Áudios indicam pressão para liberar joias sauditas, diz TV
Júlio César Vieira Gomes, chefe da Receita Federal no governo Bolsonaro, teria pressionado funcionários da cúpula do órgão, por WhatsApp, para que trabalhassem pela liberação das joias enviadas pela Arábia Saudita e retidas na alfândega do Aeroporto Internacional de São Paulo.
O que aconteceu:
O servidor teria tentado conseguir a liberação de um conjunto de joias de R$ 16,5 milhões apreendido pela Receita em outubro de 2021.
"Bota todo mundo para trabalhar de forma que a gente consiga cumprir isso daí, disponibiliza amanhã às 5h da tarde, tá?", diz Gomes ao superintendente da Receita em São Paulo, José Roberto Mazarin, em um áudio obtido pela GloboNews.
Um dos funcionários afirmou à TV que recebeu mensagens do chefe da Receita quando estava "chegando na praia", enquanto outro também disse "estar fora" e sem acesso ao e-mail de trabalho.
Áudios:
No dia 28 de dezembro de 2022, Gomes encaminhou a servidores da Receita um ofício por e-mail com a mensagem: "solicito atender".
O ofício havia sido assinado pelo então ajudante de ordens de Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid, e endereçado ao chefe da Receita, para, segundo a emissora, passar por cima dos protocolos oficiais e obter a liberação das joias.
Após ser procurado por Gomes, José Roberto Mazarin manda um áudio ao subsecretário-geral da Secretária Especial da Receita, José de Assis.
"Eu estou chegando na praia, Mazarin, aí eu vou encaminhar, ele mandou para mim. Vou mandar esse ofício para ti pelo Outlook para você. [...] Ele está numa pressão danada para ver se consegue resolver esse negócio ainda hoje", afirma Assis, em um áudio enviado na tarde do dia 28.
Em outro áudio, Gomes diz: "Cara, faz esse favor aí, bota todo mundo pra trabalhar de forma que a gente consiga cumprir isso daí, disponibiliza amanhã às 5 da tarde, tá?".
Depois, Gomes explica que, no ofício, estava o nome da "pessoa que vai pegar" — o do primeiro-tenente da Marinha, Jairo Moreira da Silva, que, no dia seguinte, embarcou em um avião da FAB para cumprir a missão.
No mesmo áudio, o chefe da Receita explica que o "material" a ser buscado veio como uma "oferta" da Arábia Saudita "para o chefe de Estado brasileiro, no caso, o Bolsonaro".
Outros áudios obtidos pela GloboNews mostram que a pressão continuou no dia 29.
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