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'Sujam nossa reputação' e 'barbárie': bolsonaristas repudiam terror no DF

Lucas e Mariane, eleitores de Jair Bolsonaro não concordam com os atos golpistas que aconteceram no DF - Arquivo Pessoal
Lucas e Mariane, eleitores de Jair Bolsonaro não concordam com os atos golpistas que aconteceram no DF Imagem: Arquivo Pessoal

Camila Corsini

Do UOL, em São Paulo

10/01/2023 04h00Atualizada em 10/01/2023 11h54

Parte dos apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro se diz envergonhada pelos ataques que destruíram prédios sede dos Três Poderes em Brasília no último domingo. Eles afirmam que os atos terroristas prejudicam a pauta da direita no Brasil. Ao UOL, dois eleitores de Bolsonaro contam como receberam as notícias dos atos de vandalismo.

'Não concordo com pedidos de intervenção militar'

Mariane de Godoy, 32 anos, vendedora de Camboriú (SC)

"Votei no Bolsonaro nas últimas duas eleições para presidente porque ele tem as pautas mais próximas das que acredito. Votei nele por achar que, naqueles dois momentos, em 2018 e 2022, era a melhor opção das apresentadas.

Quando ele perdeu as eleições, eu não fui nem participei de nenhuma manifestação. Acho legítima a revolta com os Três Poderes e a forma como foram dadas essas eleições — e acho válido, também, querer eleições limpas e auditáveis [todas as urnas passaram por auditoria e fiscalização. Os resultados foram confirmados pelo TSE]. Mas eu não concordo com pedidos de intervenção militar, que isso seria a solução dos problemas.

No domingo, fiquei triste em ver pessoas desesperadas para serem ouvidas, sem saber o que fazer, e agindo da maneira que elas mesmas condenam. Essas pessoas estão perdidas.

Mas os atos de ontem sujam, sim, a reputação das pessoas conservadoras de direita. Dá força à narrativa de que somos violentos e queremos uma ditadura instalada em nosso país. A maioria esmagadora dos conservadores não quer isso.

'Acham que quem votou no Bolsonaro é terrorista'

Lucas Guimarães, 27 anos, estudante de direito de Bauru (SP)

"Votei no Bolsonaro em 2018 e em 2022. Na primeira vez, cheguei a fazer campanha. Depois, foi por falta de opção. Eu não gosto da pessoa Bolsonaro, ele é muito grosso e agressivo. Compactuo com as ideias conservadoras, de família e religião. E não compactuo com agressão. Mas não gosto do Lula, nunca gostei do PT e sempre fui contra os ideais da esquerda.

O que está acontecendo hoje é uma barbárie política. Você não aceita a derrota e usa a violência para conseguir o que você quer. Eu não concordo com isso. A barbárie não é o melhor caminho, nem para a direita nem para a esquerda.

Eu, como alguém que votou no Bolsonaro, não queria que o Lula ganhasse. Mas nunca cheguei a ir para quartel nem fiquei acampado, só me manifestei pelo Twitter mesmo. Nunca confiei inteiramente nas urnas eletrônicas. Sou um pouco contra o modelo que está aí, mas não iria protestar por causa disso.

Fui para as ruas contra a Dilma e voltaria a ir de novo se fossem convocados atos pacíficos a favor do que eu acredito —contra o aborto ou pautas do feminismo, por exemplo.

Sobre o que aconteceu no domingo, eu senti vergonha. Isso mancha a imagem da direita moderada. Foi um ato de vandalismo, igual quando teve a invasão dos estudantes nas escolas em São Paulo. [Em 2015, houve ocupação de escolas da rede estadual paulista em protesto contra uma reforma no ensino. Os danos registrados ocorreram após a desocupação dos colégios pelos estudantes, segundo o governo de São Paulo].

Agora, todo mundo acha que quem votou no Bolsonaro é radical e terrorista. Isso suja a imagem. Como se todo mundo que votou na direita fosse fascista, de extrema, radical, neonazista. E não é verdade.

Pode ter contestação do resultado das eleições, é normal. Aécio Neves [derrotado nas eleições] fez isso em 2014, é da democracia. Mas não dar margem para outra opinião é algo bem autoritário. Não concordo, nunca vou concordar com o Lula, mas não posso sair agredindo todo mundo."