Filho diz que Mãe Bernadete relatou ameaças ao STF semanas antes de morrer
O filho da líder quilombola Bernadete Pacífico, conhecida como Mãe Bernadete, assassinada a tiros nesta quinta-feira (17), lembrou que ela pediu mais segurança e proteção ao STF (Supremo Tribunal Federal) semanas antes de morrer.
O que aconteceu
Wellington Pacífico afirmou que eles já vinham sofrendo ameaças, segundo contou em entrevista ao Jornal Correio, da Bahia. "Ela falou, pediu por mais segurança e eu estava presente no dia. Nós somos perseguidos, as nossas lideranças são mortas. Eu perdi meu único irmão há seis anos e, agora, perco minha mãe da mesma forma, através de execução".
Em julho, Mãe Bernadete reclamou das ameaças em um encontro com a ministra do STF Rosa Weber.
"Acho que quando chega até a morte, a revolta já é muito grande. O descaso das autoridades, principalmente quando se trata do povo negro [...] Recentemente, perdi um outro amigo e amiga de quilombo também. É o que nós recebemos: ameaças. Principalmente, de fazendeiros e de pessoas da região. Hoje, vivo assim: não posso sair que estou sendo revistada, minha casa é toda cercada de câmera, me sinto até mal com um negócio desse. Mas é o que acontece".
Maria Bernadete foi morta a tiros no Quilombo Pitanga dos Palmares. Criminosos teriam invadido o terreiro da comunidade, feito familiares reféns e executado a líder quilombola com disparos de arma de fogo.
Ela é mãe de Flávio Gabriel Pacífico dos Santos, mais conhecido como Binho do Quilombo, assassinado há quase seis anos, no dia 19 de setembro de 2017. O governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues, determinou que as polícias Militar e Civil sejam firmes na investigação.
Em nota, a Conaq (Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas) exigiu que o Estado brasileiro tome medidas imediatas para a proteção das lideranças do Quilombo de Pitanga de Palmares.
O presidente Lula (PT) prestou solidariedade a amigos e familiares de Maria Bernadete e o Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania enviou uma equipe ao estado para investigar a morte da líder quilombola. A Polícia Federal informou que vai apurar o caso. Segundo a PF, a investigação ficará sob sigilo.
A ministra Rosa Weber lamentou "profundamente" a morte de Bernadete Pacífico e cobrou investigações. "As autoridades locais devem adotar providências para o urgente esclarecimento e reparação do acontecido, a fim de que sejam responsabilizados aqueles que patrocinaram o covarde enredo e imediatamente protegidos os familiares de Mãe Bernadete e outras lideranças locais".
Mãe Bernadete, que me falou pessoalmente sobre a violência a que os quilombolas estão expostos e revelou a dor de perder seu filho com 14 tiros dentro da comunidade, foi morta em circunstâncias ainda inexplicadas [...] É absolutamente estarrecedor que os quilombolas, cujos antepassados lutaram com todas as forças e perderam as vidas para fugir da escravidão, ainda hoje vivam em situação de extrema vulnerabilidade em suas terras. Assim como é direito de todos os brasileiros, os quilombolas precisam viver em paz e ter seus direitos individuais respeitados.
Ministra Rosa Weber
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