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Do Val contou a Moraes plano golpista de Bolsonaro e Silveira, diz revista

Senador Marcos do Val relatou a Veja ter ficado "assombrado" com o suposto plano golpista de Bolsonaro e Daniel Silveira - Reprodução- 18.fev.2019/Facebook/MarcosdoVal
Senador Marcos do Val relatou a Veja ter ficado "assombrado" com o suposto plano golpista de Bolsonaro e Daniel Silveira Imagem: Reprodução- 18.fev.2019/Facebook/MarcosdoVal

Do UOL, em São Paulo

02/02/2023 12h08

Reportagem da revista Veja publicada hoje revela que o senador Marcos do Val (Podemos-ES) procurou o ministro Alexandre de Moraes, do STF, para contar sobre um suposto plano golpista contra a eleição do presidente Lula (PT).

Segundo as mensagens, Do Val teria sido convidado para ajudar num golpe que estava sendo arquitetado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e pelo ex-deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ) —que foi preso hoje.

  • A conversa entre os três teria ocorrido no Palácio do Alvorada em 9 de dezembro e durado cerca de 40 minutos;
  • Segundo a revista, a ideia era que alguém da confiança do presidente --o nome de Do Val foi sugerido-- se aproximasse de Moraes e gravasse o ministro do STF;
  • O plano era tentar captar algo comprometedor para prender Moraes e, na esteira disso, impedir a posse de Lula;
  • Mensagens obtidas pela revista mostram que Do Val procurou o ministro no dia 12 para pedir um encontro e relatar o que tinha ocorrido; eles se encontraram dois dias depois.
  • O senador teria avisado Silveira que recusou participar do plano golpista.

O alerta a Moraes sobre suposto golpe

Ao pedir o encontro com Moraes por mensagens, no dia 12 de dezembro, o senador chamou aquele dia de "emblemático", se referindo à diplomação de Lula no TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Precisava falar como foi o encontro com o PR [Presidente da República] e o DS [Daniel Silveira] Marcos do Val em mensagem a Moraes no dia 12 de dezembro

Naquela noite, ocorreu a tentativa de invasão da PF para resgatar um preso que resultou em atos de vandalismo em Brasília.

Segundo a revista, Bolsonaro e Silveira haviam convidado Do Val para participar de algo que o parlamentar definiu como "uma ação esdrúxula, imoral e até criminal".

Encontro com Bolsonaro foi combinado por telefone

Do Val, conforme Veja, foi abordado por Silveira no Congresso dois dias antes da reunião no Alvorada. O deputado teria dito que o presidente tinha um assunto importante e urgente para falar com ele.

Em uma conversa por telefone, Bolsonaro pediu para o senador "dar um pulinho" em sua residência oficial, e o encontro ficou acertado para o dia 9.

Do Val conversou com Moraes antes de ir ao encontro —segundo a revista, estava com receio de ser envolvido em algo que pudesse prejudicá-lo. Silveira foi condenado pelo STF por ameaças aos ministros da Corte, mas recebeu de Bolsonaro o instituto da graça (uma espécie de perdão).

Código para falar sobre encontro discreto

A reportagem revela que a reunião foi cercada de cuidados e que, por sugestão de Silveira, ele e Do Val só falariam sobre a reunião por códigos.

No dia do encontro, o deputado passou uma mensagem de áudio ao senador passando instruções para que eles se encontrassem num local discreto, para que não fossem vistos.

Vou te mandar a minha localização, mas tu não entra não, no Alvorada. E nem chega perto da entrada. Tu não vai aparecer. Tu vai parar o carro no estacionamento que eu vou te mandar a localização. Eu vou estar ali. O carro vai vir buscar a gente Mensagem de áudio de Daniel Silveira a Marcos do Val no dia 9 de dezembro

Por volta das 17h30 daquele dia, o senador foi com seu motorista até a localização enviada por Silveira e, de lá, os dois seguiram ao Alvorada num carro da segurança de Bolsonaro e, por isso, não deixaram registros na portaria.

Ainda conforme a revista, o trio conversou sobre vários temas, passando pelos acampamentos golpistas montados em frente aos quartéis em diversas cidades do país até às supostas fraudes nas eleições — que nunca foram comprovadas.

GSI e Abin ajudariam na gravação de Moraes

Silveira disse que Do Val era uma pessoa de sua confiança e pediu a Bolsonaro que apresentasse a ideia que "salvaria o Brasil".

O ex-presidente e pessoas de seu círculo próximo, diz a reportagem, atribuíam sua derrota a decisões de Moraes tomadas durante a campanha eleitoral — além de ministro do STF, ele é presidente do TSE;

Eles acreditavam que conseguiriam provar a "interferência" do ministro do STF nas eleições caso se aproximassem dele para gravar conversas. Conforme a matéria, Silveira disse que o senador seria "um herói nacional" se fizesse parte do plano.

Do Val diz ter questionado como gravaria Moraes, e Bolsonaro teria respondido que o assunto já tinha sido acertado. O GSI (Gabinete De Segurança Institucional) e a Abin (Agência Brasileira de Inteligência), órgãos sob o guarda-chuva da Presidência, dariam "suporte técnico à operação" e forneceriam os equipamentos de espionagem.

O nome de Do Val foi escolhido, segundo Veja, porque ele conhece Moraes há muitos anos e poderia se aproximar sem levantar suspeita. O senador deixou a reunião pedindo um tempo para pensar sobre o assunto.

No dia seguinte, conforme a revista, Silveira enviou mensagens ao senador cobrando uma resposta e reafirmando que a missão era segura. Segundo ele, além do trio, apenas outras duas pessoas sabiam do plano e nem o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), um dos filhos do presidente, estava ciente.

Não há riscos. Caso não extraia nada, é descartado o conteúdo e ninguém saberá. Não sei se você compreendeu a magnitude desta ação. Ela define, literalmente, o futuro de toda a nação."
Daniel Silveira em mensagens a Marcos do Val

Encontro com Moraes e 'declínio da missão'

No dia 14 de dezembro, Moraes e Do Val se encontraram, conforme já havia sido acertado entre os dois. Segundo a revista, o parlamentar narrou o que havia ouvido de Bolsonaro, e Moraes, em tom de espanto, teria respondido apenas: "Não acredito".

À noite, após conversar com o ministro do STF, Do Val respondeu a Silveira e disse que não participaria do plano.

  • Do Val: "Irmão, vou declinar da missão."
  • Silveira: "Entendo, obrigado."

O advogado Jean Garcia, que faz a defesa da Silveira, disse que, "sobre as declarações do senador Marcos do Val, enquanto ele não apresentar provas concretas, fatos comprovados, se trata apenas de especulação. Nós não comentamos especulações".

A assessoria de Moraes disse que ele não comentaria o caso. Bolsonaro está nos Estados Unidos há mais de um mês e não foi localizado.

Já Do Val confirmou as informações à Veja e, ainda durante a madrugada, fez uma transmissão nas redes sociais falando sobre a tentativa de envolvê-lo num golpe contra a eleição.