CPI do 8/1: Depoente é suspeito de financiar atos e defendeu ditadura
A CPI do 8 de Janeiro ouve hoje o empresário ruralista Argino Bedin, suspeito de financiar atos golpistas e que já defendeu a ditadura. Ele é obrigado a comparecer, mas pode ficar em silêncio. Ele teve contas bloqueadas pelo STF (Supremo Tribunal Federal) e foi citado em um relatório da Abin (Agência Brasileira de Inteligência).
O que aconteceu
Chamado de "pai da soja", ele é suspeito de enviar caminhões para engrossar o acampamento em Brasília que pedia intervenção militar. A CPI o chamou como testemunha, mas também investiga a atuação do empresário em outras frentes golpistas.
O ministro Dias Toffoli, do STF, autorizou que ele se cale para não produzir provas contra si mesmo.
Argino já deu entrevistas dizendo que é Bolsonaro "até debaixo d'água". Também defendeu a ditadura militar.
[A ditadura] só não era boa para quem não queria trabalhar.
Argino Bedin ao site O Joio e o Trigo
Ele foi um dos alvos quando o STF determinou o bloqueio de contas de pessoas físicas e jurídicas sob suspeita de financiar a tentativa de golpe. De 43 contas bloqueadas, 24 são de Sorriso (MT), cidade onde o depoente mora.
Segundo relatório da Abin, Mato Grosso foi o estado de onde partiram mais caminhões para engrossar o acampamento em Brasília, respondendo por metade do total. A situação reforça a suspeita do envolvimento de empresários nessa movimentação.
Verificou-se, ainda, que 132 caminhões (48,5%) estão registrados em nome de pessoas jurídicas, o que indica o envolvimento de grupos empresariais no financiamento ao acampamento em frente ao QGEx [Quartel-General do Exército].
Trecho do relatório da Abin sobre o 8/1
O relatório apontou movimentações suspeitas, classificadas pelo Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) como forma de dificultar o rastreamento da origem e do destino do dinheiro.
Além de Argino, mais três integrantes da família Bedin tiveram as contas bloqueadas. São apoiadores de Bolsonaro e doaram, ao todo, R$ 200 mil para a campanha do ex-presidente à reeleição.
O depoente e Bolsonaro posaram para uma foto em Sorriso cheia de símbolos do bolsonarismo: Bedin carrega uma bandeira do Brasil nas costas com um trator estacionado ao fundo.
CPI na reta final
No final de agosto, a relatora da CPI, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), já afirmava que iria atrás dos financiadores do 8/1.
Ontem, ela e seus assessores analisavam documentos para direcionar as perguntas nesta terça. Entre o material estudado, está a quebra de sigilo bancário de Argino e de dois familiares.
A CPI se encaminha para o final, com a leitura do relatório prevista para o dia 17 de outubro. O texto já está em preparação.
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Quero receberOs trabalhos em reta final coincidem com um impasse entre governistas, oposição e a presidência da CPI. As divergências praticamente congelaram as possibilidades de pedir mais quebras de sigilos ou votar outros requerimentos.
O presidente da comissão, deputado Arthur Maia (União-BA), só aceita votar pedidos de interesse dos governistas se forem aceitos nomes que a oposição deseja ouvir.
Ele justifica que a CPI é um instrumento da oposição e não pode ser tomada por governistas. Mas os parlamentares ligados ao governo não aceitam ceder.
Alguns alvos, contudo, já estavam com a convocação aprovada, caso do general Walter Braga Netto, ex-ministro e candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro.
Existe ainda a intenção de o tenente-coronel Mauro Cid ser chamado pela segunda vez. No primeiro depoimento, ele decidiu ficar calado, mas depois fechou uma delação premiada com a Polícia Federal. O conteúdo está em sigilo, mas já se sabe que implicou militares em reuniões golpistas.
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