Topo

Esta é a casa de um ex-assessor de Lira que no papel ganhava R$ 12 mil

15.06.2023 -- Casa do ex-assessor do PP Luciano Cavalcante, no condomínio Laguna - Arquivo pessoal
15.06.2023 -- Casa do ex-assessor do PP Luciano Cavalcante, no condomínio Laguna Imagem: Arquivo pessoal

Aguirre Talento e Graciliano Rocha

Colunistas do UOL

16/06/2023 04h00Atualizada em 16/06/2023 09h01

Alvo na operação da PF que apura superfaturamento e desvio na compra de kits robótica por prefeituras alagoanas, o ex-assessor da liderança do PP Luciano Cavalcante é dono de uma casa de alto padrão no condomínio mais luxuoso de Alagoas, que conta com praia exclusiva na Lagoa do Mundaú, marina privada para barcos de moradores e um heliponto para deslocamentos.

Na Câmara, ele ocupava um cargo CNE-09, com rendimentos brutos de R$ 12.300, até ser desligado após a operação da PF neste mês. Luciano é conhecido em Alagoas como uma espécie de braço-direito de Lira. Sua defesa afirma que o patrimônio tem origem lícita.

O Condomínio Laguna Heliport é um refúgio da elite e dos muitos ricos do estado. Entre os proprietários de casas no mesmo local estão a jogadora de futebol Marta, eleita seis vezes a melhor do mundo, o sertanejo Mano Walter (do hit "Juramento do Dedinho") e o governador Paulo Dantas (MDB).

Para quem chega pela AL-101, rodovia que liga Maceió a Marechal Deodoro, onde fica o condomínio, há uma pequena mercearia, perto da guarita, onde é possível encontrar itens como garrafas de champagne francesa Veuve Clicquot e do vinho português Pêra Manca (escreve-se com acento mesmo), entre R$ 3.000 e R$ 5.000 a garrafa, dependendo da safra.

A casa de Luciano Cavalcante fica no terceiro quarteirão à direita, após a guarita. À primeira vista, o imóvel até lembra o de uma clínica por causa das paredes envidraçadas e ficou pronto apenas em janeiro deste ano. Quando a PF fez a busca e apreensão no local em 1º de junho, ainda havia uma placa da construtora EMG em frente ao imóvel.

Luciano e a mulher, Gláucia, são apontados pela PF como "prováveis" beneficiários finais do fluxo de dinheiro originado na empresa Megalic, pivô do escândalo do superfaturamento dos kits de robótica vendidos a prefeituras de Alagoas com verba federal.

Saques em dinheiro vivo

A casa entrou no radar da polícia em 30 de janeiro deste ano. Agentes da PF seguiam os passos de dois investigados que viajaram de Brasília a Alagoas, que percorreram agências bancárias de Maceió para realizar saques de dinheiro vivo, segundo o inquérito.

Depois de sacar o dinheiro, os dois estiveram no imóvel, ficaram por quinze minutos e, em seguida, alguém da casa levou os dois para o aeroporto.

O carro usado nos saques e que levou os dois operadores de dinheiro é uma Hilux, cuja propriedade no documento é de Murilo Sérgio Juca Nogueira Júnior, outro suspeito de ser destinatário de dinheiro da Megalic. O carro, no entanto, era usado pelo ex-assessor Luciano Cavalcante e sua esposa, Gláucia, e ficava na garagem da casa deles no Laguna.

Obra "pública"

A casa de Cavalcante ainda não está no nome dele. O imóvel foi construído entre 2020 e 2022 pela empreiteira EMG, iniciais do dono da empresa, Emerson de Melo Gusmão. Até as contas de luz da casa estavam em nome de Gusmão, segundo a PF.

Há indícios de que o esquema de desvio de dinheiro público com os kits de robótica tenha pago, pelo menos em parte, a construção da casa de Cavalcante. Gusmão, o construtor, recebeu R$ 550 mil de Edmundo Leite, um dos sócios da Megalic. Murilo Nogueira Júnior, o dono da Hilux no papel, também recebeu a mesma quantia da Megalic.

"O casal Gláucia e Luciano Cavalcante são 'prováveis' beneficiários finais do fluxo de dinheiro originado na empresa Megalic, transferido para as empresas de fachada do casal de operadores financeiros e usufruído por meio da utilização do veículo Hilux e da magnífica casa construída no luxuoso Condomínio Laguna", escreveu a equipe de análise da PF em um relatório de inteligência, citado nos autos.

Outro Lado

O advogado André Callegari, que defende Luciano Cavalcante, negou irregularidades na aquisição do imóvel. "A casa de Luciano tem origem em patrimônio lícito e os recursos não são oriundos ou têm vínculo com a licitação objeto da investigação", afirmou, em nota.