Topo

Esse conteúdo é antigo

Bolsonaro critica Lula, diz que atos golpistas são legítimos e ataca TSE

Do UOL, em São Paulo*

30/12/2022 11h24Atualizada em 30/12/2022 19h26

Em sua primeira live desde que perdeu a eleição, o presidente também criticou "ato terrorista no aeroporto de Brasília", defendeu seu mandato e, chorando, pediu calma aos apoiadores a partir de 1º de janeiro: "Não tem tudo ou nada".

Para entender a live de Bolsonaro em cinco pontos

  • Indicou que aceitou a derrota, pela primeira vez desde as eleições, ao dizer que "o mundo não acaba no dia 1º"
  • Disse que as manifestações antidemocráticas nos quartéis desde as eleições são legítimas
  • Condenou o ato terrorista em Brasília, quando um manifestante bolsonarista tentou explodir uma bomba próximo ao aeroporto da cidade --ele reclamou do vínculo do manifestante aos seus apoiadores.
  • Mentiu sobre porte de armas e a taxação do PIX pelo futuro governo Lula
  • Atacou a formação do ministério de Lula, ao dizer que o seu atual ministério é técnico ao contrário do do petista.

"Não tem tudo ou nada", afirmou Bolsonaro em recado aos apoiadores. "Somos diferentes do outro lado, respeitamos a Constituição."

Quando está dificil, tem de buscar apoio, trazer gente para o nosso lado e prepará-las para os momentos difíceis"
Jair Bolsonaro, em live

"Nada está perdido", continuou. "O Brasil não vai se acabar no dia 1º de janeiro", disse, ao afirmar que o novo Parlamento "voltará mais conservador, mais independente do poder Executivo".

Bolsonaro criticou o futuro governo ao dizer que "o quadro a partir de 1º de janeiro não é bom" e que muitos eleitores de Lula já estariam "arrependidos".

Ele também ironizou a futura equipe ministerial ao insinuar que as escolhas não foram "técnicas". "Comparem os meus ministros com os de governos anteriores", disse. "Comparem com os indicados do nosso opositor."

Bolsonaro justifica protestos

Bolsonaro também endossou as manifestações antidemocráticas ao afirmar que "a esperança de vitória era palpável".

"Fomos massacrados no horário eleitoral, acusações absurdas", disse ao se queixar da Justiça Eleitoral, que não teria aceitado as reclamações formalizadas por sua campanha.

"Mas a Justiça Eleitoral não foi imparcial, foi parcial. Aí vimos o resultado: se você duvidar da urna, você está passível a responder processo. Tudo bem, não vamos duvidar da urna aqui. Nosso partido entrou com petição e veio o TSE e deu multa de R$ 22 milhões", disse.

Qualquer medida de força tem reação. Precisa ter dialogo. Isso tudo trouxe uma massa de pessoas para as ruas, protestando, desde o dia seguinte às eleições"
Jair Bolsonaro, em Live

"E essa massa atrás de segurança foi para os quartéis", continuou. "Eu não participei, me recolhi e acho que fiz a coisa certa para não tumultuar mais ainda."

"Não tinha liderança, ninguém coordenando. O protesto pacífico, ordeiro, seguindo a lei, tem de ser respeitado, contra ou a favor de quem quer que seja", concluiu.

"Nada justifica ato terrorista"

O presidente criticou, porém, os excessos dos atos antidemocráticos.

"Nada justifica essa tentativa de um ato terrorista aqui na região do aeroporto de Brasília. Nada justifica um elemento, que foi pego, graças a Deus, com ideias que não coadunam com nenhum cidadão."

Ele criticou que os autores dos crimes sejam tachados de "bolsonaristas", alegando que o responsável pelo atentado a faca contra ele em 2018 não foi nomeado de "psolista" na época do ocorrido. Adélio Bispo havia sido filiado ao PSOL antes da facada.

"Hoje em dia, se uma pessoa aí comete um deslize, um crime, ou faz algo reprovável pela sociedade ou pelo o que está de acordo com as leis, é bolsonarista", declarou Bolsonaro.

Presidente mente sobre PIX e armas

Depois de defender medidas de seu governo, Bolsonaro mentiu ao falar sobre seus decretos que flexibilizaram o porte de armas, principalmente aos CACs (Colecionador, Atirador e Caçador).

Segundo o presidente, a medida "diminuiu a violência no Brasil" ao reduzir "de 60 mil mortes por ano para 40 mil", levando "segurança às pessoas" e principalmente ao campo.

O UOL Confere já mostrou que o aumento de armas não reduz homicídio e que Bolsonaro faz correlação enganosa entre queda de mortes e aumento de armas.

"Mas quando algum CAC faz uma besteira, o mundo cai sobre nossa cabeça", disse ele ao cutucar o futuro governo: "Estão dizendo que vão revogar [os decretos]!"

Bolsonaro lamentou ainda as críticas que recebeu "na guerra dos combustíveis", quando conseguiu baixar os preços "conversando com o Parlamento brasileiro", que votou a redução de tributos.

"Hoje o povo está tendo conhecimento, está vendo as mentiras", disse antes de mentir sobre a suposta intenção do próximo governo de tributar o PIX.

"Agora eles querem aumentar [os impostos], vão aumentar. Hoje vi no rádio e televisão: vão taxar o PIX, a gastança é enorme, bacana, muito bacana para muita gente, entre aspas", afirmou.

Cerca de 20 apoiadores do presidente acompanharam a live na parte de fora do Palácio da Alvorada. Ao final da transmissão, o tempo fechou e uma forte chuva atingiu a região.

Dois apoiadores, no entanto, permaneceram sob o temporal olhando a residência oficial do presidente antes de se juntarem aos outros manifestantes, que se abrigarem sob uma árvore.

apoiadores de bolsonaro na chuva - Leonardo Martins/UOL - Leonardo Martins/UOL
Manifestantes acompanharam a live de Bolsonaro em frente ao Alvorada
Imagem: Leonardo Martins/UOL

O presidente está a caminho de Miami, nos Estados Unidos. O avião da FAB (Força Aérea Brasileira) levando Bolsonaro decolou às 14h02. A previsão inicial era de chegar em solo norte-americano às 20h (horário de Brasília), mas houve um pouso em Boa Vista (RR) e a estimativa agora é de aterrissar por volta de 23h35 (horário de Brasília).

Além disso, hoje, portaria do Diário Oficial da União foi publicada com os auxiliares que deverão acompanhá-lo nos Estados Unidos já como ex-presidente a partir do dia 1º de janeiro. O plano é que Bolsonaro fique no país estrangeiro até dia 30 de janeiro de 2023.

A informação de que ele sairia do país antes da posse foi adiantada pela colunista Thaís Oyama no dia 23. Hoje, a colunista Carla Araújo confirmou que o presidente deixaria ainda nesta sexta-feira o Brasil.

*Colaborou Leonardo Martins, em Brasília