Democracia venceu, mas atores têm de ser punidos: autoridades falam do 8/1

A democracia saiu fortalecida, mas é preciso punir os envolvidos, inclusive autoridades. Esse é o balanço feito, a pedido do UOL, por especialistas e autoridades, como ministros de Estado, parlamentares e ex-ministros do STF, um ano após a invasão de golpistas às sedes dos Três Poderes.

Rosa Weber, ex-ministra do STF

O ataque à democracia em 8 de janeiro, com a abominável invasão da sede dos Três Poderes e devastação do patrimônio publico —inédito quanto à Suprema Corte em seus quase 200 anos —, há de ser sempre lembrado para que nunca se repita! E deixa como lição a necessidade de incessante cultivo dos valores democráticos e da defesa intransigente do Estado Democrático de Direito.

 A ministra Rosa Weber participa de sua última sessão como presidente do Supremo Tribunal Federal
A ministra Rosa Weber participa de sua última sessão como presidente do Supremo Tribunal Federal Imagem: WILTON JUNIOR/ESTADÃO CONTEÚDO

Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados

A democracia brasileira saiu fortalecida após o 8 de janeiro. Ela se consolidou graças à rápida união dos Três Poderes da República — Legislativo, Executivo e Judiciário. A resposta institucional envolveu uma inquebrantável união entre eles na defesa da democracia. No dia seguinte, o plenário da Câmara dos Deputados deu a melhor resposta que poderia dar naquelas circunstâncias: aprovou as medidas necessárias para ajudar o Executivo naquele momento.

Luiza Helena Trajano, presidente do Conselho do Magazine Luiza

Após os ataques de 8/1, a democracia demonstrou sua resiliência, sustentada por instituições fortes. O povo venceu, e o resultado é o fortalecimento do Brasil.

Luiza Trajano marcou presença na Bienal deste ano
Luiza Trajano marcou presença na Bienal deste ano Imagem: AgNews

José Múcio, ministro da Defesa

Eu acho que houve uma ameaça à democracia, mas ela sobreviveu e saiu fortalecida. Agora precisamos continuar a separar o joio do trigo.

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Senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), líder do governo no Congresso

O 8 de janeiro teve três grandes vítimas: a democracia, o nosso governo e a República. Sabíamos que estava em nossas mãos dar uma resposta para garantir a estabilidade. Já no dia seguinte, o presidente fez uma caminhada na Praça dos Três Poderes, com representantes do Executivo, do Legislativo e do Judiciário, além de governadores de estados. Ao longo de 2023 não faltaram demonstrações de união e solidez de nossas instituições democráticas. Mas o fascismo segue à espreita. É nossa responsabilidade garantir que não retorne.

Flávio Dino, ministro da Justiça e futuro ministro do STF

Não tenho dúvida em afirmar que a Constituição de 1988 e as instituições por ela reguladas sofreram o maior teste de estresse das suas trajetórias. Foram duramente confrontadas e sobreviveram, por isso vejo como um fortalecimento da força normativa da Constituição.

Ministro Flávio Dino segura réplica da Constituição de 1988 roubada do STF em atos golpistas de 8 de janeiro
Ministro Flávio Dino segura réplica da Constituição de 1988 roubada do STF em atos golpistas de 8 de janeiro Imagem: Sergio Lima/AFP

Lindbergh Faria (PT-RJ), vice-líder do governo no Congresso

As questões não estão resolvidas. Não basta dizer que não houve o golpe, que a democracia venceu e ponto final. É fundamental a punição para todos os envolvidos. Não falo isso por vingança, mas por ter certeza de que, sem esses julgamentos, a democracia sai fragilizada e eles vão tentar novamente. É fundamental para restaurar a democracia que haja julgamentos e punição para todos os envolvidos, inclusive generais e militares que participaram da trama.

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Ayres Britto, ex-ministro do STF

O 8 de janeiro serviu para evidenciar que todo aquele divisionismo foi concebido, financiado e orquestrado para a degola da democracia, mas ela resultou vitoriosa, não sucumbiu. Temos de lembrar o 8/1 como uma vitória. A democracia é o princípio dos princípios da Constituição. Se a democracia for varrida do mapa, leva o mapa junto.

Carlos Ayres Britto, ex-ministro do STF
Carlos Ayres Britto, ex-ministro do STF Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress

Sonia Guajajara, ministra dos Povos Indígenas

O ataque evidenciou que há um grupo que não respeita nem valoriza os avanços democráticos que tivemos no país. Porém, também mostrou que há unidade entre as instituições na defesa do Estado Democrático de Direito. Já no dia 9 vimos representantes de todos os 27 estados, parlamentares, Executivo e Judiciário, juntos, dando um recado de união em defesa da democracia.

Guilherme Boulos (PSOL-SP), deputado federal

Com toda certeza nossa democracia saiu fortalecida ao derrotar a ridícula tentativa de golpe que Bolsonaro promoveu. Agora esperamos que o processo avance e que ele seja condenado e preso, assim como seus cúmplices.

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José Álvaro Moisés, cientista político da USP e Unesco

Os democratas brasileiros venceram, mas não está tudo resolvido. Pesquisas mostraram que segmentos importantes do eleitorado desconfiavam das instituições. Me pergunto se essas pessoas tinham conhecimento do papel do STF e do Congresso; de como funciona o Executivo. Se sabem como a democracia funciona. Se as pessoas não entenderem isso, vão achar que as instituições não estão fazendo nada. O sistema educacional, os partidos e demais organizações devem esclarecer a população.

Foto tirada após a invasão de manifestantes golpistas no Senado brasileiro em 8 de janeiro de 2023
Foto tirada após a invasão de manifestantes golpistas no Senado brasileiro em 8 de janeiro de 2023 Imagem: The Washington Post/Getty Image

Ricardo Ismael, cientista político da PUC-Rio e Iuperj

Esse período ainda é muito curto para dizermos que esse episódio está superado, que a sociedade agora vai buscar outros caminhos, que as instituições sabem lidar com esse tipo de situação. Há um aprendizado, sim, mas ele ainda é um processo em curso. Para o fortalecimento da democracia, é importante que todo o processo que acontece no STF seja feito com cuidado. Não cabe no processo penal colocar posições políticas, ideológicas, nada do tipo.

Vera Chaia, cientista política da PUC-SP

A democracia ficou fortalecida. Todas as ações para boicotar lideranças políticas, caluniar e denunciar não estão dando certo para a oposição ao regime democrático, e isso mostra um amadurecimento da nossa democracia.

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Invasão de manifestantes ao Congresso, STF e Palácio do Planalto em 8 de janeiro
Invasão de manifestantes ao Congresso, STF e Palácio do Planalto em 8 de janeiro Imagem: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Wallace de Moraes, historiador e cientista político da UFRJ

O papel fundamental foi cumprido pela grande mídia, que condenou os atos de imediato. Sobre democracia, o governo se consolidou. As instituições se mostraram fortes, resistiram a esse ato golpista e se uniram contra aquela atitude. Mas faço uma separação entre democracia representativa e a democracia social, econômica, participativa. Ainda estamos muito longe de democratizar o acesso à comida, à terra, ao emprego, a salários decentes; de democratizar acesso à vida digna, sem discriminações.

Tathiana Chicarino, cientista política da FESPSP

A democracia saiu um pouco arranhada, um pouco fortalecida. Fortalecida porque, a despeito da tentativa de golpe, as instituições funcionaram e, em especial, a Presidência. Lula, que já havia assumido, permaneceu, e as coisas se desenrolaram da maneira esperada. A outra questão: a tentativa de golpe e importantes atores envolvidos ainda não responsabilizados passam a sensação de que há uma possibilidade de anistia, em especial de agentes, de pessoas das Forças Armadas. Isso deixa a democracia arranhada.

8.jan.2022 - Imagens captadas pelas câmeras do STF mostram que PM só fechou acesso à Praça dos Três Poderes após invasão do Congresso; e pouco depois, recuou
8.jan.2022 - Imagens captadas pelas câmeras do STF mostram que PM só fechou acesso à Praça dos Três Poderes após invasão do Congresso; e pouco depois, recuou Imagem: Sistema de segurança / STF / Reprodução

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