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Pelé se disse socialista e apoiou Diretas Já; ele declarou voto na eleição?

Pelé, em votação na Baixada Santista, em 2010; ex-jogador foi cobrado por posicionamentos políticos ao longo da carreira - Luiz Fernando Menezes/Fotoarena/Folhapress
Pelé, em votação na Baixada Santista, em 2010; ex-jogador foi cobrado por posicionamentos políticos ao longo da carreira Imagem: Luiz Fernando Menezes/Fotoarena/Folhapress

Matheus Brum

Colaboração para o UOL

03/01/2023 12h13

O rei do futebol Pelé, que morreu na quinta-feira passada aos 82 anos, foi bastante cobrado ao longo de sua carreira por se posicionar politicamente. Na última eleição, já debilitado pelos problemas de saúde, Pelé não declarou voto.

Houve, no entanto, uma tentativa de associar a imagem do rei do futebol ao ex-presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro.

Isso ocorreu devido a uma foto, de 2020, em que Pelé mostrava um autógrafo para Bolsonaro em uma camisa do Santos. A assessoria de Pelé negou que o gesto fosse um sinal de apoio político a Bolsonaro.

A foto tem mais de dois anos. Ele autografou camisas para muitos presidentes ao redor do mundo. Isso não foi uma declaração de apoio
Assessoria de Pelé, em nota, em 2022

Pelé Bolsonaro - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
29.out.2021 -- Pelé faz foto com camisa do Santos com dedicatória ao presidente Jair Bolsonaro
Imagem: Reprodução/Instagram

Hoje, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que acabou de tomar posse em Brasília, compareceu ao velório do ex-jogador na Vila Belmiro, em Santos. Lula cumprimentou familiares de Pelé e a viúva, Márcia Aoki.

Lula - Marcelo Justo/UOL - Marcelo Justo/UOL
Ao lado de Janja, Lula deixa o velório de Pelé na Vila Belmiro
Imagem: Marcelo Justo/UOL

'Eu não sou político'

Pelé também não se pronunciou em outras eleições. Em um documentário lançado pela Netflix em 2021, o rei do futebol explicou por que evitava falar sobre o tema.

Vem cá, eu era jogador de futebol, gostava de jogar, gostava muito, mas eu não sou político, eu sou brasileiro. A gente torce para que o povo não sofra, para que os políticos honestos estejam para administrar o país, mas infelizmente não podemos mudar. Não posso mudar a lei. O pessoal às vezes confunde e vem cobrando coisas que não estão ao meu alcance. Já criticamos vários governantes, agora resolver o problema nós não vamos.
Pelé, em documentário da Netflix

Ditadura militar

Após a conquista da Copa do Mundo de 1970, Pelé foi criticado por suposta submissão à ditadura militar. Ele e toda a seleção foram recebidos pelo então presidente Emílio Garrastazu Médici na chegada ao Brasil.

Médici - Arquivo/Folha Imagem - Arquivo/Folha Imagem
Após liderar a vitória na Copa 1970, Pelé levanta a taça ao lado do então presidente Médici
Imagem: Arquivo/Folha Imagem

Naquela época, o governo era acusado de usar o sucesso da seleção para melhorar a própria imagem. Durante a carreira, Pelé aceitou os cumprimentos dos presidentes militares, mas evitava se posicionar politicamente.

Décadas depois, Pelé explicou o motivo de não se posicionar em 1970.

Eu acho que não teve condições. Não deu para fazer outra coisa. Por que, o que adiantou a ditadura? Para que lado você está hoje? A gente fica meio perdido. Eu sou um cidadão brasileiro. Eu quero o melhor para o meu povo
Pelé

O ex-jogador declarou, anos depois, que deixou de disputar a Copa do Mundo de 1974 por causa do governo brasileiro.

Por um único motivo não aceitei: estava infeliz com a situação da ditadura no país. Estava preocupado com o momento. Em apoio ao país, eu recusei, pois estava muito bem e poderia jogar em alto nível
Pelé, ao UOL em 2013

Apoio às Diretas Já

Na década de 1980, Pelé se manifestou favoravelmente ao movimento popular das Diretas Já, que reivindicava votação direta para presidente.

O governo atual já teve a oportunidade dele. A pressão é muito grande e acho que todo mundo deve ter essa oportunidade [de votar].
Pelé, em entrevista à Revista Placar, em 1984

A capa dessa revista é uma foto de Pelé com uma camisa da seleção brasileira escrita Diretas Já. A fotografia foi tirada pelo fotógrafo Ronaldo Kotscho. Além disso, o rei apareceu em imagens de TV com uma réplica da Taça Jules Rimet declarando apoio ao movimento.

Pelé socialista?

Em novembro de 1989, às vésperas da primeira eleição direta para a Presidência, Pelé concedeu uma entrevista coletiva para falar sobre uma empresa que estava criando. As manchetes, no entanto, foram as declarações políticas do jogador.

"O ex-jogador de futebol Pelé disse que poderá se candidatar à Presidência em 1994. Afirmou que se considera um socialista e que pretende criar um partido político próprio caso se decida pela vida política", destacou a edição da Folha de S. Paulo.

Ainda naquele pleito, Pelé teria negado estar ao lado de Fernando Collor de Mello (PRN), vencedor da eleição. Também não declarou apoio ao oponente de Collor, Lula.

Pelé ministro

O atleta não chegou a concretizar o plano de concorrer ao Palácio do Planalto, mas em 1995 assumiu o Ministério dos Esportes no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), onde atuou por três anos.

Pelé - Sérgio Lima/Folha Imagem - Sérgio Lima/Folha Imagem
18.jan.1995 - Durante o primeiro mandato de FHC, Pelé foi nomeado ministro extraordinário dos Esportes. FHC e Pelé receberam o então presidente da Fifa, João Havelange
Imagem: Sérgio Lima/Folha Imagem
  • Ocupou o cargo entre 1995 e 1998.
  • Tinha como bandeira a modernização do futebol e a garantia dos direitos trabalhistas aos atletas profissionais.
  • Foi exonerado em abril de 1998 e, na sequência, a pasta foi extinta.
  • A Lei Pelé foi sancionada durante a gestão do ex-jogador, o que fez a Fifa ameaçar tirar o Brasil da Copa de 1998.
  • Prestígio de Pelé não foi o suficiente para derrubar os bingos.