Ciro Nogueira (Casa Civil) Imagem: Isac Nóbrega/PR

Gabriel Dias

Colaboração para o UOL

05/11/2022 04h00

O ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, foi a pessoa escolhida pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) para conduzir o processo de transição de governo junto a Geraldo Alckmin (PSB), vice de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Ciro foi responsável por consolidar ainda mais a aliança de Bolsonaro com o Centrão — grupo de partidos de centro e centro-direita que tende a apoiar governos de diferentes ideologias, em busca de espaço na máquina pública e recursos para suas bases eleitorais.

Ciro Nogueira, 52 anos, é piauiense, empresário e formado em Direito pela PUC-RJ. Antes de assumir o cargo de ministro-chefe da Casa Civil, ele exercia seu segundo mandato como senador.

Nogueira já foi deputado federal por quatro pleitos seguidos e é presidente nacional do Progressistas, partido do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), antiga legenda de Bolsonaro em seus anos de deputado federal.

Herdeiro da Arena — partido de sustentação do regime militar —, o Progressistas de Ciro Nogueira é uma das siglas que integra o Centrão, o grupo de partidos que participa sistematicamente de todos os governos eleitos na Nova República.

Nogueira apoiou todos os governos desde que chegou à Brasília pela primeira vez, como deputado federal do PFL, em 1995. Esteve na base de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Lula (PT), Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB).

Apoio ao PT

Em entrevista de 2017 resgatada recentemente por parlamentares da oposição, Nogueira afirma que o ex-presidente Lula (PT) foi "o melhor presidente da história desse país" e que não se via "votando contra o Lula" em uma eleição. Já em 2018, Nogueira declarou apoio ao candidato petista Fernando Haddad na disputa contra Bolsonaro.

Também apoiador de Dilma Rousseff (PT), Ciro Nogueira votou pelo impeachment da ex-presidente. Ao justificar a mudança de posição na época, o senador disse ter tentado chegar a uma solução que preservasse a estabilidade do governo Dilma, mas que isso foi "inútil" diante da expressiva votação pela abertura do processo na Câmara.

Escândalos de corrupção

O nome de Ciro Nogueira aparece nos desdobramentos da Operação Lava Jato, a qual o senador hoje critica como denúncias que visavam a "criminalização da política".

Em 2020, a Procuradoria-Geral da República denunciou Nogueira e afirmou que ele teria recebido R$ 7,3 milhões em "vantagens indevidas" da construtora Odebrecht.

A defesa de Ciro Nogueira afirmou, em nota, que "as primeiras denúncias apresentadas formalmente contra o senador Ciro Nogueira perante o Supremo foram completamente rechaçadas pela Corte, que tem se posicionado firmemente contra os excessos nas delações e contra essa criminalização da política".

Orçamento secreto

Mesmo crítico a Bolsonaro, Ciro Nogueira se tornou um dos seus maiores apoiadores no Congresso. Em troca, uma boa fatia na distribuição das chamadas "emendas do relator". Os mecanismos de distribuição não têm qualquer transparência ou critérios objetivos.

Segundo uma reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, veículo que teve acesso a uma planilha do governo com a distribuição de parte desses recursos, Nogueira escolheu o destino de R$ 135 milhões do orçamento do Ministério do Desenvolvimento Regional somente em dezembro de 2020.

Já o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), órgão comandado por um indicado de Nogueira — Marcelo Lopes da Ponte, ex-chefe de gabinete do senador — recebeu R$ 1,5 bilhão das emendas de relator em 2020, segundo o jornal O Globo.

A aliança com Bolsonaro também permitiu a Nogueira aumentar sua influência no Judiciário. Foi ele o principal padrinho da primeira indicação do presidente ao Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Kassio Nunes Marques, que também é do Piauí.

O governo Bolsonaro teve início em 1º de janeiro de 2019, com a posse do presidente Jair Bolsonaro (então no PSL) e de seu vice-presidente, o general Hamilton Mourão (PRTB). Ao longo de seu mandato, Bolsonaro saiu do PSL e ficou sem partido até filiar ao PL para disputar a eleição de 2022, quando foi derrotado em sua tentativa de reeleição.