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11 meses

Fotógrafo que perdeu olho: 'PM trata diferente quem é esquerda ou direita'

Colaboração para o UOL, em São Paulo

13/06/2023 17h00

O fotógrafo Sérgio Silva, que ficou cego ao ser atingido por um tiro disparado por um policial militar durante a cobertura dos protestos de junho de 2013, destacou que a Polícia Militar trata de forma diferente os manifestantes de esquerda e de direita, sendo agressivos com os primeiros, e passivos com os demais.

Para Sérgio, que disse ter acompanhado tanto manifestações de direita quanto manifestações de esquerda, é evidente que "em ambas são dois acompanhamentos e tratamentos diferentes por parte da polícia militar". As declarações foram ao UOL Entrevista, comandado pelo jornalista Leonardo Sakamoto.

Em manifestações de esquerda, a polícia está sempre com armas em punho, você vê uma tropa de choque, carros blindados, você vê um efetivo policial que assusta, parece que vai estourar uma guerra civil nesse país. Quando você vai para uma manifestação de direita você vê policial tirando selfie com manifestante, de bracinho cruzado, com comportamento diferente.

Sérgio Silva opina que, em manifestações ligadas à direita, os policiais não dariam desculpas que poderiam "justificar uma ação violenta", ao contrário do que acontece em protestos da esquerda. "Então, a única mudança que se vê no comportamento da PM é de acordo com os agentes políticos que estão participando dessas manifestações", completou.

'Fui violentado por decisão da Justiça', diz fotógrafo que teve indenização negada

No UOL Entrevista, Sérgio Silva também falou sobre a decisão da Justiça de São Paulo que negou, por duas vezes, seu direito à indenização. O fotógrafo, que teve seu trabalho comprometido após perder a visão do olho esquerdo, afirma que foi violentado duas vezes: a primeira pelo tiro do policial e a segunda pelos tribunais paulistas que lhe negaram o direito de ser indenizado.

"Essa decisão, eu considero como um segundo ato de violência", afirmou, ressaltando que os argumentos usados pelo juiz em primeira instância levou "apenas em consideração a ação da polícia como algo certo" e tentou "induzir a responsabilidade ao meu trabalho, como se eu de fato, no momento em que estava acontecendo o ataque da polícia aos manifestantes eu tivesse entrado na frente de uma arma para tentar capturar algum tipo de imagem.

Silva afirma que essa justificativa "é uma grande mentira" e garante que quando os policiais começaram a dar os primeiros disparos com bombas, "a primeira coisa que fiz foi pensar em minha segurança" ao se esconder em uma banca de jornal. Ele contou que quando a PM cessou os tiros por um tempo, saiu para fazer seu trabalho e novamente, sem motivações, os agentes retomaram os disparos e um deles atingiu seu olho esquerdo.

Aqueles policiais militares que estavam trabalhando naquela manifestação estavam ali para fazer esse trabalho, logo se eles agiram com força, com a quantidade de armamentos que utilizaram, e arrancaram o olho de um fotógrafo, o Estado precisa ser responsabilizado, alguém precisa responder por esse ato, não foi eu que apertei a arma, não entrei na frente de uma bala que ia atingir outra pessoa, não existe isso".

"O Tribunal de Justiça de São Paulo precisa fazer o papel dele e responsabilizar o Estado, porque se fosse o contrário, no caso eu, como manifestante, qualquer posição que tivesse naquele ato e ferisse um policial, cometido algum delito, eu teria sido identificado e punido. E por que o Estado quando erra e fere as pessoas não pode ser responsabilizado? Ele tem que ser responsabilizado sim", concluiu.

Veja a íntegra do programa: