Chegada de Gonet à PGR deve acelerar inquérito do 8/1

Somente "peixes pequenos" foram presos após a invasão às sedes dos três Poderes. A expectativa é que os 'tubarões" —financiadores, militares e mentores dos atos golpistas— sejam responsabilizados somente agora, com a chegada de Paulo Gonet à PGR.

O que acontece

Deputados do PT dizem que a Polícia Federal fará operações contra nomes de peso a partir deste mês. Eles também esperam que o inquérito seja concluído em curto prazo.

Os alvos seriam financiadores, mentores e militares, trazendo para a investigação pessoas com maior importância política e econômica. Até o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) deve estar entre os alvos, avalia a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann.

Um realinhamento político em Brasília coincide com a expectativa de um novo ritmo nas investigações. Esta movimentação começou no ano passado.

Augusto Aras é acusado de travar investigações contra Bolsonaro
Augusto Aras é acusado de travar investigações contra Bolsonaro Imagem: Isac Nóbrega/PR

Blindagem de Aras

Em setembro de 2023, terminou o mandato de Augusto Aras na chefia da PGR (Procuradoria-Geral da República). Ele deixou o cargo desgastado pela pecha de "engavetador" de processos contra Bolsonaro, com quem era alinhado. Aras nunca foi um dos procuradores mais destacados do Ministério Público Federal, mas virou chefe graças a uma escolha pessoal de Bolsonaro.

Dentro da PF, havia o entendimento de que Aras dificultaria operações contra aliados do ex-presidente. Por este motivo, ações de maior repercussão foram adiadas para depois de sua saída, segundo apurou o UOL.

O sistema jurídico contém formas de driblar a blindagem imposta por Aras, mas impõe um custo político. O ministro do STF Alexandre de Moraes precisava contrariar pareceres técnico da PGR para atender aos pedidos de investigação da PF.

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Este movimento fazia a oposição reclamar de perseguição política por parte do STF e alimentava esse tipo de narrativa nas redes sociais.

Autoridades de Brasília esperam que Gonet dê novo ritmo às investigações
Autoridades de Brasília esperam que Gonet dê novo ritmo às investigações Imagem: Lucas Borges Teixeira/UOL

Nova era com Gonet

A expectativa com a entrada de Gonet é de um procurador sem compromissos com Bolsonaro e que remova amarras das apurações. Ele tomou posse em 18 de dezembro, mas só agora vai dar o tom de sua gestão.

A grande pergunta é qual providência ele dará ao relatório da CPI do 8 de Janeiro. Nesse documento, os parlamentares responsabilizaram Bolsonaro, oito generais e um ex-comandante da Marinha, o almirante Almir Garnier Santos.

Foram atribuídos quatro crimes ao ex-presidente e seu nome aparece 268 vezes no documento. O somatório das penas, em caso de condenação, chega a 29 anos. O deputado Rogério Correia (PT-MG), integrante da CPI, afirma que a comissão também dá respaldo político a denúncias contra militares de alta patente, financiadores e Bolsonaro.

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Há um clima para cobrar respostas às invasões com os eventos que marcam um ano da tentativa de golpe de Estado. O entendimento é que a chegada de Gonet se dá num cenário favorável a ações de maior repercussão.

Já a oposição segue afirmando não haver provas contra o ex-presidente. Para eles, uma eventual prisão levará à criação de um mártir político.

Alexandre de Moraes é apontado como a pessoa que dita o ritmo das investigações
Alexandre de Moraes é apontado como a pessoa que dita o ritmo das investigações Imagem: LR Moreira/Secom/TSE

Moraes comanda o calendário

As investigações se revelaram mais complexas e demoradas do que o esperado. A delação do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, tornou a apuração mais complicada. Várias declarações e fatos precisavam ser checados.

A palavra final é de Alexandre de Moraes. O ministro do STF é coordenador dos inquéritos e está no comando dos trabalhos. Um alvo do STF afirmou ao UOL que "tudo acontece no tempo do Xandão". Ele preferiu não se identificar e declarou que a palavra final sempre é de Moraes.

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Só peixe pequeno

Até agora, a PGR solicitou abertura de ação penal contra um único suspeito de financiar os atos golpistas. O pedido ocorreu em 14 de dezembro. Pedro Luis Kurunczi é de Londrina (PR) e teria fretado ônibus para pessoas irem acampar em frente à sede do Exército em Brasília.

Houve 2.170 prisões pelas invasões. Todos eram manifestantes que atenderam às convocações para participarem dos atos golpistas:

243 nas sedes dos Poderes em 8 de janeiro;

1.927 no acampamento em frente ao QG do Exército no dia seguinte.

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Oposição vê 'narrativa da esquerda'

Para a oposição, não há provas das acusações contra Bolsonaro. A ausência de financiadores e organizadores presos seriam um reflexo disso, segundo senadores da oposição que conversaram com o UOL.

A responsabilidade pelas invasões é do governo Lula, afirma o senador Magno Malta (PL-ES), que foi vice-presidente da CPI do 8 de Janeiro. Ele justificou que houve alertas dos serviços de inteligência e não foram tomadas providências.

Inação de G.Dias foi flagrada em câmeras. Ele acrescentou que o ministro responsável pela proteção do Palácio do Planalto estava no local na hora da invasão e nada fez. Imagens do circuito de segurança mostraram o então ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), general Gonçalves Dias, inoperante enquanto manifestantes quebravam o Planalto.

O senador Esperidião Amin (PP-SC) reclamou que a CPI não apurou a omissão do governo Lula. Ele ressaltou que não foi permitido ouvir o ministro da Justiça, Flávio Dino, para saber por que a Força Nacional não foi acionada.

Amin ainda criticou o Ministério da Justiça por não fornecer as imagens de seu circuito interno de segurança. Também havia mais de 200 homens na sede do Ministério da Justiça e eles não foram chamados.

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