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Após decisão do STF, multas por bloqueio passam de 800 para 5 mil por dia

Repórter presenciou bloqueio de mais de nove horas - Herculano Barreto Filho/UOL
Repórter presenciou bloqueio de mais de nove horas Imagem: Herculano Barreto Filho/UOL

Do UOL, em São Paulo

11/11/2022 15h32

Após o STF (Supremo Tribunal Federal) ter determinado a liberação das rodovias do país, a quantidade de multas aplicadas pela PRF (Polícia Rodoviária Federal) aos caminhoneiros saltou de 812, em 31 de outubro, dia seguinte à vitória nas urnas do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) contra o presidente Jair Bolsonaro (PL), para 4.995 no dia 2 de novembro.

A decisão do Supremo ocorreu em meio a suspeitas de omissão da PRF nas paralisações organizadas por bolsonaristas. O MPF (Ministério Público Federal) pediu à Polícia Federal a abertura de inquérito para apurar possíveis irregularidades cometidas por Silvinei Vasques, diretor geral da PRF. Procurada pelo UOL Notícias, a órgão não se posicionou até o fechamento da reportagem.

Hoje, em nova decisão, Moraes ampliou a decisão de desobstruir vias e a aplicação de multas para todo o território nacional, o que inclui ruas e avenidas dentro de cidades.

Uma multa a cada 17 segundos. No dia 31, no auge do ato antidemocrático com pedidos de intervenção federal, foram registrados mais de 300 bloqueios em 25 estados brasileiros e no Distrito Federal. Em contraste, foram aplicadas 812 infrações —uma a cada dois minutos.

No dia seguinte, após a ordem de desobstrução, a PRF aplicou 3.175 multas. No dia 2, foi registrada a maior quantidade de autuações, com 4.995 —em média, uma multa a cada 17 segundos.

Os bloqueios começaram no dia 30 de outubro, quando ocorreu o segundo turno das eleições presidenciais.

A PRF aplicou 55 autuações para pessoas e empresas envolvidas na organização dos bloqueios. Nesses casos, é previsto pagamento de multa de R$ 17.608,20, de acordo com o artigo 253-A do Código de Trânsito Brasileiro. Desses casos, 90% ocorreram após a determinação do STF —apenas seis notificações ocorreram antes disso.

Entre a noite de 31 de outubro e a manhã de 1º de novembro, no auge das paralisações, a reportagem do UOL Notícias permaneceu por mais de nove horas em um ônibus interestadual travado em um bloqueio no rodoanel Mário Covas, que dá acesso à rodovia Régis Bittencourt, em Embu das Artes (Grande São Paulo). Na ocasião, havia agentes da PRF no local, mas eles não se mobilizaram para desobstruir a via.

O coletivo só chegou ao destino final em Santa Catarina após 42 horas na estrada em um veículo com crianças e idosos passando mal em um percurso de 770 quilômetros. A velocidade média foi de 18 quilômetros por hora no trajeto.

Tensão nas estradas após determinação

A ação de agentes da PRF após a determinação do Supremo acirrou os ânimos em alguns pontos de bloqueio. Os policiais foram recebidos a tiros por manifestantes enquanto tentavam desobstruir um trecho da BR-163 em Novo Progresso, sul do Pará, na manhã de 7 de novembro. Um agente se feriu.

No mesmo dia, bolsonaristas usaram barras de ferro para agredir agentes na BR-470, em frente a uma loja da Havan em Rio do Sul (SC). Atingido na cabeça, um dos policiais só não se feriu com mais gravidade porque estava de capacete.

O agressor foi preso em flagrante e indiciado por tentativa de homicídio.

Willian Jaeger foi preso em flagrante por tentativa de homicídio após agredir um agente da PRF com uma barra de ferro em um ponto de bloqueio em Rio do Sul (SC), em frente à loja da Havan - Reprodução - Reprodução
Willian Jaeger foi preso em flagrante por tentativa de homicídio após agredir um agente da PRF com uma barra de ferro em um ponto de bloqueio em Rio do Sul (SC), em frente à loja da Havan
Imagem: Reprodução

Ele foi identificado como o catarinense Willian Jaeger, 33, autor de postagens negacionistas durante a pandemia e sócio da empresa Pré-Fabricar Construções Ltda, multada pela PRF por participação no bloqueio.

A infração ocorreu às 13h57 do dia 3 de novembro no km 136 da BR-470, a apenas 11 quilômetros da sede da empresa.

A defesa dele foi procurada, mas não quis se manifestar sobre o caso.