Bolsonaro se colocou na investigação do 8 de janeiro, afirma Dino

O ministro da Justiça e Segurança Pública afirmou não haver "determinação política" para investigar Jair Bolsonaro (PL), mas disse acreditar que os fatos dos ataques de 8 de janeiro se conectam ao ex-presidente da República e ao seu círculo íntimo.

Flávio Dino concedeu a entrevista ao UOL hoje em Brasília, no dia em que os atos golpistas completam um mês (veja a íntegra do vídeo ao final do texto).

Quem o colocou nesta situação foi ele próprio [Bolsonaro] --que publicou um vídeo de apoio ou de incitação a esses atos terroristas golpistas --, e posteriormente aliados seus, deputados, senadores, pessoas credenciadas de seu círculo íntimo, que mostraram que havia um engendramento que passava por reuniões com ele."
Flávio Dino

Bolsonaro foi incluído no inquérito do STF (Supremo Tribunal Federal) que apura as responsabilizações pela depredação das sedes dos Três Poderes.

Para Dino, é de interesse de Bolsonaro vir a público esclarecer "a participação dele nesse terrível plano golpista que se executou no Brasil entre o dia 30 de outubro e o dia 8 de janeiro".

Clima melhorou e há espaço de diálogo, diz Dino sobre Exército e polícia

Para Dino, deve haver um "processo mais cultural do que propriamente administrativo" para despolitizar as forças de segurança. Embora tenha tido embates com o ex-chefe do Exército Júlio César de Arruda, o ministro disse que as relações agora estão em "bons termos".

Creio que o clima melhorou muito e há um espaço de diálogo melhor. São os paradoxos da vida e acho que, nesse clima de diálogo, nós vamos, inclusive, quebrando preconceitos. [...] Tenho ouvido isso, inclusive, das forças policiais, que imaginavam que uma gestão de um quadro político de esquerda, como eu, seria uma gestão avessa às corporações policiais. Nós estamos mostrando que não, que nós dialogamos intensamente e queremos que eles trabalhem junto conosco, e que não discutimos votos de ninguém."

Dino sobre fuga de garimpeiros: "Quanto mais voluntária a desintrusão, melhor"

O ministro negou que a fuga de pessoas ligadas ao garimpo seja um erro da operação de desintrusão da Terra Yanomami. Dino destacou a presença de 15 mil pessoas e disse que nem tudo se resolve de forma ostensiva ou com as forças policiais.

Eu diria até que, considerando que nós estamos falando de milhares, dezenas de milhares de pessoas, tanto indígenas quanto garimpeiros, quanto mais voluntária for a desintrusão, melhor. A fase coercitiva começará em breve. [...] Qual é a fase emergencial? A desintrusão. A fase seguinte? Investigação. E aí as pessoas vão ser chamadas na medida da sua responsabilidade porque há imagens, há identificações, enfim, há um procedimento investigatório em curso."

Dino: haverá retomada de registro de armas, mas sem 'liberou geral'

O ministro disse que, entre 30 ou 60 dias, um novo decreto sobre a regulação de armas deve ser publicado. Isso porque o governo Lula (PT) revogou uma série de decretos de armas do governo Bolsonaro, mas a medida foi questionada por atiradores esportivos, que ficaram sem munição para treinar.

Nós estamos falando de quase um milhão de CAC's e pessoas que têm porte de arma. Os atiradores esportivos não têm o que temer, os verdadeiros. Agora, clube de tiro 24 horas, para que exatamente? E esta proliferação de clube de tiro, para quê? Será que houve uma espécie de pandemia, em que as pessoas acordaram repentinamente com estranho desejo de sair dando tiro por aí? Não, não foi isso. [Há] interesses econômicos, interesse de quadrilhas. Então, o nosso foco é este, é o combate ao crime."

Dino compara Moraes a Messi e Maradona: 'Um grande juiz'

O ministro da Justiça não acredita que Alexandre de Moraes tenha errado em suas decisões no STF. Ele afirmou ainda que o ministro não age sozinho e que tem respaldo dos seus pares no Supremo para as decisões que toma.

Uma pessoa que fundamenta bem as suas decisões, como o Messi, ou como o Maradona, ou como o Neymar, ou como o Zico, ou como o Pelé. Evidentemente, pode tentar uma jogada e não conseguir que ela funcione de modo perfeito, porque ele é humano, mas essas eventuais imperfeições, que alguns identificam, não invalidam o fato de ser um grande juiz, um dos maiores da história do Supremo Tribunal Federal, pelo papel, pela coragem, pelo desassombro, que custa caro."

Assista à íntegra da entrevista de Flávio Dino ao UOL: