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'A hora é essa': analista de sistemas convocou ataque à PRF no Pará, diz PF

Ricardo Foresti, em foto com Bolsonaro, é apontado pela PF como organizador de ato golpista em Novo Progresso, no Pará. Bloqueio teve ataque à PRF em 7/11 - Reprodução
Ricardo Foresti, em foto com Bolsonaro, é apontado pela PF como organizador de ato golpista em Novo Progresso, no Pará. Bloqueio teve ataque à PRF em 7/11 Imagem: Reprodução

Do UOL, em São Paulo

06/12/2022 04h00Atualizada em 06/12/2022 10h41

A Polícia Federal aponta o analista de sistemas Ricardo Foresti, 36, como autor de convocações para um confronto com a PRF (Polícia Rodoviária Federal) na BR-163 em Novo Progresso, no sul do Pará. Segundo a investigação, Foresti chamou a população a bloquear a estrada meia hora antes de uma operação da PRF destinada a liberar a via.

De acordo com um relatório da PF, Foresti enviou mensagem a um grupo de WhatsApp de moradores da cidade na véspera do confronto, afirmando que "a hora é essa", e gravou um vídeo no local do confronto. Em seu perfil no Instagram, ele publicou fotos indicando estar acampado no local e ter participado da ocorrência com a PRF, que deixou um agente ferido.

No último dia 24, Foresti foi um dos dez alvos da operação "163 Livre", que investiga atos em reação à derrota do presidente Jair Bolsonaro (PL). No local, a paralisação da rodovia havia se consolidado em 3 de novembro, quatro dias após a vitória do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A paralisação começou um dia após uma convocação por vídeo de Claudia Kummer, uma pedagoga de 48 anos também investigada pela PF. Conforme mostrou o UOL Notícias, Ela é suspeita de ter "participação interestadual" na organização dos atos golpistas, mas está foragida há mais de uma semana.

Já Foresti e outros cinco investigados chegaram a ser alvos de prisão temporária — de 5 dias, prorrogados por mais 5 —, mas foram soltos na semana passada.

A reportagem tentou contato com Foresti por mensagens, mas não obteve resposta, e não foi possível localizar a advogada apontada no processo. Se houver manifestação da defesa, ela será incluída no texto.

Organizador antecipou ação da PRF, indica mensagem. A operação da PF sobre o bloqueio da BR-163, no último dia 24, foi focada especialmente em suspeitos identificados por imagens no local do confronto. Os alvos não incluíram possíveis financiadores do movimento, apenas participantes diretos ou autores de convocações.

A investigação mostra que o bloqueio em Novo Progresso foi convocado no dia 2 de novembro e se instalou no dia seguinte. O MPF (Ministério Público Federal) apura, entre outros, os crimes de tentativa de homicídio contra os agentes da PRF e constrangimento ilegal a comerciantes, para que aderissem à paralisação.

Segundo indicam áudios e mensagens anexadas a um relatório da PF, os manifestantes de Novo Progresso vinham apreensivos com o que havia ocorrido dois dias antes em uma cidade vizinha, Guarantã do Norte (MT), onde a PRF reconheceu ter usado a força para liberar outro trecho bloqueado da BR-163.

Às 10h36 do dia 7 de novembro, diz o relatório, Foresti enviou em um grupo de WhatsApp: "Pessoal, vamos todos pra lá, a hora é essa. Eles vão pra cima as 11hrs. Vamos no máximo de pessoas lá", escreveu às 10h36, menos de meia hora antes do confronto. A reportagem manteve a grafia das mensagens originais. A PF aponta ainda que ele gravou um vídeo no local do confronto.

Fotos mostram participação nos atos. Foresti é filho de um empresário, dono de uma papelaria em Novo Progresso, que doou R$ 2.000 para Bolsonaro em uma "ação entre amigos" da região. Ele aderiu a uma corrente de WhatsApp com dezenas de apoiadores do presidente, que registraram aportes a partir de R$ 1.000 à campanha.

Segundo seu perfil no Instagram, Foresti é analista de sistemas, formado em agosto do ano passado por uma faculdade local. Em fevereiro de 2020, ele compartilhou uma foto próximo a Bolsonaro em uma visita do presidente a Novo Progresso. "Momento único... bem próximo ao presidente Bolsonaro... Muita humildade, ele é o cara", escreveu.

Desde o início dos bloqueios do Pará, ele publicou fotos sugerindo que participou ativamente do enfrentamento às equipes da PRF.

Uma das imagens mostra um aparente acampamento, com mesa, material de cozinha e churrasqueira. Na legenda da foto, Foresti escreve: "Se é pra resistir! resistiremos até o Brasil ser dos brasileiros!" (na grafia original da mensagem).

Story no dia do conflito. Em 7 de novembro, dia do confronto com a PRF, os manifestantes teriam reagido a uma tentativa dos agentes de liberar a via, o que provocou uma aparente troca de tiros.

Vídeos mostram pessoas atirando pedras e outros objetos nas viaturas, que aceleravam para deixar o local. Em outros vídeos que circularam após o ocorrido, caminhoneiros mostram buracos de bala em seus veículos que teriam sido provocados pela PRF.

Foresti publicou em seu Instagram um story — publicação que fica disponível por 24 horas — mostrando projéteis nas palmas das mãos. Na legenda da foto, ele escreveu: "os cara nao tava brincando", sugerindo que os tiros partiram dos policiais rodoviários.

Após o episódio, a PRF reconheceu que, após não ter conseguido convencer os manifestantes a liberar a BR-163, teve que "intervir fazendo uso progressivo da força" e que, nesse momento, o grupo teria "optado por atacar a polícia".

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do que informava a primeira versão do texto, Ricardo Foresti enviou a mensagem no dia 7 de novembro, e não em setembro. O texto foi corrigido.