Topo

'Prova de resistência', livros e muito sufoco: a fila das CPIs na Alesp

Pouca ventilação e restrições para comer e ir ao banheiro são algumas das reclamações de quem está na fila para registro de pedidos de CPI e outros requerimentos na Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo).

O que dizem os assessores

  • Amanda Zanotti, assessora da deputada estadual Márcia Lia (PT), está com a senha de número 31. Outras duas pessoas também ligadas à parlamentar Márcia Lia estão na fila, com as senhas 52 e 53. O trio deve protocolar pedidos de criação para frentes parlamentares ligadas a agricultura, habitação e direitos humanos.
  • Ricardo Costa já leu dois livros desde que entrou na fila. Ele faz revezamento com outras pessoas do gabinete do deputado estadual Reis (PT). "O primeiro foi Intolerância Religiosa, do professor Sidney Nogueira. Agora, estou terminando Racismo Linguístico, do Gabriel Nascimento", disse.
  • Costa está com a senha de número 29, a primeira de um político de oposição na fila. O assessor pretende protocolar dois pedidos de CPI, sobre os quais preferiu não revelar os temas.
  • Uma assessora de um político da base aliada brincou que jogaria os números das senhas já descartadas na Mega-Sena. "Se eu ganhar, volto aqui e dou uma banana para todo mundo", afirmou ela, que preferiu não se identificar.

Esta fila é uma prova de resistência, um BBB na Alesp. Um teste para ver por quanto tempo resistimos. A diferença é que não tem prêmio no final."
Amanda Zanotti, assessora da deputada estadual Márcia Lia (PT)

O que aconteceu

  • Uma fila no andar monumental da Alesp, perto do relógio de ponto, foi formada desde as 6h30 de terça-feira (21). Representantes de deputados estão lá para protocolar pedidos de CPI a partir de 9h da próxima sexta-feira (24).
  • As senhas são checadas de hora em hora, aproximadamente. Um representante da Alesp confere quem segue na fila e descarta os ausentes. Por isso, assessores não conseguem comer nem ir ao banheiro e se revezam entre colegas.
  • Até as 15h desta quarta (22), 53 números haviam sido distribuídos e 17, cancelados.
  • A fila está organizada por ordem numérica. Os 28 primeiros lugares estão com representantes de deputados da situação. A maioria prefere não dar entrevistas, mas alguns reclamam de fome e outros problemas. "É contra a dignidade humana isso aqui", disse um deles à reportagem.
  • Por volta de 10h de ontem, já havia na fila 17 representantes de deputados do PL, partido de André do Prado (PL), atual presidente da Alesp e que integra a base de apoio do deputado Tarcísio de Freitas (Republicanos).
  • A oposição reclama que não foi avisada com antecedência de que o registro de pedidos de CPI seria presencial, segundo parlamentares do PT e do PSOL.

Qual é o procedimento?

Desde 2021, o registro de pedidos na Alesp era feito via intranet. Mas um ato publicado em 10 de março pelo deputado Carlão Pignatari (PSDB), ex-presidente da Casa, suspendeu o registro virtual de requerimentos —e não foi revertido por André do Prado, que assumiu a Mesa Diretora na semana passada.

O regimento da Alesp prevê apenas 5 CPIs simultâneas com duração mínima de quatro meses, prorrogáveis para até seis meses. Assim, a assembleia consegue realizar cerca de 20 comissões a cada legislatura —o que explica a disputa pelos primeiros lugares da fila.

Membros da oposição já admitem que não devem conseguir emplacar nenhuma CPI nos próximos anos.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do informado inicialmente, as CPI na Alesp tem duração mínima de quatro meses (e não seis, como afirmado anteriormente).