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Assessor de deputado do PL preso pedia golpe em quartel durante expediente

Do UOL, no Rio

22/01/2023 19h19Atualizada em 22/01/2023 19h19

Detido na última quinta-feira (19), Carlos Victor de Carvalho, 34, tinha salário líquido de R$ 5.588,30 no gabinete do deputado bolsonarista Filippe Poubel (PL), na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.

Em novembro, esteve em rodovias e em frente a quartéis de Campos dos Goytacazes pedindo por uma "intervenção federal", por não aceitar a vitória de Lula (PT) nas eleições presidenciais, conforme vídeos publicados em seu próprio perfil no Facebook.

No dia 1º de novembro, uma terça-feira, CVC, como se apresenta, publicou um vídeo durante o dia. Nas imagens, ele afirma que houve uma fraude eleitoral — o que é mentira — e convoca outros moradores para acampar em frente aos quartéis.

Os vídeos têm indicação de dia e horário nas legendas ou na narração de CVC.

No dia seguinte, um feriado, ele publicou dois vídeos em frente ao quartel durante o dia e um terceiro à noite. CVC usa tom golpista nos vídeos.

Estamos em frente ao [quartel do] Exército de Campos proclamando ao Brasil uma intervenção federal. Não vamos aceitar um bandido, condenado, na Presidência. Chega de pacificar, chega de amor, chega de andar nas 4 linhas. Agora é a hora da verdade, é hora de lutar pelo Brasil. Vêm vocês para rua lutar pela sua família e pela sua liberdade."

No dia 3 de novembro, também em frente ao quartel, CVC publica novos vídeos com tom golpista e afirma que "não irá aceitar" a eleição de Lula.

O UOL questionou o deputado Poubel sobre as funções, a carga horária e o regime de trabalho de Carvalho, mas não obteve respostas. A reportagem não conseguiu identificar quem faz a defesa de CVC. O espaço está aberto para eventuais manifestações.

Preso pela Polícia Federal após ficar três dias foragido, CVC é investigado por financiar e organizar atos antidemocráticos. No mesmo dia, Poubel exonerou o assessor.

Também foram presos na semana o subtenente Roberto Henrique de Souza Júnior e a doceira Elizângela Cunha Pimentel Braga.

A Operação Ulysses investiga:

  • lideranças locais que bloquearam as rodovias que passam por Campos dos Goytacazes;
  • quem organizou as manifestações em frente aos quartéis do Exército na cidade;
  • se os investigados participaram na organização e financiamento dos atos golpistas que levaram à invasão dos prédios dos Três Poderes no dia 8 de janeiro

Quem é Carlos Victor de Carvalho?

Em 2012, candidatou-se a vereador em Campos pelo PHS, mas conseguiu apenas 117 votos e não se elegeu. Depois, construiu uma imagem de líder da direita no município com o movimento "Direita Campos".

A partir de 2016, intensificou seu apoio a Bolsonaro nas redes, no mesmo passo em que ofendia a ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Naquele ano, ele afirmava que Bolsonaro era o único "político confiável" no país, em meio às votações pelo impeachment da petista.

Em 2020, voltou a se candidatar ao mesmo cargo, novamente sem sucesso: conseguiu 2.292 votos e a primeira suplência do Republicanos na câmara municipal de Campos.

Nas postagens mantidas públicas após o início da Operação da PF que o prendeu, CVC jamais fez menção ao seu trabalho como assessor de Poubel.

Em uma publicação de agosto do ano passado, ele declara voto a Poubel "por trabalhar em prol de Campos", mas não cita seu vínculo empregatício. Naquele mês, recebeu os mesmos R$ 5.588,30 do gabinete de Poubel.

À Justiça Eleitoral, em 2020, CVC afirmou ter somente um carro de R$ 32 mil. Em 2012, também declarou um veículo, de R$ 13 mil.