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Minc: Recuperar mecanismo ambiental desativado por Bolsonaro não será fácil

Colaboração para o UOL

17/11/2022 09h47

Carlos Minc, ex-ministro do Meio Ambiente, afirmou em entrevista ao UOL News que o mecanismo ambiental no Brasil foi destruído pelo governo de Jair Bolsonaro (PL). Ele faz parte da equipe de transição do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e pretende "reconstruir" esse sistema, com modelo semelhante ao que havia em governos anteriores do PT.

"Estamos nos preparando na equipe de transição para reconstituir o mecanismo ambiental que foi desativado pelo governo Bolsonaro. Criamos o Fundo Amazônia em 2008. Alemanha e Noruega estão prontas para retomar o Fundo Amazônia, mas isso não é automático", explicou Minc. "Temos que reconstruir o comitê orientador do Fundo da Amazônia, que foi desativado - essa foi uma das razões dessa interrupção do Fundo. E temos que incentivar projetos para criar empregos verdes", afirmou.

Minc entende que essas doações do Fundo Amazônia devem ficar fora do teto de gastos. Ele também afirmou que Lula pretende chamar de volta pessoas que foram afastadas durante o governo Bolsonaro, como Ricardo Galvão, ex-diretor do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). E o delegado Alexandre Saraiva, responsável por denunciar um suposto envolvimento do ex-ministro Ricardo Salles (PL) em contrabando de madeira ilegal.

Outra proposta citada por Minc é retomar o zoneamento ecológico para criar empregos. "Não basta reprimir os criminosos. Tem que mostrar onde e como pode haver empreendimentos. Isso é importante. Tem que criar empregos sem destruir. E acompanhando os compromissos climáticos que não foram cumpridos".

Minc: É preciso um "revogaço ambiental" para controlar desmatamento

Minc também criticou a forma como Bolsonaro agiu no controle do desmatamento. E sugeriu revogar mais de 100 atos decretados pelo atual governo federal.

"Bolsonaro achava que o Ibama era uma indústria de multa e criou todas as dificuldades para que multas fossem aplicadas. Esses decretos têm que ser revogados. É um revogaço ambiental. Já listei 120 atos, entre decretos, portarias e instruções, que têm que ser revogados. Isso é a parte fácil. Com uma assinatura, isso vai para lixeira. O difícil é reconstruir isso e combinar com estímulos. Não é só caso de polícia. Tem que estimular o bom desenvolvimento", declarou o ex-ministro.

Minc: Lula está pensando em quem vai ser o ministro do Meio Ambiente

Perguntado sobre quem será o novo ministro do Meio Ambiente, Minc disse que ninguém sabe responder, mas citou possíveis nomes.

"Acho que o Lula ainda está pensando. Ele tem várias possibilidades. Marina Silva é um nome fortíssimo. A Isabela Teixeira é muito técnica, nunca foi de partido algum e tem 30 anos de Ibama. Tem um companheiro que tem grandes possibilidades, o nosso vigoroso senador do Amapá, Randolfe Rodrigues (Rede), que brilhou na CPI da Covid. Ele é da região e da Rede, então contemplaria a Marina. O Lula está analisando", concluiu Minc.

Jamil: Lula usou a Amazônia como instrumento de inserção do Brasil no mundo

O colunista do UOL Jamil Chade também participou do UOL News e falou sobre o discurso de Lula na COP27 (Cúpula do Clima das Nações Unidas). Segundo ele, o presidente eleito não falou apenas de clima.

"Foi um discurso que usou a Amazônia como instrumento de inserção do Brasil no mundo. Não foi um discurso só sobre clima. Não deve ser lido apenas como discurso do meio ambiente. Até porque alguns compromissos a gente já sabia. Era uma questão de anúncio", disse.

"O que ficou claro é que você tem um novo comportamento do governo, usando a Amazônia para se apresentar ao mundo. Ganhando credibilidade para voltar a ser ouvido nas grandes decisões mundiais. Lula manda mensagens estratégicas. Para os países ricos, nós estamos abertos" afirmou o jornalista.

Jamil também ressaltou a diferença entre os discursos de Lula e Bolsonaro.

"Não é o discurso bolsonarista: aqui ninguém entra. Também deixa claro que não há espaço para negacionismo, reconhecendo o aquecimento global. E teve mensagens também para países em desenvolvimento, falando com a África e a América Latina. Inclusive evitando um mundo multipolar, para que você não tenha que escolher entre hegemonia americana ou chinesa. É criar um cenário que não tenha apenas dois polos de poder. Foi um discurso de política externa dizendo ao mundo: 'Quero sentar na mesa dos adultos'", opinou Jamil.

Josias: Sucesso de Lula na COP é a última realização do governo Bolsonaro

Josias de Souza também comentou sobre o discurso de Lula na COP27 e afirmou que o presidente eleito teve um "êxito extraordinário". Mas, em sua opinião, isso só aconteceu por causa de erros de Bolsonaro.

"Em tempos normais, seria só mais um discurso previsível, em que Lula misturou o que já vinha declarando na campanha com um par de frases de efeito. O que tornou esse pronunciamento em algo extraordinário foram os escombros que Lula precisou escalar para se dirigir ao mundo. O sucesso do Lula deve ser visto como a última grande realização do governo Bolsonaro", analisou Josias no UOL News.

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