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Presidente de conselho de saúde indígena rebate Bolsonaro: 'Injustificável'

27.set.2021 - Jair Bolsonaro, em evento no Palácio do Planalto - Ueslei Marcelino/Reuters
27.set.2021 - Jair Bolsonaro, em evento no Palácio do Planalto Imagem: Ueslei Marcelino/Reuters

Do UOL, em São Paulo

22/01/2023 17h21Atualizada em 22/01/2023 18h46

Júnior Hekurari Yanomami, presidente do Considi-YY (Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye'kuana) rebateu as justificativas do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para a crise humanitária e sanitária dos ianomâmis em Roraima. A comunidade indígena enfrenta questões de fome, desnutrição e segurança.

O presidente do Conselho disse que a luta deles é por dignidade e acusou o ex-presidente de "infestar os órgãos indígenas com militares que não tinham experiência técnica".

Não busquem justificar o injustificável, se já estávamos em situação de vulnerabilidade, piorou drasticamente com falas recorrentes incitando a aprovação do garimpo e madeireiros."
Júnior Hekurari Yanomami

Além de dar declarações preconceituosas e mentirosas sobre indígenas, Bolsonaro facilitou a entrada de garimpeiros na região. Os ianomâmis são alvos de violentos e frequentes conflitos com os garimpeiros.

Segundo o Ministério dos Povos Indígenas, 570 crianças ianomâmis morreram por contaminação por mercúrio, desnutrição e fome, "devido ao impacto das atividades de garimpo ilegal na região".

O Conselho de Direitos Humanos da ONU (Organização das Nações Unidas) elaborou um documento no ano passado para denunciar o incentivo de ações ilegais por parte de garimpeiros na Amazônia pela gestão Bolsonaro. O informe, conforme mostrou o colunista Jamil Chade, examinava o impacto do garimpo e contaminação de mercúrio.

No comunicado de hoje, Bolsonaro omitiu dados sobre mortes de indígenas, que aumentaram a partir de 2019, quando começou o governo do ex-presidente.

O político do PL fez uma prestação de contas hoje em um texto publicado no Telegram, afirmando que a saúde indígena era "prioridade do governo federal" e que, entre 2020 e 2022, foram realizadas 20 ações de saúde em territórios indígenas.

No entanto, segundo dados do relatório "Povos Indígenas e Meio Ambiente", lançado no ano passado pelo Coletivo RPU Brasil, na gestão Bolsonaro:

  • Houve aumento da mortalidade de bebês indígenas, que voltou a subir em 2019. Dados do Ministério da Saúde mostram que, entre janeiro e setembro de 2019, último mês com estatísticas disponíveis, morreram 530 bebês indígenas com até 1 ano de idade;
  • Na Amazônia, o desmatamento atingiu, em 2020, a maior taxa de desmatamento em 12 anos, com 10.851 km2. Nas terras indígenas a taxa cresceu 90%,;
  • A Funai operou com um terço de sua força de trabalho;
  • Dados do Ministério da Educação (MEC) apontam que 1.029 escolas indígenas não funcionam em prédios escolares, e 1.027 escolas indígenas não estão regularizadas por seus sistemas de ensino. Além disso, 1.970 escolas não possuem água filtrada, 1.076 não contam com energia elétrica e 1.634 escolas não têm esgoto sanitário; 3.077 escolas não possuem biblioteca e 1.546 não utilizam material didático específico.

Governo Lula cria comitê de crise. O presidente Lula (PT) visitou Roraima ontem, em ação conjunta com os Ministérios dos Povos Indígenas, Saúde e Desenvolvimento. Um comitê de crise foi instalado e vai durar 90 dias.

É desumano o que eu vi aqui. Sinceramente, se o presidente que deixou a Presidência esses dias em vez de fazer tanta motociata tivesse vergonha e viesse aqui uma vez, quem sabe esse povo não tivesse tão abandonado como está".
Lula

O Ministério da Justiça determinou que a Polícia Federal abra investigação sobre genocídio, caracterizado pelo extermínio deliberado de uma comunidade, grupo étnico, racial ou religioso, e crimes ambientais na região.

Na sexta-feira, o Ministério da Saúde decretou estado de emergência para combater a falta de assistência sanitária que atinge os ianomâmis. A portaria foi publicada em edição extra do DOU (Diário Oficial da União) e já está em vigor.