Ramagem usou Abin para monitorar denúncias do caso Marielle, aponta PF

A equipe ligada ao ex-diretor Alexandre Ramagem na Abin (Agência Brasileira de Inteligência) monitorou as investigações sobre o assassinato de Marielle Franco, mostram documentos encontrados pela Polícia Federal.

O que aconteceu

A PF encontrou dois documentos impressos na Abin relacionados ao caso. Um deles é um currículo de uma promotora de Justiça do Rio de Janeiro, coordenadora da força-tarefa sobre os homicídios da vereadora e do motorista Anderson Gomes.

O documento é apócrifo, mas a Polícia Federal descobriu que quem o imprimiu foi o policial federal Felipe Arlotta Freitas, que trabalhava no CIN (Centro de Inteligência Nacional), equipe montada por Ramagem.

Há ainda outro documento, impresso pelo ex-diretor Alexandre Ramagem, com uma lista de denúncias recebidas por investigadores sobre quem seriam os supostos mandantes das mortes, segundo fontes da PF. Esse monitoramento do caso Marielle Franco está entre diversas outras ações de inteligência da estrutura que ficou conhecida como "Abin paralela", montada por Ramagem, que deram origem a operação da PF nesta quinta-feira (25).

Policiais federais cumpriram 21 mandados de busca e apreensão, além de medidas cautelares diversas da prisão, incluindo a suspensão imediata do exercício das funções públicas de sete policiais federais. As buscas acontecem em Brasília, Juiz de Fora (MG), São João Del Rei (MG) e Rio de Janeiro.

O que disse Ramagem sobre o caso

Quando chegou a mim a questão da Marielle, eu disse: 'Como é possível?'. Aí verifiquei que não tem nada a ver com o sistema. É o currículo da promotora, e parece que é uma informação que circulou aí. A inteligência é a coleta de dados e de informações. Se tem um servidor, e eu não sei quem acessou, a Polícia Federal tem que verificar quem alimentou e quem é a pessoa que colocou o currículo da promotora. E perguntar a essa pessoa o porquê.
Alexandre Ramagem, em entrevista à GloboNews

Operação mira ex-diretor da Abin

Ramagem é o principal alvo da operação. A PF apontou em relatório entregue ao ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), que ele utilizou sua posição como diretor da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) para "incentivar e encobrir" o uso de um programa espião.

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Os investigadores ainda suspeitam que Ramagem utilizou da estrutura da agência para tentar fazer provas e relatórios em defesa de Flávio e Jair Renan Bolsonaro, filhos do ex-presidente Jair Bolsonaro, e espionar adversários políticos do ex-mandatário, como Joice Hasselmann e Rodrigo Maia, ex-presidente da Câmara.Em decisão que autorizou buscas contra Ramagem, o ministro Alexandre de Moraes classificou a postura do ex-diretor da Abin como de "natureza gravíssima".

A Polícia Federal aponta que ALEXANDRE RAMAGEM utilizou de sua posição de Diretor-Geral da ABIN para incentivar e encobrir a utilização indevida da ferramenta FIRST MILE, bem como - aponta a natureza gravíssima - da sua posição de parlamentar para requisitar informações sobre as investigações subsequentes.
Alexandre de Moraes, ministro do STF

O First Mile é um programa adquirido pela Abin que permite ao usuário rastrear dados de geolocalização de qualquer pessoa a partir dos dados transferidos do celular do indivíduo para torres de comunicação da região. A ferramenta permite o rastreio de até 10 mil pessoas por ano.

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