Temos obrigação de fazer a reparação aos povos indígenas, diz Lula
O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou hoje que o Brasil tem a obrigação de recompensar os povos indígenas pelo que foi feito com eles ao longo da história. As declarações foram dadas durante participação em uma reunião com lideranças indígenas mundiais na COP27 (Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas).
Entre cutucadas contra lideranças globais, Lula falou da importância em introduzir representantes indígenas dos cinco continentes no centro do debate internacional. Ele também voltou a prometer a criação do Ministério dos Povos Originários no Brasil, ao lado de parlamentares eleitos.
Este é o segundo dia de participação do Lula na mais relevante conferência do clima do ano. Ontem, participou de um encontro com governadores da Amazônia e discursou para lideranças, cobrando que os "países ricos" cumpram suas promessas de investimento em relação ao meio ambiente. Nesta manhã, participou de um encontro com representantes da sociedade civil.
Eleito, o petista foi convidado do presidente do Egito, Abdel Fattah El Sisi, que organiza a conferência. Bolsonaro decidiu não participar. Amanhã, Lula vai a Portugal se encontrar com autoridades locais.
Reparação histórica. Lula afirmou que os países ao redor do mundo têm a obrigação de recompensar os povos indígenas pelo que foi feito com eles ao longo da história. O Brasil, ele lembrou, chegou a ter 5 milhões de indígenas e hoje tem pouco mais de 800 mil.
Dá a impressão que os indígenas estão devendo favor à supremacia branca por existirem, quando foram eles que se intrometeram onde vocês já moravam muito antes de [eles] saberem que o nosso país existia. Temos a obrigação moral, ética, política de fazer a reparação pelo que causaram aos povos indígenas, sobretudo no meu país."
Lula, a indígenas, na COP27
O petista declarou que os governantes, às vezes, encaram os povos indígenas como "empecilho para o desenvolvimento".
"Eles esquecem que não foram os indígenas que invadiram nada, foram os brancos que invadiram a terra indígena. Então dê a ele o direito de sobreviver, de plantar, de trabalhar, de conservar a água limpa para pescar e sobreviver", disse.
Cutucada. Como ontem, Lula voltou a cobrar o papel de lideranças globais no debate sobre clima, meio ambiente e preservação dos povos indígenas.
"Eu não tenho representatividade para representar os anseios dos povos indígenas dos cinco continentes. Participei de todas as reuniões do G8 quando fui presidente e de todas do G20 — a coisa que eu mais sentia é que não se falava dos problemas da sociedade nessas reuniões", criticou.
Quando se reúnem os presidentes dos países ricos, pessoas pobres não existem, os indígenas não existem, os negros não existem, a periferia não existe. Porque esse não é um assunto levado para a mesa de discussão."
Nova pasta. Ao lado da deputada federal eleita Sônia Guajajara (PSOL-SP), que falou pouco antes do petista, Lula reforçou o compromisso de campanha em criar o Ministério dos Povos Originários, que não deverá ter só a participação de lideranças do povo indígena brasileiro, como será necessariamente gerenciada por algum representante. Ela é uma das cotadas para comandar a nova pasta.
"O que eu quero é que os indígenas brasileiros participem da governança do meu país", afirmou, dizendo ainda que pretende ter "uma saúde pública especial" gerida por indígenas. "A Fundação Nacional do Índio [Funai], que existe no Brasil há muito tempo, não precisa ser dirigida por um branco, pode ser dirigida por uma mulher indígena", completou.
Para que a gente mude a compreensão sobre as pessoas, para que não veja o indígena como um estorvo ao desenvolvimento da sociedade, como se fosse alguém que estivesse atrapalhando o desenvolvimento econômico de uma nação. A humanidade está percebendo que cuidar do meio ambiente, da preservação, do nosso ecossistema e da biodiversidade já não é mais uma coisa menor, é de suma importância, porque não temos dois planetas Terra, temos apenas um."
O petista afirmou ainda que vai fazer "tudo o que puder para representar as reivindicações deles em encontros com outros líderes".
Cúpula da Amazônia. Além disso, Lula também voltou a falar em uma cúpula com outros países que também fazem parte da Amazônia, como a Venezuela, a Colômbia, o Peru e a Bolívia. "Nunca nos reunimos para formular uma proposta conjunta ao mundo. Não é só preservar, é também saber quanto vão nos pagar para a gente cuidar do planeta Terra".
Lula está participando da COP27, conferência climática da ONU (Organização das Nações Unidas) desde ontem, e faz seus primeiros discursos internacionais desde a vitória na eleição. O posicionamento atual era esperado por lideranças do mundo todo dado o papel central que o Brasil ocupa na proteção à maior floresta tropical do mundo.
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