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Filhas de Zalszupin e Brecheret lamentam obras detonadas: 'jogaram no lixo'

Cadeira assinada por Jorge Zalszupin foi encontrada do lado de fora do STF - Reprodução
Cadeira assinada por Jorge Zalszupin foi encontrada do lado de fora do STF Imagem: Reprodução

Do UOL, em São Paulo

11/01/2023 10h17Atualizada em 11/01/2023 14h54

Filhas de artistas cujas obras foram danificadas durante ato golpista no domingo (8) em Brasília expressaram espanto ao ver as imagens do rastro de destruição deixado pelos invasores. Entre os itens, estavam os móveis do prestigioso designer Jorge Zalszupin e a renomada escultura "A Bailarina", de Victor Brecheret, doada pela família do artista à Câmara dos Deputados e, à época, avaliada em R$ 150 mil.

Ao UOL, Veronica Zalszupin, filha de Jorge Zalszupin, designer polonês naturalizado brasileiro, relembrou a época em que o pai venceu um concurso para ajudar na construção de Brasília ao lado de Oscar Niemeyer. "Ele fez o desenho do espaldar alto [poltrona], para quem fosse sentar ter um destaque de elegância e demonstrar importância do cargo. Eu era pequena na época, mas sei que se meu pai estivesse vivo, ele ficaria muito triste de ver essa depredação."

Jorge Zalszupin morreu em agosto de 2020. De origem judaica, ele chegou ao Brasil em 1949, fugindo do nazismo na Europa. Em uma publicação nas redes sociais, Veronica afirmou que o Brasil o "acolheu como imigrante com amor."

"Um país é feito de cultura de memórias. O meu pai, como fugitivo de guerra, teria ficado arrasado se visse isso. Quando eu vi que tinha material do meu pai depredado, eu fiquei muito chateada. Simbolicamente é a nossa cultura sendo depredada. É muito lamentável que a gente tenha chegado a esse ponto. Não apenas pelo trabalho do meu pai, mas de todos. É tão triste. Muito difícil de aceitar", disse ela ao UOL.

Além da poltrona, outros móveis projetados por Jorge também foram danificados durante a invasão.

'Jogam no lixo'

a bailarina - Gabriel/Folhapress - Gabriel/Folhapress
A obra 'Bailarina', de Victor Brecheret, foi arrancada do pedestal em que estava exposta e deixada jogada no chão
Imagem: Gabriel/Folhapress

Sandra Brecheret, filha de Brecheret, contou que a iniciativa de doar a escultura, alvo de destruição dos golpistas, se deu durante o segundo mandado do governo de Luís Inácio Lula da Silva (PT), quando um amigo era diretor do Museu da Câmara dos Deputados. "Ele fez contato comigo e resolvemos doar essa obra. E ela estava ali, todos estes anos", disse ela, que também doou outra obra do pai ao Senado francês, avaliada em 900 mil euros - o equivalente a R$ 5 milhões.

"A Bailarina" foi concebida na década de 1920 em bronze polido. Ela é uma referência do período parisiense de Brecheret que, naquela época, vivia em Paris e, por meio da arte, buscava explorar a delicadeza das formas nos temas femininos. Na década seguinte, de volta ao Brasil, o arquiteto foi convidado a conceber obras que integram o imaginário nacional, a exemplo do Monumento às bandeiras, cartão-postal do Parque Ibirapuera, em São Paulo.

Quando eu vi que estava danificada, eu fiquei muito triste -- e por vários motivos. Pelo Brecheret, que é meu pai, pela minha doação, pelo Brasil, pela imagem que o Brasil passa para outros países. Lá fora eles vendem obras de arte a preços muito altos, aqui eles jogam no lixo.
Sandra Brecheret

Sandra afirma que não tem "fanatismo" por nenhum lado político, mas critica os atos de domingo. "Essas coisas não se resolvem assim — tem que ser pela legalidade. Eu sou legalista. Se quer tirar o homem [Lula], vai na Câmara, no Senado, como fizeram com a Dilma Rousseff. Essa baderna eu não vejo nenhum futuro", opina.

A escultura faz parte do acervo da Câmara dos Deputados e foi arrancada do suporte. Em um primeiro momento, havia a suspeita de que a obra teria sido furtada. No entanto, a assessoria de imprensa da Casa legislativa confirmou que ela ainda estava na Casa. Segundo Sandra, a peça não foi destruída e pode passar por reparos.

O prejuízo resultante da destruição e da subtração das obras de arte e de presentes protocolares, e os custos para recuperação dos objetos que foram deixados, ainda não foram estimados.