Policiamento direcionado e versões combinadas: por que PF prendeu Silvinei

O ex-diretor da PRF (Polícia Rodoviária Federal) Silvinei Vasques foi preso hoje, e a Polícia Federal citou riscos de interferência nas investigações para justificar o pedido. Ele é suspeito de ter atrapalhado o deslocamento de possíveis eleitores do presidente Lula no Nordeste no dia em que ocorreu o 2º turno, no ano passado.

O que aconteceu

A PF justifica a prisão para que a produção de provas "possa ocorrer de forma clara, precisa e eficaz". O documento, do dia 29 de junho, foi enviado ao ministro do STF Alexandre de Moraes, que autorizou a prisão de Vasques (leia na íntegra a decisão).

A investigação busca esclarecer o "policiamento direcionado" que teria sido determinado por Vasques nas eleições. Em mensagem enviada a um subordinado, o ex-coordenador de análise de inteligência da PRF, Adiel Pereira Alcântara, usou esse termo para falar de uma reunião com Vasques um dia antes do segundo turno.

Vasques teria pedido para a PRF "tomar um lado" nas eleições. Segundo o jornal O Globo, o ex-diretor disse isso em uma reunião da cúpula da PRF em 19 de outubro. A PF cita esta reportagem, mas não apresenta outros indícios de que Vasques fez esse pedido.

A liberdade de Vasques poderia comprometer depoimentos de policiais, segundo a PF. O documento afirma que os superintendentes da PRF à época das eleições, especialmente do Nordeste, devem ser ouvidos juntos, "visando evitar uma combinação de versões".

"É muito provável que haja uma reverência" a Vasques por parte destes agentes, diz a PF, já que foi ele quem os indicou para suas funções na PRF. A Polícia Federal afirma que dois agentes da área de inteligência da PRF teriam mentido em seus interrogatórios para proteger o antigo chefe.

PF quer esclarecer reuniões com Vasques e Torres

Segundo a PF, as blitze do segundo turno podem ter sido planejadas em duas reuniões em 19 de outubro, em Brasília. A primeira, no final da tarde, foi realizada pela cúpula da PRF. A segunda, à noite, envolveu o então ministro da Justiça Anderson Torres.

Na primeira reunião, em que Vasques teria pedido para a PRF "tomar um lado", os dirigentes do órgão foram proibidos de levar celulares. Alguns deles, segundo O Globo, teriam se recusado a assinar presença na reunião devido aos pedidos ilegais do então diretor-geral.

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Já a segunda reunião teria sido no gabinete de Torres no Ministério da Justiça, conforme a PF. Nesse encontro, além de Torres e Vasques, estariam os diretores de inteligência da PRF, Luís Carlos Reischak, e da pasta da Justiça, Marília Alencar, à época.

Planilha reforça a impressão de que o policiamento nas estradas foi direcionado no dia 30 de outubro. Foi Marília Alencar quem levou a Torres, na véspera da reunião, uma planilha com os municípios onde Lula teve mais de 75% dos votos no primeiro turno.

A reunião de Bolsonaro com Silvinei e Torres

Horas após a blitze no 2º turno, Jair Bolsonaro (PL) se reuniu com Silvinei e Torres. O ministro da Justiça e o diretor da PRF à época chegaram juntos ao Palácio da Alvorada — a residência oficial da Presidência da República — em 30 de outubro. É o que mostram registros do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) obtidos pelo UOL.

Encontro ocorreu antes do encerramento da votação. Após votar no Rio de Janeiro, o ex-presidente chegou por volta das 15h30 ao Alvorada, onde acompanhou a apuração.

Às 16h31, Silvinei chegou à residência oficial do presidente juntamente com Anderson Torres. Os dois deixaram o local quase uma hora depois, por volta das 17h20. Preso por quase quatro meses, o ex-ministro da Justiça, que teve uma minuta golpista encontrada em sua casa, é hoje monitorado com tornozeleira eletrônica por suspeita de ter se omitido nos atos de 8 de janeiro.

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Ameaça de prisão. Pouco antes do encontro com Bolsonaro, Silvinei esteve no TSE (Tribunal Superior Eleitotral) por ordem de Alexandre de Moraes, presidente da corte. Na ocasião, o ministro do STF ameaçou prender Silvinei, caso a PRF não liberasse, em até 20 minutos, as vias bloqueadas, segundo informou a revista piauí.

O ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, disse hoje ao UOL News que o PT foi informado da existência de reuniões entre Bolsonaro, Silvinei e Torres pouco antes do segundo turno para tratar das blitze em rodovias no segundo turno.

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